sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

BRINDANDO À VIDA


Limiar de um novo ano. Saúde e prosperidade a todos! Corações jubilosos, incandescidos em chamas reaquecedoras de sonhos e de esperanças que se renovam. Planos negligenciados no ano findo, em sequenciais protelações, ora revitalizados em novos projetos e iniciativas. Todo ano é a mesma coisa. Os dias vão passando e a velha força de vontade, então realimentada, tende a esmaecer, extinguindo-se lentamente. Sobrevém as frustrações e o abatimento consequentes ao naufrágio das ilusões e dos ideais acalentados. Urge, então, buscar alento nos magistrais ensinamentos legados por espiritualizados filósofos e doutrinadores, cuja percuciente mística tem atravessado séculos, iluminando gerações. As lições de desprendimento, humildade e sabedoria, tais como preconizadas por esses preclaros mestres, são sendas que se entreabrem aos itinerantes, repontando atalhos para um viver harmônico e desapegado das fruições e frívolas vaidades. Louvados nesses sábios preceitos, ergamos nossos pensamentos para o alto, em reverenciosas evocações, já agora reenergizados pelas efervescentes irradiações de luzes e bênçãos que emanam desses alcandorados seres. E brindemos à vida, em altissonantes preces e vibrações de alegria, pela tão só e contagiante felicidade de existir e cultivar amigos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CAPRICHOS DO DESTINO


Sorte, agente aleatório, capaz de mudar os fados, num lampejo. Creio na destinação, nos caminhos adrede traçados pelo incognoscível. O imponderável corrigindo rumos e transmudando rotas. Há quem ao acaso atribua os fortuitos eventos que norteiam fadários. Seria previsível a sorte? Maquiavel, ferino e mordaz, a equiparava à mulher, aconselhando arrojo e impetuosidade para atraí-la. Tal como em relação ao belo sexo, digo eu, não adianta procurar a sorte: só a fingida indiferença carreia alguma força atrativa! Vida, arte do encontro, segundo Vinícius. Será que penderia a fortuna para os mais encontradiços no meio social? Recursos a oferendas,sacrifícios,trevo de quatro folhas, bobagens... Eficazes seriam: imaginação, pensamento positivo, a lei da atração. Assim como o cavalo encilhado, a “buena suerte” passa e não volta, adstrita a oportunidades e circunstâncias. Muitas invocações, poucos os favorecidos! Afortunados haverão de ser, por fim: os que trazem no olhar o refinado gosto pela vida, o sorriso escancarado de felicidade, pela simples razão de existir e cultivar afetos. Assim serão os espíritos bafejados pelas dádivas, aureolados todos em rútilas vibrações de luz e a espargir bênçãos, num harmonioso convívio com todos os seres vivos que habitam a mãe natureza!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

LUIZ CARLOS PRATES

Escrevi, há tempos, no meu blog, um texto que intitulei de "Libelo contra os Apátridas". Na oportunidade, elogiava um inteligente pronunciamento televisivo feito por Prates, afamado comunicador de Floripa, denunciando o abarrotamento de carros nas vias públicas, como corolário das benesses então oferecidas pelo (des)governo às montadoras. Verberava ele, na ocasião, a aprovação de dilatados prazos e a cobrança de juros escorchantes, para aquisição de veículos. Previa a inadimplência dos ingênuos devedores, hoje uma gritante realidade. Lamentava, ainda, a imprevisão dos menos favorecidos, induzidos pela demagógica medida, na ilusão de desfilarem em carro zero, mesmo habitando casebres. Foi um Deus nos acuda! A mídia se ouriçou, histérica e alvoroçada: “então, pobre não pode ter automóvel?” Os corifeus, que se apascentam de privilégios e sinecuras, se esganiçaram, em alarido! Ora, Prates é conterrâneo, natural de Santiago do Boqueirão. Inclusive, tive a honra de ser por ele entrevistado, em rádio e televisão locais, ao ensejo do lançamento do meu segundo livro "Os Seios de Joana". Desfruta ele de ínvejável prestígio nacional, pelo arrojo e contundência das arremetidas contra o servilismo e a corrupção governamentais! O cenário atual é contristador! Em nosso país reina a miséria e o analfabetismo; o caos na saúde pública; a insegurança e a impunidade, de par com a ostentação e os pruridos de uma casta que se aboletou no poder. O tempo se encarregou de dar razão ao denunciante, comprovando o tirocínio e o patriotismo da sua advertência. As prioridades, todas relegadas a um segundo plano! Em atropelo e geométrica progressão, desponta o automóvel - máquina mortífera - a atravancar ruas e avenidas esburacadas, causando poluição e ceifando preciosas vidas. Mobilidade urbana virou um caos, com transporte público inoperante. Hoje, o que se vê é o criminoso incentivo ao festival do consumismo! Com o assalariado, de minguados recursos, a assumir dívidas impagáveis, em detrimento do sustento familiar, da moradia, da alimentação e da escolaridade dos filhos. Pobre nação a nossa, cujo governo e seus sequazes sobrepõem posses, vaidades, jogatina, copa do mundo e carnaval, acima dos primaciais e relevantes fatores que dignificam e enobrecem o ente humano, na sublime elevação do ser existencial...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ORÁCULO DO PRAZER


Filósofo do sexo e cultor dos carnais prazeres, duvida dos que alardeiam nunca ter falhado! Mentalmente, em cerebrinas lucubrações, tem por vezo desnudar as mulheres, fixado em suas curvilíneas formas. Obcecado pelos seios femininos, adivinha-lhes contornos e alvuras de alabastro, quando ocultos em decotes mais ousados. Perversão? Tara sexual? Falsos moralistas, sobrecenhos franzidos, dedos em riste, escudados em farisaica hipocrisia, poderiam censurar tal atitude, arvorados em defensores dos tabus e preconceitos. Ledo engano! Trata-se apenas de um ardente admirador do belo sexo, dotado de invejável vigor físico e fantasiosa imaginação. Avançado no tempo, sabe que a sexualidade é origem da própria vida e fonte inspiradora de todas as artes! Convicto de que o exercício e a mantença dessa energia vital, que se irradia da mente para o corpo, é força motriz determinante na prevenção da velhice e preservação da espécie. Coloca-se ele, assim, em absoluta sintonia com os costumes libertários da modernidade, em que o erotismo, a libido, a excitação e a nudez são chamarizes do vestuário feminil, das manchetes das revistas e das provocantes cenas de sexo explícito, largamente difundidas nos cinemas, filmes e novelas de TV. O sexo move o mundo! Por isso estamos aqui...

sábado, 19 de novembro de 2011

HOMENAGEM PÓSTUMA

Na minha distante Floripa, computador desativado por reformas domésticas, passei dias absorto em corriqueiros projetos e desligado das ocorrências mundanas. Qual não foi a minha surpresa, ao tomar ciência, a destempo, da infausta notícia alusiva ao passamento do nosso pranteado Chicão,ex-prefeito de Santiago e dinâmico deputado estadual! Figura carismática e retilínea, dotado de invejável espírito de liderança, realizador emérito, irradiava simpatia e granjeava geral admiração de todos os que dele se acercavam. Já escrevi alhures, a vida é breve, cheia de imprevistos e a parca não avisa quando vem... Daí porque me valho deste blog para, entristecido e com involuntário retardo, solidarizar-me com os meus queridos conterrâneos pela irreparável perda, expressando meus doridos sentimentos de pesar à família enlutada.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

MESA DE BAR


Copos de uísque na mão, amigos refletem sobre os tempos modernos. Entre um gole e outro, envoltos pela fumaça dos cigarros, deblateram contra a libertinagem e fim do romantismo. País sem memória, sustenta um: americanizado, com linguajar e trejeitos imitativos dos costumes alienígenas; baladas, DJs, música eletrônica, poluição sonora, ridículos requebros, sexo promíscuo, drogas... Já o outro, desiludido, critica as mulheres de hoje: maioria padronizada, como se saídas de uma mesma linha de montagem e fabricação em série; equilibradas em pernas de pau e desvestidas da simplicidade dos vestidos que antes ornavam suas majestosas silhuetas. Feitas essas colocações, mais doses duplas do precioso líquido, ambos mergulham em nostálgicas recordações dos idílicos romances de outrora, da música brasileira, dos bailes em que os pares dançavam bem agarradinhos, ao som de afinadas orquestras e ao embalo de sussurros entrecortados por ternas declarações de amor, ciciadas aos arrepiados ouvidos das perfumosas donzelas. Piscar de luzes e arrastar de mesas põem fim ao colorido sonho! Sinalizam o adiantado da hora e fechamento do bar. Sorumbáticos e deprimidos, pagam a conta e se despedem, identificados pela mesma agônica e torturante saudade de um tempo feliz que não volta mais...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

TANGENCIANDO VERDADES


Folga para críticas à politicagem, corrupção e desgovernos. Embora reine o caos no País da impunidade! Ineficazes os libelos, a revolta e a indignação. A ovelha perde o pêlo mas não perde o vício. Volto-me para amenidades, saudando o despertar da natureza e o reflorescer primaveril. Revivo o bucolismo das cidades interioranas, seus costumes provincianos, a vida transcorrendo tranquila, a despacito no más! Casais enamorados, beijos roubados ao entardecer. Sexo com as donzelas nem pensar! Quando muito, mãos trêmulas acariciando seios alabastrinos. Temor do “casamento na polícia”, o cristão, estremunhado, levado ao sacrifício, em holocausto pelo abuso praticado. Resquícios da repressão sexual, verdadeiro agravo aos sadios princípios biológicos, fator determinante das neuroses e mais enfermidades da alma e do corpo. Daí porque julgo oportuno trazer à baila pertinentes considerações feitas pelo prefaciador do meu livro “Os Seios de Joana”, a propósito dos preconceitos sexuais e da falsa moralidade ainda predominantes: azar, dizia ele, dos que são lerdos ou não gostam de sexo, pois a dinâmica da vida não perdoa os que dormem (sozinhos). Ao socorrer-se de Oscar Wilde, admoestava, por fim, que não se deve resistir às tentações, pois pode ser que elas não voltem...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

TIEMPOS VIEJOS


Lembro do Santiago antigo, terra dos meus amores! Verão, tempos de cadeiras nas calçadas, portas e janelas escancaradas, noites de enlevo e feitiçaria, sob o céu mais estrelejado que alguém já viu. Lua cheia clareando o pago, bandos de vagalumes cintilando ao derredor, prosas intermináveis, brincadeiras de roda, alarido de crianças. Invernias também, com o Minuano soprando nas frinchas, cinema à noite, cafés apinhados de gente, o conhaque rolando para aquecer macetas. E os idílicos romances de então? A saída da missa das dez, flertes, passeios na avenida, casais de mãos dadas; a música romântica, os bailes, a poesia do bolero antigo, pares revoluteando, agarradinhos, a segredar ternuras, murmurando afetos... Pausa! Cai o pano. Outro cenário agora: era um tempo de serenatas, paixões abrasadoras, tresloucados sonhos! Fins de afogar as mágoas, fugidias incursões à zona, para milonguear com as percantas. Ah! o fetiche daquelas noites de antanho! As ruelas lamacentas, a chuva miúda caindo, caindo de mansinho, a molhar fartas melenas. O compasso arrabalero do tango excitando carnes e acerbando anelos; e o trago, o velho trago de sempre, ao aconchego da china, beijo cheirando a cerveja e a dulçura, o recuerdo de um mundo encantado, que, talvez, nunca mais, ninguém veja...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

NOS ESCANINHOS DA MENTE


Sabido que o passado condena, expiando culpas! No tribunal das consciências, acontecimentos passados não se furtam de sofrer julgamentos. De maneira intermitente, assomam à memória fatos que turvam o quotidiano, sentenciados por decisões irrecorríveis. Negativas lembranças obscurecem a serenidade do espírito, dando lugar a remorsos e contrições, acinzentando dias que deveriam ser ensolarados. Daí porque, volta e meia, nos penitenciamos através de questionamentos e indagações: por que não convivemos melhor com afetos que nos deixaram? Por que não nos dedicamos mais a amigos necessitados, que ficaram na saudade? Por que, desagradecidos, mal retribuímos o zelo das atenções e benesses recebidas? Por que, finalmente, não desviamos de rotas que nos levaram a tortuosos descaminhos? São tardias perguntas que se nos afligem, desnudando os despropósitos de então, nossa imaturidade e o vazio existencial. Dessas reflexões, deflui uma inarredável conclusão: somos, inexoravelmente, vítimas de pesarosos recuerdos que se avolumam em torvelinho, toldando nossa felicidade com a amargura do intempestivo retrospecto vivencial. Recordar, então, não seria viver; mas sim debater-se em tormentosos pesadelos, naufragados todos em oceânicas agonias, arrependimentos, desilusões...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

NO PICADEIRO DA VIDA


Geração desnorteada. Pais deveriam educar pela força do exemplo. Tempos houve em que faziam sacrifício pelos filhos! Hoje, com recursos da cosmética, cirurgias plásticas e maior longevidade, mudaram os hábitos. Mães, outrora havidas como decrépitas vovós, hoje pavoneiam nos shoppings e baladas, na ilusão de preservar uma juventude esmaecida. E os maridos, coniventes com a prática de enganar a marcha do tempo, são coadjuvantes nessa peça encenada nos palcos da vida. Invocável o “ridendo castigat mores”, frase de Molière, para glosa desse tragicômico cenário. Só pelo riso poderiam ser castigados os costumes do borboleteio feminil! Atualíssima a velha recomendação: nunca assobie para a mulher que está saindo do salão de beleza, pode ser a sua avó! Para o bem da harmonia do lar, válido romper as maneias que apresilham os vitimados pelo voejar das madames. “De repente, livre dos grilhões ferinos/e assim liberto dos sociais enleios, /pode o homem, entoando hinos, refocilar-se à toa, em devaneios...”, antigos versos meus, trazidos à colação. Mesmo pagando alto preço pela liberdade, incumbiria ao varão, qual Quixote hodierno, de lança em riste, arremeter contra os femíneos descaminhos, fazendo prevalecer a voz da razão, para resguardo dos sagrados liames familiares.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DA NECESSIDADE DE SE ILUDIR


Vivemos de expectativas, pensando no amanhã, desligados do dia presente. A fantasiar quimeras, jamais satisfeitos com aquilo que temos. Propositada, aqui, a secular advertência dos sábios hindus: nem todo o ouro do mundo nem todas as mulheres são suficientes para um só homem! A vida em sociedade é nascedouro de competições, com seu cortejo de emulações e rivalidades. Disputas por cargos, posições, honrarias... Pecúnia, força atrativa de bajulações e ciumeiras. Por detrás desse grotesco cenário de mesquinharias, coexiste formidando arsenal forjador de estultices: a “imprensa marrom” e a máquina fazedora de sonhos - a televisão. A primeira, genuflexa e comprometida, zelosa em babujar poderosos; a outra, cujos canais abertos são fabriquetas de sonho, diligente na trama de entorpecer legião de incautos, com suas frívolas novelas e baixarias. Forçoso exorcizar esse conjuro! Pés assentes no chão, despertos dessa ardilosa fixação no fausto e na riqueza, para ilusória miragem dos desvalidos. É tempo ainda de reciclagem, olhos fitos na realidade, para retempero de energias e aprimoramento do caráter. Só assim, ao reformular conceitos, espargindo afetos, poderá o ser humano se capacitar de que a felicidade consiste no simples fato de existir e vivenciar amores.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

PALAVRAS AO VENTO


No princípio era o verbo. Mas poucos avaliam o poder da palavra, ao materializar pensamentos. Sua carga energética flexiona alternâncias entre o mal e o bem, modificando vivências e transmudando destinos. Com o avanço da tecnologia, mais se acentua o descaso com a fala, eivada de bestialógicas distorções inspiradas no incentivo governamental. A seu turno, a virtualidade desfavorece o apego à leitura e desestimula os cuidados com o vernáculo. A maioria despreza as potencialidades da internet! Ao ignorar esse precioso cabedal de cultura, opta pelo lixo digital e emprego de expressões chulas, entremeadas de frivolidades. Por relevante o intercâmbio de idéias, impenderia melhor se dedicasse o homem ao aprimoramento do diálogo. A comunicação oral ou escrita tem sido fator determinante na evolução do conhecimento universal. Felizes os que cultivam o pensamento positivo, disciplinando escolhas mentais e exorcizando negativismos. A prática do elogio e reafirmação da auto-estima, como fontes vibracionais do espírito, são bálsamos de cura e energização individual. Palavras minhas agora lançadas ao vento e movidas pelo propósito único de me associar àqueles que clamam pelo retempero da fala e correção do idioma, qualificado este como fundamento basilar da nossa soberania.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

PÃO E CIRCO


Brasil, país favorecido pela natureza, em contraste com os flagelos que atormentam outras nações. Consta que Deus, criticado por essa discriminação, teria retorquido: “É, mas vejam o povinho que eu lá coloquei...” Piada infame, mas com foros de verdade. População alienada, rindo da própria desgraça, a eleger beócios e safardanas. Democracia não é compatível com burrice! Daí o cirandar da politicagem, casta aboletada no poder. A essa camarilha de sotretas não convém educar a plebe. Quanto mais tiriricas, melhor! Pão e circo para a patuléia! Primado da corrupção, da insegurança, da impunidade. Saneamento, saúde pública, um descalabro! Cenário mascarado pela mídia conivente, favorecida pelas sobras do banquete. Governantes e confrades num mar de desvarios, em desperdícios com turismo camuflado e comitivas de camaleões embasbacados. Educação relegada a plano secundário, professores com salário de fome. Estados falidos pela inoperância de politiqueiros que só pensam em reeleição, nepotismo e sinecuras. Alguns haverão de contrapor: por que não falar em flores? Bonito, às vezes faço isso. Mas num país naufragado na miséria, vez em quando falta inspiração. Ganas de vociferar, na esperança de que a indignação refloresça em bênçãos de luz para uma população desguarnecida...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ENFUNANDO VELAS


Metáfora de rara beleza: a vida é uma viagem! Sem retorno. Passagem só de ida, em navio que ruma para um inexorável destino, a morte. Em cada porto, uma sucessão de acasos: passageiros embarcando, outros descendo, alguns lançados ao mar durante a travessia... A bordo, despedidas, novas amizades, conquistas, desenganos... Durante o percurso, escotilhas descortinam céu azul ou maresias, entremeando luzes e temporais. A existência não pode prescindir do conhecimento. As marés da vida aniquilam os fracos, revigorando os fortes. O fadário aponta para uma nova realidade comportamental, ancorada nos fundamentos do carpe diem. Usufruir o aqui e agora, atentos a inefáveis gozos e carnais anelos, posto que a ninguém é dado saber do dia de amanhã. O presente, como o próprio nome indica, deve ser encarado como um regalo, com mesclas de contubérnio e afeto. Curvo-me à assertiva que adverte: “vive cada jornada como se fosse a última, pois um dia você acerta”! Deixando de lado macambúzias divagações, um farol existencial há de orientar os navegantes para uma vida estreme de melindres e ostentações. Bom demais é tocar o remo devagar, barco ondulando ao sopro da brisa leve e calmarias, num verde mar de esperanças, livre dos rochedos e distanciado do ilusório canto das sereias.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

FALSAS APARÊNCIAS





De longe, núcleos familiares parecem redutos celestiais, onde reinam a paz e a concórdia. Não obstante, medram ali perfídias, discórdias e intolerâncias. Guardadas as proporções, propala a mídia que o nosso país vive num mar de rosas. Alardeia que saúde, educação, segurança, tudo estaria sob controle. Corifeus sustentam ser a corrupção coisa de rotina! Esses despautérios me fazem lembrar de Saramago, in “Ensaio sobre a Cegueira”, quando retrata o colapso da sociedade. Cegos, estaríamos nós também? As incongruências são evidentes. Prova disso o noticiário televisivo. Nauseabunda a veiculação de horrores envolvendo crimes hediondos, roubos e falcatruas! Revolta constatar a bovina complacência das autoridades. Assim como acorrem, embezerradas, fanáticas multidões aos campos de futebol, por que não se arregimenta essa legião de párias a clamar por urgentes providências para solver o caos da insegurança? Politicagem repugnante, país assolado pela miséria! Partidos são trampolins para safadezas. Bem comum, ideário, desprendimento, o que é isso? Políticos, em sua maioria, só pensam naquilo: reeleição e vantagens! Useiros no vezo do nepotismo, da sinecura e do compadresco. Contumazes nas práticas da demagogia, ludíbrio da plebe e absoluto descaso com a coisa pública.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

TARDE GRIS


Abomino a invernia! Debandei do pago, como retirante em fuga, banido pela inclemência do clima, dos dias invernosos, sombrios e acinzentados. Belíssimo tango emoldura esse cenário, num lacrimoso e nostálgico recorte: “Qué ganas de llorar en esta tarde gris...” Maior o frio, mais se encolhem as criaturas, fungando, encorujadas nos seus tugúrios, em depressivo recolhimento. Ruas desertas, bares e restaurantes vazios, a natureza silente e apassivada, em recesso! Tempos de hibernação, a dormitar feito ursos, à espreita do verão. Só gostam dessa gelidez os que desapreciam os belos contornos feminis: na frialdade, as mulheres sonegam ao visual sua maciez de pele e curvilíneas formas, ocultas debaixo de lãs e casacões! Quando resplandece o sol, na tepidez dos trópicos, tudo é festa, estuante é o amor, ao despertar de ardências e febris desejos, em exaltações ao renascer da vida. Cariocas e nordestinos são admirados pelo bom humor. E nós, aqui do Sul, pela introspecção e belicosidade. Mas nem tudo está perdido: resta-nos o consolo da gastronomia farta, da opulência das massas, dos saborosos queijos e capitosos vinhos. Tudo ao calor de crepitantes chamas nas lareiras, cujas labaredas nos mantêm reflexivos, a filosofar sobre as lições que nos traz o tempo com suas mudanças.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CONVITE AO DESPRAZER


Drogas e o tráfico, permanente assunto da atualidade. FHC defendeu a descriminalização do uso da maconha. Declaração polêmica e controversa! Arguiu a falência do sistema, sustentando alavancar a disseminação da droga, com aumento da traficância. Fenômeno similar, acrescento, ao avanço da corrupção e da safadeza: há dois mil anos as religiões pregam o amor ao próximo, sem resultado. Parece ter soado o alarme da inoperância da política de retaliação, que estaria a exigir uma correção de rumos. A sociedade, forjadora de conflitos, fomenta o consumo da droga, como recurso extremo para apaziguar angústias. Mazelas agravadas por problemas familiares, indiferença, baixa estima, competição... Brutais os males intercorrentes: formação de gangues, promiscuidade, violência, morticínio! Sob o influxo da droga, mata-se friamente, com requintes de perversidade; assaltos, sequestros e estupros são perpetrados sob o estigma do vício! Descriminalizar, dizem, não significaria legalizar. Cogitar-se-ia apenas de normatizar o cultivo e o consumo da maconha. Verdade que não é prazer aquilo que se reconverte em dor. Impenderia investigar os fatores determinantes dos desajustes psicossociais, represando a compulsiva fuga da realidade, o convite ao desprazer. Regulamentado o uso da erva e seu cultivo, há quem alegue resultaria a redução do número de dependentes. A tese não é de todo convincente. Sem usuário, não há droga! Eis aí o fulcro da questão. Impõe-se redobrar a vigilância fronteiriça e redirecionar o enfoque para reprimir consumo, através de campanhas educacionais e aplicação de penas alternativas aos dependentes. Utopia? Sonho de uma noite de verão? Desgraçadamente, prospera um forte comércio da droga, bem acobertado por inconfessáveis interesses de poderosos, mancomunados com quadrilheiros e traficantes.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

NA ROLETA DA VIDA


A invenção da roda constituiu progresso e convite à obesidade. Com refinada ironia, alguém disse: o cavalo já foi um erro... Automóvel, sonho e fantasia do brasileiro! Antes, propriedade exclusiva de abastados; hoje, objeto de consumo ao alcance da maioria. Símbolo de poder e ascensão social! Corolário disso: sedentarismo, ruas abarrotadas, engarrafamentos, ruídos infernais, emissão de gases tóxicos e asfixiantes, empestando a atmosfera. Coquetel de malefícios, cujos prejuízos orgânicos e emocionais trazem danos à saúde e ao erário. O tropel de mortandade, que o carro acarreta, pode ser equiparado aos extermínios por armas de fogo! A progressiva potência acelerativa dos novos motores possui similitude com máquinas mortíferas, em mãos de irresponsáveis! Impõe-se, assim, a educação de trânsito nas escolas, a necessidade de melhor critério seletivo para habilitações, bem como a exigibilidade de rigorosos testes psicológicos para futuros candidatos. Apesar dos pesares, eu me confesso cativo admirador dos veículos automotores, da sua aerodinâmica, funcionalidade e conforto. Acima de tudo, da faculdade que nos proporcionam de esvoaçar caminhos, galgar distâncias e aproximar espaços, ao embalo de asas libertárias, tangidas pelo estrídulo ruflar dos ventos estradeiros.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

ENSAIO SOBRE O TORPOR


O bem-estar físico depende do emocional. Doenças são de natureza psicossomática e decorrem da influência de fatores psicológicos sobre os processos orgânicos. Indispensável a paz interior, o harmônico equilíbrio espiritual com o meio ambiente. A receita: prevenir neuroses e conviver bem consigo próprio! O solitário Bukowski alardeava ser boa companhia para ele mesmo! Reich preconizava a terapia do orgasmo libertário! Alternativas? Por que não desprezar o torpedeio de notícias e mazelas que atordoam o nosso quotidiano? Exceções à parte, predomina o sensacionalismo, o sinistro caudal informativo veiculado pela mídia, provocando avarias na saúde mental do ser humano. Avalanches noticiosas trombeteiam o escabroso, a corrupção, a impunidade e os crimes hediondos, de molde a comportar uma análise mais acurada sobre a etiologia do sadismo. E os filmes na TV? Violência inaudita, trucidamentos, morticínio, acidentes, lobisomens, vampirismo... Envenenados pelo fragor dessa fétida descarga, corpo e alma se agitam, desalinhados, em descompasso. A saída? Criteriosa seleção ou total desligamento. Desconectado da sordidez desse massacre, só então poderá o espírito voejar nas culminâncias dos sociais enlevos, fruindo a sublimidade dos gozos inerentes à beatitude universal

quinta-feira, 21 de julho de 2011

CRIME E CASTIGO


Perdoem o desabafo, mas se me afigura criminosa a servil complacência dos governículos no concernente à segurança, saúde , educação e saneamento básico. Não obstante a poderosa carga propagandística oficial, pregoeira de um falso desenvolvimento , verdade que reina a miséria em nossa combalida nação. A corrupção e a impunidade campeiam, livremente. Inflação de novo, em alta. Triste exemplo vem lá de cima, das hostes plalacianas. Politicóides - sempre os mesmos - a forrar seus alforges e a rirem, desbragadamente, nos convescotes, reuniões, passeios turísticos e festanças realizadas com o dinheiro público. É um Deus nos acuda, um salve-se quem puder! Políticos e seus apadrinhados a engordarem com polpudos sub$ídios, enquando pobres assalariados percebem irrisória remuneração, em afronta aos mais comezinhos princípios da equidade. Manifestamente ilusório o progresso alardeado pelos apátridas e vendilhões do templo, distorcendo uma conjuntura que discrepa, flagrantemente, da nossa realidade fática. Tais mistificações subestimam a mediana inteligência de um povo que definha à míngua de recursos elementares para sua subsistência. A segurança é caótica. Urge uma reforma da lei penal e vigorosa contraofensiva de parte dos responsáveis, aliada à adoção de penas draconianas, com severa punição e castigo exemplar aos infratores. Até aqui, tudo errado: com o desarme dos cidadãos de bem e ferrada até os dentes a marginália, com metralhadoras e arsenal de grosso calibre! População confinada atrás de muros, grades e arame farpado, delinquentes à solta, nas ruas, assaltando e roubando, impunemente. Policiamento preventivo inexistente, à falta de recursos materiais e humanos para fazer frente à bandidagem. Cofres públicos raspados por força de desvios, sinecuras, nepotismo, reformas desnecessárias, obras suntuosas, de par com a incompetência da maioria dos nossos representantes. A educação, o ensino público, um descalabro. Ah! dirão alguns ingênuos e desavisados: vamos sediar a copa do mundo e seremos campeões...Grande coisa! Enquanto isso, vultosas verbas são carreadas para financiar a construção de imponentes estádios de futebol, com malversação de recursos, em detrimento dos primordiais valores que haveriam de beneficiar uma população desassistida e carente do mínimo essencial para sua sobrevivência. Esse, afinal, o castigo pela alienação, inoperância e passividade de um povo submisso e explorado pelos politiqueiros e espertalhões de sempre.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

DESVALIA DA POSE


Levar vantagem em tudo, a regra. Desapego, hoje, figura de retórica! Criaturas voltadas para si, ególatras por ambição. Venerado como um deus, o vil metal rege o conturbado viver de uma maioria fixada em poses e aparências. Pobres de espírito, ensimesmados, a se enlamear no lodaçal das suas vaidades... A vaguear, obcecados pela imagem refletida nos olhos dos outros. Caprichoso, o destino cedo ou tarde irá despertá-los do torpor dessa miragem. A empáfia e a arrogância, próprias desse frívolo proceder, trazem à baila o escárnio de Fernando Pessoa: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada...” Ou a ferina ironia de Schopenhauer, ao relatar os atos de execução de um condenado à morte, que havia solicitado, como último desejo, lhe fosse permitido tomar banho e fazer a barba. Indagava o filósofo: que importância teria, para um imbecil que ia morrer, o que dele poderiam pensar os assistentes, um bando de paspalhos? Coloco em realce tais adendos para evidenciar os males que infernizam o existencial, advindos da soberba, ganância e emulações, abundantes nas relações interpessoais. Na esperança de que este libelo contra essas aberrações há de contribuir para um ideal fortalecimento dos sagrados laços de afetividade e fraternal convívio no âmbito familiar e societário.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

CRENDICES E SERVILISMO



O mundo está de cabeça para baixo. Valores invertidos, o inusitado acontecendo. A torrente noticiosa por vezes atordoa. Fruto da globalização, uma diuturna caudal informativa agride nossos cerebelos. Acidentes, roubalheira, assaltos, politicagem, corrupção, fratricídios e mais uma hecatombe de flagelos a conturbar a vida terrestre. Alguém já disse: se os preceitos religiosos surtissem benefícios sobre a crendice, a humanidade estaria salva! Não obstante, já lá vão mais de dois mil anos de fanatismos, trombeteios, pregações e catequeses, sem resultado! Contraproducente o efeito, à luz do transcorrer dos séculos. É o homem se autodestruindo e emporcalhando a natureza, que reage, com maremotos, furacões e alagamentos, a recobrar o espaço que lhe foi subtraído. Em contrapartida, ressalta o poder de mando do país mais armamentista do mundo, soberano de todas as vontades. Antes liderado pelo prepotente Bush, deus da guerra, agora por seu seguidor Obama. Obcecados, ambos, pela sede de poder e responsáveis por uma avalanche de crimes, intervenções e trucidamentos. Sob a sanha de interesses mercantis e eleitoreiros e acobertados pela complacência e servilismo da ONU, cujo primacial dever seria zelar pela paz mundial e garantia dos direitos fundamentais do ser humano.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

APOLOGIA DO MATRIARCADO


Prenunciei a depreciação do macho e o retorno à sociedade matriarcal. Em tom provocativo, deplorei a domesticação do marido, de avental, a cozinhar, trocar fraldas e cuidar da filharada. Daí a frequentar salões de beleza e usar bolsa a tiracolo foi um passo... Já disse alhures, com as esposas distantes do recesso do lar, ganharam as matriarcas, perderam os filhos! Profetizei a futura geração da prole em laboratório, livre da conjunção carnal, reduzido o "varão" a mera figura decorativa. Falando sério, hoje pontificam e governam as madames, maridos genuflexos e desmoralizados, projetando falsas aparências de chefes do lar. E todos nós, agora, governados por uma Presidenta! As mulheres já vinham, de longa data, disfarçadamente, empunhando o cetro familiar. Plenipotenciárias na área doméstica, glorificadas como deusas, detentoras da última palavra e discricionário poder de mando! Relevem as brincadeiras provocativas. Resguardado em legítima defesa putativa, apresto-me em rejeitar eventual apodo de machista, declarando-me cativo e submisso admirador do belo sexo. E solidário com a sua inconteste liderança! Todavia, quedei preocupado com meus presságios, ao ler, tempos atrás, notícia da aparição de uma galinha macho em galinheiro americano, cuja penosa teria desenvolvido enorme crista e longas penas no rabo, despertando a vizinhança com cacarejos matinais. Os invocados precedentes e mais a fenomênica reversão galinácea, recomendam a nós, homens, desde já, colocarmos as nossas barbas de molho...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

CARPE DIEM


Desiludido com a alienação e miséria reinantes, ensarilhei armas buscando refúgio no aprimoramento interior. A despacito, penso ter evoluído: tornei-me agnóstico, hedonista e adepto do carpe diem. Sócrates já preconizara: conhece-te a ti mesmo. Esse o caminho! Cioso do aqui e agora e convicto de que a ninguém é dado saber do dia de amanhã. Nem de onde viemos nem para onde vamos. A vida é fugaz, a morte é certa e a mocidade mera fase de transição. Cedo ou tarde, é fatal, nossa transmutação para macróbios há de sobrevir. Aquele que não envelheceu é porque virou defunctus. Aleluia, então! Vivamos o presente, colhamos o dia atual, menos preocupados com o porvir e cientes de que saúde e liberdade constituem a suprema glória, pressupostos da sonhada felicidade. Tudo o mais é passageiro. Inclusive nós outros, pobres mortais, obstinados em não encarar a realidade da finitude humana, porque aferrados a questiúnculas, posses e frívolas vaidades. Saudosismo de lado, a vida perdeu em qualidade quando a ambição ganhou espaço. Houve tempo em que navegávamos num mar de rosas, vida leve, a favor dos ventos. Não existia inflação nem o acirrado animus de investir, que amesquinhou as criaturas com a sofreguidão da poupança e o pensamento voltado só para o amanhã, que talvez nunca chegue...

terça-feira, 14 de junho de 2011

GERAÇÃO PERDIDA


Gaiarsa, terapeuta, escreveu “A Família de que se Fala e a Família de que se Sofre”. Título mal posto, má redação, mas de conteúdo atual. Denunciou o núcleo familiar como fonte de desagregação; instituição decadente, não mais a célula-mater conceituada por Rui. Causa primeira, a liberalização da mulher, hoje atuante em todas as frentes, mas ausente do lar. Ganhou a matriarca, perderam os filhos! Sobejam adolescentes indisciplinados, rebeldes, à mercê das drogas, dentre elas o computador, escravizados a celulares e mais uma parafernália maquinal imposta pelas leis de consumo. Faltas escolares, o deboche e o desrespeito aos mestres. Ninguém mais lê, inexiste o diálogo! Prole criada ao léu, autoritária, soberana de todas as vontades! Fixada em programações incitadoras da violência, formando uma amedrontada geração de tímidos e neuróticos. Daí a apatia, as más companhias e a carência da afectio familiae. Inversão total de valores! Houve tempo em que os progenitores infundiam respeito. Origem desses conflitos: ressalvadas honrosas exceções, pais e mães omissos, indiferentes, alheios, descurando do seu dever de educadores. Forjando uma legião de jovens desnorteada, tomando conta das ruas e casas noturnas, enquanto seus ascendentes se encolhem, esquálidos de espanto...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

ODE AO ÓCIO


“Comerás o pão com o suor do teu rosto”! Preceito bíblico questionável. Castigo infligido ao pecado original, historinha pueril, fonte maleva da repressão sexual. Etiologia das neuroses e mais doenças psicossomáticas. A sentença imperativa do trabalho decorreu da comilança da maçã (gen 3.19). Pena por demais severa imputável à degustação de fruta prazerosa e saudável! Em contrapartida temos o ócio, a quem os gregos consagravam como a mais pura atividade espiritual. Empregavam o contraponto “nec-ocio” (negócio) para atividades lucrativas, tidas por desprezíveis. Os nobres de antanho consideravam indigno o trabalho, que então só era exercido pela plebe e pelos escravos. A civilização perverteu o sentido e inverteu conceitos. Aristóteles chegou a afirmar que “a felicidade parece residir no ócio”. Assim equiparado a uma existência livre, solidão por companheira, subproduto da criatividade. Fazendo remissão ao mandamus divino, bom mesmo é comer sem fazer força nem transpirar. Prova cabal dessa assertiva o exemplo do planalto brasiliense, a colocar por terra a ilusória assertiva de que o trabalho dignifica e enobrece. Lá predomina o ócio. É onde viceja o mais fidedigno representante de uma privilegiada casta deitada em berço esplêndido, a fazer turismo e a mamar nas combalidas tetas públicas.

terça-feira, 24 de maio de 2011

INSEGURANÇA E IMPUNIDADE


“Te acordás hermano, que tiempos aquellos”! Lembro do meu Santiago antigo, quando inexistiam grades e as pessoas eram confiáveis, com a mais valia do fio de barba selando tratativas. Tempos de cadeiras nas calçadas, prosas à luz da lua, com as casas de janelas abertas e portas escancaradas para a rua. Eram noites de encantamento, sob o céu mais lindo e estrelejado que um vivente já descortinou. Em contrapartida, salta aos olhos o quadro contristador dos nossos dias. A insegurança campeia, sob o manto da impunidade. Os marginais roubam e matam com requintes de selvageria e perversidade. Urge modificar a legislação vigente, estipulando-se penas draconianas para os delinqüentes. Cadeia e relhaço neles, sem contemplação! Por sua vez, a droga é mercadejada até mesmo sob os auspícios de parlamentares. Faz-se vista grossa ao contrabando de armas, cujos arsenais atravessam livremente as nossas fronteiras, municiando e tornando imbatíveis os infratores. Claro, os responsáveis por essa desdita estão bem acobertados, assistindo de camarote ao funambulesco espetáculo de um país em derrocada. Cercados e protegidos por seguranças, circulam em seus carrões blindados, ridentes e fagueiros, enquanto a população, desamparada, clama e geme por dias mais tranqüilos.

terça-feira, 17 de maio de 2011

NO RASTRO DA LOUCURA



Difícil encontrar gente normal! Realmente, raras as pessoas sensatas, de juízo perfeito. Erasmo de Rotterdam escreveu o “Elogio da Loucura”, livro consagrado através dos séculos, com substrato de marcante atualidade. Acerba crítica aos tradicionais valores, preconizando a libertação, o prazer e o desprezo à opressiva racionalidade. Personificada na obra, a loucura se expressava dizendo habitar o casamento, as leis, a ciência, as artes e a religião, como regente da política, do urbanismo e das relações humanas, incriminando a sabedoria como veneno da vida. Felizes, indago, seriam somente os mentecaptos? Contristador o tresloucado vezo imitativo dos cidadãos, prática habitual dos seus trejeitos e maneirismos, díspares com o conceitual de indivíduo. Somos criaturas simiescas, sem criatividade, uniformizadas na vestimenta e nos atavios da vaidade, subjugadas ao consumismo. Homens trajando idênticas roupagens, mulheres desfilando em iguais vestimentas, todos habitando cidades e prédios de mesmíssima conformação e estilo. Certo estaria Niestche, ao afirmar que a razão escraviza o homem, levando-o à maluquice. Daí porque resultamos todos emaranhados no desvario das paixões e enredados nas teias do amor, sentimento mais nobre, não desprovido de torturantes loucuras...

sábado, 14 de maio de 2011

CONTRASTES CITADINOS


Aportei no Rio de Janeiro pela quarta vez. Como sempre, deslumbrado com as suas belezas naturais, dias ensolarados, o azul-verde do mar, profusão de bares apinhados de gente assomada por contagiante alegria de viver. Festa de brilho, cores e musicalidade! A Lapa boêmia, agora reestruturada, resplandecente ao ritmo febril do samba bem brasileiro. E o carioca, cioso das suas origens, ufanoso das dádivas que lhe foram aquinhoadas pela mãe natureza. Lá, recolhi preciosas lições: nunca me deparei com gente tão educada, transfundindo cortesia e calor humano. Metrô, ônibus e táxis em abundância, atenciosos motoristas prodigalizando afabilidade e sabedoria. Expurgados os morros dos traficantes e drogados, a segurança é uma realidade. Paraíso turístico, centro de lazer e cultura, gente afluindo de todos os recantos da terra. A cidade não dorme, atravessando noites e dias iluminada pelo sol ou pelas feéricas luzes noturnas! Metrópole mais linda do mundo, segundo o consenso geral. Daí porque hoje “Rio” sozinho, relembrando os momentos radiosos então revividos. Tudo isso de par com uma frustrante aflição causada pelo amargor do regresso! Guardadas as proporções, é desalentador retornar a Floripa e se defrontar com o atraso citadino. Aqui, sobreleva a incúria dos governantes, contumazes na prática de uma politicagem eleitoreira e rastejante, decantada por uma mídia interesseira, conivente, submissa e tonitruante no alardeio de arreglos e sinecuras para os apaniguados. Enquanto isso, Florianópolis está relegada a criminoso abandono, com deficiências no transporte público, na mobilidade urbana, nos serviços de táxis, no transporte marítimo, nas obras viárias e na segurança pública. Como se não bastasse, a "burrocracia" impera, o mar é uma cloaca, as praias abandonadas, o saneamento básico uma calamidade. Tudo isso, aliado a um custo de vida altíssimo, preços escorchantes e total despreparo para receber visitantes e turistas! Parodiando o slogan ufanista da ditadura militar, alguém poderia contrapor: "Floripa, ame-a ou deixe-a"... Absolutamente não é o caso, pois esta ilha já foi paradisíaca, há tempos atrás! Daí porque se afigura válida e propositada a crítica construtiva, tal como ora exposta, de forma circunstanciada, no intento de contribuir para uma melhor qualidade de vida. Importante colocar em evidência o contraste entre passado e presente. Dirão alguns, ingenuamente: é o progresso, corolário, talvez, do maior afluxo populacional. Tal argumentação cai por terra, bastando trazer, como parâmetros, comunidades mais progressistas e administradas com mais capacidade, visão e descortino. Rio de Janeiro é prevalecimento, mas Camboriu, aqui bem próxima, constitui significante exemplo ilustrativo. Verdade que o despreparo dos responsáveis está contribuindo, decisivamente, para que a ilha, que já foi da magia, submerja sob o marasmo da incompetência, de molde a fazer jus ao antigo designativo de "Ilha do Desterro"...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

NO TEATRO DA VIDA


Abre-se a cortina, novo cenário. Palco iluminado, personagens controvertidas, encenando peças que a vida prega. Valho-me da verve e da genialidade de Nelson Rodrigues. Numa das suas notáveis crônicas sobre os costumes, narrava o prosaico viver de um chefe de família, devotado trabalhador. Tão apegado ao trabalho que levantava às 4:00 hs da matina, todos os dias, tomava banho e se engravatava, seguindo, impávido, para o emprego. Às amigas, a esposa não se cansava de elogiar a dedicação do marido. Porém, segundo o relato rodrigueano, aquele diligente trabalhador não rumava para o emprego, mas sim para famigerado cabaré da zona, onde as percantas bailavam até o amanhecer. Lá chegando, fim de noite, perfumoso, bem barbeado e vestido com aprumo, era requestado pelas mais belas mulheres, sobrepujando os demais varões, babujantes, alcoolizados e cheirando a cigarro. Lição de vida como ela é! Caso típico de dupla personalidade e de falsas aparências, textualizado em nova montagem. Versejando, já sustentei: livre dos grilhões ferinos, liberto dos sociais enleios, o homem anseia por se desvencilhar do massacre da rotina e do dever nefando. Acertado - quem sabe? - estaria Oscar Wilde, ao afiançar que não se deve resistir às tentações, pois pode ser que elas não voltem...

sábado, 30 de abril de 2011

ANGÚSTIA DA ESPERA


A vida é mesmo assim. Estamos sempre a esperar por algo: chegada do carteiro, da promoção, da hora marcada, do bom tempo, do milagre, da cura, do amor verdadeiro... São infinitas e angustiantes as silenciosas expectativas terrenas! Passam-se os dias e ficamos nós a construir castelos de areia, a vida se escoando, lentamente, pelos ralos da cupidez e da ganância. Enredado nesse cipoal de aspirações, o ser humano persiste em se mortificar num torvelinho de pensamentos que atordoam seu universo existencial. Sem se dar conta de que o bem estar e a felicidade estariam em não almejar, em ser livre, para usufruir da calmaria e do alento da suave brisa que eleva o espírito a paradisíacas culminâncias. Liberto dos casuísmos, da soberba, das ambições e do apego às coisas efêmeras, poderá o homem se reorientar no inextricável enredo dos tormentosos anseios e da agônica tortura dos desejos insaciáveis. Cônscio de que o emocional é que rege o infortúnio ou a bem-aventurança, o pauperismo ou a riqueza da alma. Cultuando os salutares princípios da transcendental meditação e no enlevo de dourados sonhos, tecidos com desprendimento, poderá o homem ascender aos páramos do além, despojado da sobrecarga das cobiças e dos febris anseios que atormentam e afligem o seu quotidiano.

domingo, 17 de abril de 2011

ARTE DE ENVELHECER


Envelhecer exige aprendizagem. Fins de prevenir doenças, sabido de que poucos alcançam uma velhice saudável. Hipocondríaco, o homem se entope de remédios, para regozijo dos fabricantes das drogas farmacológicas. Serão tais mazelas resultantes do abandono da alimentação natural? Ou do consumo de produtos industrializados? Malgrado a evolução tecnológica, males incuráveis continuam a afligir a humanidade. Raros chegam à velhice livres das virulências que intoxicam suas combalidas carcaças. A fórmula estaria implícita em adágio latino, sempre negligenciado: “Mens sana in corpore sano”. Quanta sapiência inserta numa breve sentença! A mente rege o corpo! O vivente costuma ser traído pelas emoções, intercambiando conflitos que haverão de minar seu organismo. Osho, iluminado mestre indiano, foi mais além, ao doutrinar que a natureza cobra o que lhe é devido. Segundo ele, o ser humano somente é válido enquanto potencializa forças para reprodução da espécie. Desde que dotado de energia e aptidão física para o efetivo exercício das suas faculdades reprodutivas. Si non é vero... Por via das dúvidas, conviria zelarmos pela preservação da libido e do pleno vigor da nossa capacidade procriativa. Lançando nossa embarcação ao mar, vela enfunada, tocando o remo devagar...

terça-feira, 12 de abril de 2011

INCÚRIA E NEGLIGÊNCIA


Fruto da incompetência, reina a impunidade, matriz da insegurança. A inimputabilidade do menor é uma excrescência. Moleques assaltam e matam, friamente, à luz solar. Para sustentar o vício, cometem barbarismos e atrocidades. Relhaço e cadeia neles! Daí aparecem os paladinos dos direitos humanos, em defesa dos “pobres” marginais. De nada serve recolher esses desvalidos a entidades assistenciais, faculdades do crime. Estupradores e assassinos, drogados também, perambulam nas sombras, à espreita de suas desamparadas vítimas. Tolerância zero, a saída. Policial nas ruas? Raridade! Delegacias desguarnecidas, efetivos reduzidos, falta de combustível, veículos e armamentos virando sucata... E as populações, desarmadas, enclausurando-se atrás de muros e grades eletrificadas. Sabido que o problema é social, com solução para as calendas gregas. Pelo menos enquanto os governantes persistirem na dilapidação do patrimônio público, malbaratando recursos e dando prioridade a ostentações e supérfluos gastos, tais como privilégios aos seus confrades, acintosas reformas, portentosas construções, aquisição de luxuosos veículos e aeronaves, de par com o criminoso desvio de verbas para a copa do mundo, via financiamento com dinheiro público, destinado à construção de imponentes estádios futebolísticos. Tudo isso, pasmem, vindo em detrimento da saúde, educação e segurança, primaciais deveres do Estado, assentes em princípio constitucional sempre negligenciado.

terça-feira, 29 de março de 2011

A CIÊNCIA DE VIVER


“O inferno são os outros”, advertia Sartre. Assertiva profunda, de longo alcance. Imprevisível o ser humano nas suas reações comportamentais. O homem já não morre de infecções, mas de ira e desgostos. As neuroses são influenciadas pelas emoções. Difícil o ponto de equilíbrio: seremos felizes na medida em que soubermos esquecer. É preciso deixar de lado melindres e suscetibilidades, agindo com tolerância, habilidade e diplomacia no trato das incompreensões. Cada um tem seus projetos, os conflitos surgem quando eles se sobrepõem. A convivência é necessária até como referencial da essência do ser, da percepção daquilo que se é representado, tal com refletido nos olhos dos outros. Disparo do alarme e sinal de alerta para os incautos: vita brevis! Tendo isso presente, de nada servem as desavenças, os conflitos e malquerenças por motivos fúteis, ferindo o emocional dos semelhantes. É preciso cautela para não magoar e consciência para que prospere a concórdia. Livres dos caprichos e veleidades que só danos acarretam ao mundo espiritual e corpóreo, entravando o salutar convívio, fonte benfazeja da fraternidade universal. Sem esquecer, jamais, que a ninguém é dado ser feliz sozinho ou guardando ressentimentos. E que alegrias compartilhadas serão sempre venturas redobradas!

quarta-feira, 16 de março de 2011

DE PROFUNDIS


Do Ramayama, poema épico hindu, extrai-se assertiva merecedora de difusão: “nem todo ouro do mundo, nem todo o trigo, nem todas as mulheres são bastantes para um só homem; lembra-te e resigna-te”.Quanta profundidade nessa advertência! O tema daria para elucubrações meditativas sobre as causas das inquietudes e frustrações. Felicidade não se coaduna com a aquisição de bens ou conquistas. A contrario sensu, o caminho estaria em sermos livres, sem desejar, desapegados das coisas efêmeras. Filosofia de arrabalde, dirão céticos obcecados em posses e ascensão social. Liberdade é o supremo bem, embora inatingível. Consiste na capacidade de escolhas, que são entravadas pelas leis, pelo próximo ou pelos amores. É incompatível com paixões, politicagem e fanatismos, que escravizam. Nietzsche, com sabedoria, sentenciou: onde começa o Estado, aí termina o indivíduo. Verdade incontestável. É o poder público a atropelar a vida privada dos cidadãos, com seus tentáculos, através de excrescências em forma de tributos, normas, medidas provisórias e decretos, imiscuindo-se até na esfera da sexualidade e no relacionamento familiar. Estranhável ainda exista quem compactue com a corrupção, a impunidade e a censura velada, acobertadas pelo o diáfano manto da demagogia...

quarta-feira, 9 de março de 2011

A CIÊNCIA DA BURRICE


Borges dizia não se importar com política, despegado de motivação; Vargas Llosa defende o engajamento do escritor nas questões sociais. A maioria nada entende disso, menos ainda alguns políticóides. O escritor não deve ficar adstrito a assuntos do quotidiano, mas sim livre para levantar âncora e mergulhar em profundidades, na busca persecutória de temas abrangentes, mesclando elegância no fraseado e apuro na temática. Entre vôos e rasantes, há de se abeberar em filosofias, com eventuais incursões em temas da atualidade. A beleza da escrita está na lapidação da frase, no garimpo da palavra certa, na musicalidade da prosa, pinçando verbos e colorindo sentenças. Para isso, é preciso ler, consultar dicionários, trazendo nos ombros algum pó das bibliotecas. Em sintonia com o pensamento de Rui Barbosa, ao sentenciar que o valor de um homem mede-se das sobrancelhas para cima. Mas Rui também disse que há tantos burros mandando em homens inteligentes, que ele receava ser a burrice uma ciência. E eu, perdido na vastidão oceânica dessa burragem, desconfio que a luz de certos olhos verdes seja um farol a iluminar minha vida, reacendendo em mim a esperança pela erradicação da deletéria ignorância

sexta-feira, 4 de março de 2011

CASTRAÇÃO MENTAL




Pobre nação, em cujo solo prepondera o interesse de uma casta, em contraponto à maioria dos seus habitantes. Pregar no deserto é falar em controle da natalidade, num País onde viceja a multiplicação de gente paupérrima, a se reproduzir feito ratazanas. Tudo porque anacrônicas e obtusas crenças religiosas a tanto se opõem. Assim como governantes e legisladores, conluiados numa conivente omissão, sabido que o enquadre do problema há de lhes trazer desprestígio político e nenhum dividendo eleitoral. Enquanto isso, o crime se alastra! Num hediondo cortejo de fome e miséria, acoplado a uma amálgama de doenças e mazelas a recair sobre uma população empobrecida, que sucumbe à míngua de recursos mínimos para sua sobrevivência. O índice de mortalidade infantil se equipara ao dos povos mais atrasados do mundo! É uma hecatombe nacional, para nosso opróbrio e vergonha, a falta de segurança, de educação, de assistência médico-hospitalar e saneamento básico, com os subprodutos do flagelo e destruição da fauna. Os responsáveis por tais descalabros se esmeram em pastorear seu amestrado rebanho, que é o povo, fazendo-o marchar, em melífluos balidos, rumo à sua final tosquia e castração. Inconseqüentes, não passam eles de reles espertalhões, a se apascentar da desgraça alheia, cevando-se nessa ignominiosa torpeza.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

PRINCÍPIO DO GOZO UNIVERSAL


Falsos moralistas se escandalizaram com a temática do meu livro "Os Seios de Joana" - Contos Eróticos e Picarescos. Desnecessário justificar, pois meu intento era arremeter contra a repressão sexual, imposta pelos ditames de uma religiosidade obtusa que, desde os primórdios, intenta castrar o homem, afrontando seus naturais instintos de sobrevivência e os mais salutares princípios biológicos que regem o universo. A propósito do livro, em meu abono a sábia assertiva do grande Oscar Wilde, ao sentenciar: "Não existem livros morais ou imorais, mas sim livros bem ou mal escritos". Só para espairecer, escrevo hoje sobre amenidades, tangenciando assuntos de cunho metafísico ou contingencial, calcados em abstratas considerações a respeito de coisa nenhuma. Começo com digressões sobre o fadário regedor da destinação, a direcionar nossas conturbadas vidas. Refiro-me às vicissitudes e mais eventos acidentários, atribuíveis a sortilégios ou coincidências. Forçado a admitir, todavia, a existência de algo mais além do que nossa vã filosofia pode alcançar. A passagem terrena é demarcada por flutuações, ora sob o influxo de ventos favoráveis, ora açoitada por temporais. Schopenhauer professava que o fim imediato da existência seria a dor; já Freud propendeu para o chamado “princípio do prazer”, como salvaguarda da satisfação dos carnais anelos. Tal como a lua, todos temos nossas fases de mutação. Daí porque me socorro de José Hernandes, quando colocou na boca do seu legendário Martin Fierro a sábia advertência: “quantas leciones nos trae el tiempo com suas mudanzas!” Eu, atento a essas variantes, me ponho, persignado, no expectante alento de abundantes mananciais. Aferrado, obviamente, à perseverante busca do prazer, tal como intuiu Freud, cônscio de que a vida é curta e a morte é certa. E, como dizia Bukowski, a vida só vale a pena quando se está gozando...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ENCONTRO MARCADO


Insondáveis segredos marcam nossa existência. Séculos atrás, Erasmo de Rotterdam preconizava ser loucura a busca de sensatez num mundo de loucos. Embora afrontando descrenças, acredito em destinação. Nossos rumos estão adrede traçados. Alea jacta est. Martim Fierro já ponderava: “Más sabe el diablo por viejo que por diablo”. Sábia advertência! A vida me ensinou, em várias lições, o mistério que existe por detrás de estranhos eventos. Foram tão enigmáticos, que terminaram por transviar meus caminhos. Coincidências, retrucará o vulgo, atribuindo ao acaso os desvios de itinerário. Recordo de um sábio conselho: se te atrai uma luzinha, segue-a, talvez seja a tua estrela! Superpõe-se aqui a intuição, a faculdade perceptiva de indivíduos mais argutos no perscrutar rotas para seu ancoradouro. Sobreleva o poder imanente a seres privilegiados, aptos a captarem positivas irradiações oriundas de inextricáveis desígnios. Tudo para não ficarem à deriva, açoitados pelos ventos erradios de tempestuosas desilusões. Mas existe o livre arbítrio, outros haverão de obtemperar. Nesse caso, o fadário ficará ao alvedrio de cada um, frente às encruzilhadas da vida. Sabido que, do influxo dessas superiores emanações, sobrevirão sortilégios ou sublime elevação a paradisíacas culminâncias.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

ENSAIO SOBRE O VAZIO


Às vezes, fico a pensar na falta de personalidade dos viventes. Exceções à parte, por que o arremedo instituído como regra nos hábitos e maneirismos? Seremos produtos de fabricação em série? Subprodutos da mesma linha de montagem? Tudo em contraposição ao conceitual de indivíduo, ser que não admite divisão sem perder suas peculiaridades. Juventude aturdida pela omissão dos que deveriam orientá-la com o exemplo da altivez. Geração desgarrada, à mercê de estereotipados modismos, sob a maléfica influência de escusos interesses mercantilistas. Adultos vitimados também pela avalanche propagandista do consumismo exacerbado, matriz da inveja, do desequilíbrio e das dissensões sociais. Procedimentos discrepantes, contrários a uma vida simples, desapegada das emulações e encarniçadas lutas pelas ilusórias posses materiais. A felicidade, bem inatingível mas sempre buscado, estaria - quem sabe? -no desprendimento, na desambição, no convívio fraternal, amigo e desinteressado com os semelhantes. Verdade incontestável cujo axioma só haverá de ser revelado ao ente humano na fase terminal da existência. É quando haverá de se questionar, in extremis, de que lhe valeram os ouropéis mais belos, as glórias efêmeras, a vã matéria, tudo em vias de reversão ao pó da mais insólita vacuidade?...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

LIÇÃO DE VIDA


“O homem de coração alegre tem um banquete contínuo”. Necessário entender a profundidade dessa proposição. A vida é uma arte, cujas regras a maioria desconhece. Hay que saber vivir, como dizem os castelhanos. Não basta ser amigo, comunicativo e galhofeiro. Filosofia de vida, normas de conduta, inteligência, espiritualidade e requintado gosto, são os pressupostos. Conheci alguém assim, mais velho, de saudosa memória. Escreveu livro, compôs músicas, plantou árvores, teve filhos e ficou viúvo em idade provecta. Não obstante, manteve a flama, o vigor e o viço da juventude até avançada idade. Era boêmio, apreciador da boa mesa, dos capitosos vinhos e das belas mulheres.Diferença de idade impediu nossa estreita convivência. Certa feita, num dos noturnais encontros, indaguei-lhe sobre o segredo da sua eterna mocidade. No bar, ladeado por uma deusa, respondeu-me: olha, Jayme, a fórmula é simples, de fácil aplicação. Basta dormir durante o dia, desligado de todos os instrumentos de pressão que envolvem o quotidiano, os ruídos, o trânsito, as máquinas, as futricas e emulações. Despertar à noite, quando cessa a agitação, um bom repasto e partir para as poéticas madrugadas, sob o acalanto de lindas melodias, no aconchego de sedutoras fêmeas. Assunto para nova crônica...

ENTERRO DA ÚLTIMA QUIMERA


Sou sentimental, dos últimos românticos. Quintana dizia desconfiar de quem não fuma. Fumar, para ele, seria uma forma disfarçada de suspirar... Especiosa metáfora! Faz tempo já larguei do vício, senão estaria morto. Bogart, renomado ator, apregoava que a humanidade estaria duas doses de uísque retardada. Outro, afirmava que beber tornaria os outros interessantes! Parafraseando Augusto dos Anjos, hoje assistimos ao enterro da última quimera, - o romantismo. Em soterramento, estão: a boemia, o lânguido erotismo, as canções inspiradas em lirismos poéticos e plangentes violões. Agora, predominam as bandas, o gritedo, o rocambolesco e a ridicularia dos saracoteios. Próprios de uma população obscurecida pelo atraso, que só beneficia os demagogos e apaniguados concessionários das poderosas cadeias de comunicação. Daí porque lastimo o vazio de corações empedernidos, a massificação da juventude, em cujas mentes, em formação, é inculcada a idolatria a estrangeirismos e caipiradas, de baixa categoria, fomentados por sórdidos interesses mercantis. Bendigo um passado risonho, de noites enluaradas, impregnado de sensibilidade, de romanticismo e encantamento, de par com a sublime deificação da mulher, tal como idealizada em sonhos e quiméricos devaneios...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

BRASIL, PAÍS DO FURO


Chove lá fora. Tarde propícia para escrevinhar alguma coisa. Mas, para quem? Meia dúzia, se tanto, de leitores. Brasil, país do fu..ro (sem o "t" e o "u"), quer dizer, do furo de bala!Povo iletrado, maioria analfabeta, obcecada pela macaquice do "big brother", do futebol, carnaval, drogas e jogatina. Massa inculta, que não lê,dependente das futricas, parvoíces e frivolidades dos tais de twitter e face-book. Gente que poderia preencher esse vazio, esse desperdício de tempo, em horas de estudo, leitura e trabalho. Mas qual! Sua preferência recai sobre a estultícia que lhe é inculcada, diariamente, de forma velada e sub-reptícia, pelas famigeradas Globo, Rbs e mais tentáculos das enormes cadeias concessionárias, todas voltadas para a massificação da plebe. E tome campeonatos disso e daquilo, todos os dias, balípodo, ping-pong, tênis, natação, arremesso de cuspe, sei mais lá o quê... Como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Quem ganhou? quem chegou primeiro? Grande coisa!E as horrorosas e pervertidas novelas? E os sensacionalistas e sangrentos noticiários da Record e Sbt? E o idiotismo, o besteirol dos enlatados filmecos americanófilos da Net e da Sky, plenos de repetecos, comédias sem graça, recheados de calhordice, mortandade, trombadas de carros, vampirismo, assaltos a bancos, gangsterismo e imbecilidades de toda sorte... E o popularesco, o baixo nível, o barbaresco da programação da televisão aberta? E a crise, o achincalhe, o desvio de verbas, a miséria em que se afunda uma nação atolada no lamaçal da corrupção e impunidade dos seus maquiavélicos e demagogos representantes? E a insegurança de uma população desguarnecida, desarmada, à mercê da sanha dos drogados criminosos, enclausurada, trancafiada atrás de grades, muros e cercas eletrificadas,apavorada e com medo de sair à ruas, à falta de policiamento e recursos mínimos de aparelhagem do Estado , com suas finanças sucatadas? Mata-se por qualquer coisa, já virou rotina, ninguém se importa, os assassinos impunes. Ah, mas o Ronalducho pendurou as chuteiras, assunto prioritário, em cadeias de rádio e TV... E a imundície, a fedentina de ruas infestadas de lixo,carentes de saneamento básico, praias com esgotos a céu aberto, mares poluídos e veranistas chafurdando nos seus próprios excrementos, sem noções mínimas das mais primárias normas de higidez e respeito à natureza? Realmente, "nunca dantes na história deste país" houve tamanha pobreza, politicalha, ignorância, incompetência e falta de brasilidade!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

BURROCRACIA E INCOMPETÊNCIA


Floripa virou um caos. A incompetência dos seus administradores é espantosa, beirando o absurdo. Seus governantes e mais representantes, seja na esfera municipal ou estadual, só fazem politicalha. Omitem-se no tocante a prioridades fundamentais da cidadania. Lutam e se dessangram, a se entredevorar, ferozmente, na batalha para abocanhar a ossamenta dos cargos e sinecuras eleitorais. De nada valem o tecnicismo, a experiência e a titulação, para escolha de colaboradores. Prepondera o compadrismo e a barganha, próprios da politicagem mais rasteira e abjeta. $ó pen$am naquilo!Ideal? Programa partidário? Consecução do bem comum? O que é isso? A população que se dane! Entrementes, ridentes,fagueiros e corados, os políticóides engordam e forram o bolso, à custa do ingênuo eleitor, abestalhado. É, mas a natureza cobra, eles não perdem por esperar... Enquanto isso, a ilha está prenhe de gente chegada de todas as partes. Mas aqui nada funciona: mobilidade urbana nenhuma, ruas e avenidas abarrotadas de carros; acidentes, neuroses, congestionamentos incríveis; saneamento básico inexistente; falta de água; lixo não recolhido, vitaminando ratazanas e baratas; praias mal iluminadas, sem calçadões, sem chuveiros, todas poluídas, infestadas de esgotos escancarados a céu aberto,faixas de areia exíguas, gente se acotovelando, achacada por marginais e lançada à própria sorte, sem policiamento algum. E a segurança pública? O que é isso? Apenas a indústria da multa é incrementada, a olhos vistos. Os policiais só aparecem quando é perpetrado algum crime hediondo, com manchetes nos jornais. Dois,três dias depois...somem! E ainda querem falar em turismo e qualidade de vida! E a burrocracia impera e emperra todos os setores da vida pública. Intente o cidadão requerer algo junto às repartições: deferimento só para as calendas gregas. Trabalhar pra quê? há pouco era natal, depois o ano novo, agora férias, em seguida o carnaval, depois o futebol...É um salve-se quem puder! Liberdade de expressão, coisa nenhuma. Recentemente, aguerrido comunicador local foi desligado da empresa, onde se consagrou por mais de vinte anos, pelo simples fato de verberar contra favorecimentos do governo a montadoras de veículos. Afastado, por ter emitido opinião própria, defendendo interesses da coletividade, mas contrariando os ditames dos acólitos do poder e seus confrades. Desmascaramento da censura velada e sub-reptícia. E ainda alardeiam liberdade de expressão... Eu, agora, só voto no desprezo à corrupção e à politicagem. Chega de maracutaias. Deus seja louvado! Vade retro Satanás!