quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PAÍS EMERGENTE?


Filosoficamente,Mário Quintana enfatizou: viajar é mudar o cenário da solidão. Pensamento tão profundo quanto verdadeiro.Quem viaja carrega consigo as suas inquietudes, neuroses e conflitos emocionais. Abstração feita ao fato de abeberar-se de novos conhecimentos, o paisano há de retornar sobrecarregado nas paletas com as frustrações advindas do contraste da nossa miséria em confronto com a riqueza dos países desenvolvidos. Não sou viajor, mas das poucas vezes em que me aventurei por outras plagas, retornei com esse sentimento negativo. A observação, o estudo e o enfoque sobre a situação dos países de primeiro mundo há de colocar em relevo o nosso vergonhoso atraso. Não obstante o suspeito e comprometido alarido feito pela mídia, a arrogância e os falsos pruridos dos politiqueiros, verdade é que habitamos um país subdesenvolvido, de terceiro mundo, atrelado à miséria e enredado num cipoal de ignorância. A saída? A educação do populacho! Missão impossível frente ao macabro cenário que nos envolve e entorpece.Pelo menos enquanto prevalecerem o voto obrigatório e do analfabeto. Forçoso seria renovar o quadro dos nossos representantes. Colocar fim à corrupção, à malbaratação de verbas, às sinecuras e nepotismo, à reeleição e à demagógica e criminosa propaganda eleitoreira, tudo sob a servil complacência dos tribunais, coniventes com esses escancarados crimes lesa-pátria. É um circulo vicioso, uma eterna ciranda, considerando que é a plebe ignara e semi-analfabeta - maioria maciça da nação - que elege essa canalha. Democracia de fachada essa nossa! Ao profissional politiqueiro, safardana e espertalhão, não interessa educar o povo, seria o fim do voto a cabresto, do curral eleitoreiro, do engodo e do ludíbrio de que se vale para engorde e perpetuação no poder.Restam-nos duas alternativas: o recurso à prece ou a mudança de ares, para regiões ignotas e mais respiráveis, livres, enfim, dessa debacle, da extorsão, dos desvarios e dos assaltos aos cofres públicos perpetrados por essa camarilha que achincalha e empobrece nossa desvalida nação.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

RIDENDO CASTIGAT MORES


Rindo castigam-se os costumes. Retomo a célebre máxima latina para anatematizar certos hábitos hodiernos. Mateando por la matina, vez em quando me ponho a matutar na absurda ausência de personalidade da maioria das criatura. Ressalvadas honrosas exceções , questiono: por que o espírito imitativo constitui costumeira prática nos maneirismos atuais? Seremos todos produtos de fabricação em série? Subprodutos da mesma linha de montagem? Tudo em contraposição ao conceitual de indivíduo, tido como o ser que não admite divisão sem perder suas peculiaridades. Juventude aturdida pela omissão dos que deveriam orientá-la com os exemplos da altivez e do orgulho, próprios de quem se valoriza. Em contraposição,convivemos com uma mocidade desgarrada, à mercê do vicioso modernismo e da incultura. Uniformizada na vestimenta, papagueando chavões através de esdrúxulo linguajar entremeado de gírias funambulescas. Bermudões semoventes, rebeldes por natureza, acocorados frente ao desenfreado consumismo , bonés revirados, tênis e camisetas com aberrantes dísticos americanófilos, cujo significado ignoram; moçoilas, quase todas igualzitas, frívolas, destrambelhadas, desvestidas com provocante roupagem, barriguinhas à mostra,pintas, argolas e tatuagens, malabaristas no cimo de tamancões desmesurados. E os adultos? Madames emperiquitadas nos atavios da vaidade, desequilibradas no alto de pernas de pau em formato de botas ou saltões descomunais, vestidões encortinados, idêntica estamparia, bocas rebocadas de batom. E os varões, travestidos em mesmíssimos trajes de três botões, corte serial e igualitário, enforcados em gravatas de mau gosto e idêntica padronagem. Todos indiferentes ao processo de derrocada da nação,corolário da repulsiva politicagem que se esbalda na sórdida trama de perpetuar no poder os mesmos que se enlamearam num mar de corrupção e safadezas. Triste e alienada geração! Total predominância do simiesco, de par com absoluta ausência de critério e da soberba que haveria de distinguir uns e outros pelo caráter indiviso, altaneiro e personalístico da indivídualidade.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

PÉROLAS DE LUZ


PÉROLAS DE LUZ

Recorte de tango arrabalero:”?Quién se robó mi niñez?” Onde ficaram os alegres tempos de outrora ? Recordar é viver,dizem. Poetas acenam: a vida é uma viagem. Mentira risonha insinuando regresso, passagem ida e volta. Consola reviver dias felizes na cidadezinha onde nasci. Manhãs de cigarras cantando, campos verdejantes, banhos de sanga, em pêlo! Meio-dia, a velha estação repleta de gente alvoroçada. Trem resfolegante, silvos agudos prenunciando a chegada - quem sabe? - da mulher amada. Tardezita, casais de mãos dadas. Os cafés, garçons apondo mesinhas no leito da rua. Bebentes à espreita das donzelas. Flertes, românticos idílios. Noite de lua, cravejada de vagalumes. Cinema antigo, som para a rua, tangos de Gardel, serestas com Orlando Silva, sirene convocando cinéfilos. Depois, uma aportada na zona - porque não? - para milonguear com as percantas.E os bailes? Ah! Que saudade! Boleros, casais agarradinhos na penumbra, ao embalo de melodias imortais. Pausa. Tenebroso apito da locomotiva! O trem chega ao seu destino. Escuridão, gare deserta, ninguém à espera... Não existe volta! Absorto em pensamentos encaro a realidade: o redespertar de quimérico sonho, alma sangrando em mim, a cristalizar pérolas de luz moldadas na nostálgica saudade de um passado que ficou eternizado na lembrança!