quinta-feira, 30 de junho de 2011

APOLOGIA DO MATRIARCADO


Prenunciei a depreciação do macho e o retorno à sociedade matriarcal. Em tom provocativo, deplorei a domesticação do marido, de avental, a cozinhar, trocar fraldas e cuidar da filharada. Daí a frequentar salões de beleza e usar bolsa a tiracolo foi um passo... Já disse alhures, com as esposas distantes do recesso do lar, ganharam as matriarcas, perderam os filhos! Profetizei a futura geração da prole em laboratório, livre da conjunção carnal, reduzido o "varão" a mera figura decorativa. Falando sério, hoje pontificam e governam as madames, maridos genuflexos e desmoralizados, projetando falsas aparências de chefes do lar. E todos nós, agora, governados por uma Presidenta! As mulheres já vinham, de longa data, disfarçadamente, empunhando o cetro familiar. Plenipotenciárias na área doméstica, glorificadas como deusas, detentoras da última palavra e discricionário poder de mando! Relevem as brincadeiras provocativas. Resguardado em legítima defesa putativa, apresto-me em rejeitar eventual apodo de machista, declarando-me cativo e submisso admirador do belo sexo. E solidário com a sua inconteste liderança! Todavia, quedei preocupado com meus presságios, ao ler, tempos atrás, notícia da aparição de uma galinha macho em galinheiro americano, cuja penosa teria desenvolvido enorme crista e longas penas no rabo, despertando a vizinhança com cacarejos matinais. Os invocados precedentes e mais a fenomênica reversão galinácea, recomendam a nós, homens, desde já, colocarmos as nossas barbas de molho...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

CARPE DIEM


Desiludido com a alienação e miséria reinantes, ensarilhei armas buscando refúgio no aprimoramento interior. A despacito, penso ter evoluído: tornei-me agnóstico, hedonista e adepto do carpe diem. Sócrates já preconizara: conhece-te a ti mesmo. Esse o caminho! Cioso do aqui e agora e convicto de que a ninguém é dado saber do dia de amanhã. Nem de onde viemos nem para onde vamos. A vida é fugaz, a morte é certa e a mocidade mera fase de transição. Cedo ou tarde, é fatal, nossa transmutação para macróbios há de sobrevir. Aquele que não envelheceu é porque virou defunctus. Aleluia, então! Vivamos o presente, colhamos o dia atual, menos preocupados com o porvir e cientes de que saúde e liberdade constituem a suprema glória, pressupostos da sonhada felicidade. Tudo o mais é passageiro. Inclusive nós outros, pobres mortais, obstinados em não encarar a realidade da finitude humana, porque aferrados a questiúnculas, posses e frívolas vaidades. Saudosismo de lado, a vida perdeu em qualidade quando a ambição ganhou espaço. Houve tempo em que navegávamos num mar de rosas, vida leve, a favor dos ventos. Não existia inflação nem o acirrado animus de investir, que amesquinhou as criaturas com a sofreguidão da poupança e o pensamento voltado só para o amanhã, que talvez nunca chegue...

terça-feira, 14 de junho de 2011

GERAÇÃO PERDIDA


Gaiarsa, terapeuta, escreveu “A Família de que se Fala e a Família de que se Sofre”. Título mal posto, má redação, mas de conteúdo atual. Denunciou o núcleo familiar como fonte de desagregação; instituição decadente, não mais a célula-mater conceituada por Rui. Causa primeira, a liberalização da mulher, hoje atuante em todas as frentes, mas ausente do lar. Ganhou a matriarca, perderam os filhos! Sobejam adolescentes indisciplinados, rebeldes, à mercê das drogas, dentre elas o computador, escravizados a celulares e mais uma parafernália maquinal imposta pelas leis de consumo. Faltas escolares, o deboche e o desrespeito aos mestres. Ninguém mais lê, inexiste o diálogo! Prole criada ao léu, autoritária, soberana de todas as vontades! Fixada em programações incitadoras da violência, formando uma amedrontada geração de tímidos e neuróticos. Daí a apatia, as más companhias e a carência da afectio familiae. Inversão total de valores! Houve tempo em que os progenitores infundiam respeito. Origem desses conflitos: ressalvadas honrosas exceções, pais e mães omissos, indiferentes, alheios, descurando do seu dever de educadores. Forjando uma legião de jovens desnorteada, tomando conta das ruas e casas noturnas, enquanto seus ascendentes se encolhem, esquálidos de espanto...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

ODE AO ÓCIO


“Comerás o pão com o suor do teu rosto”! Preceito bíblico questionável. Castigo infligido ao pecado original, historinha pueril, fonte maleva da repressão sexual. Etiologia das neuroses e mais doenças psicossomáticas. A sentença imperativa do trabalho decorreu da comilança da maçã (gen 3.19). Pena por demais severa imputável à degustação de fruta prazerosa e saudável! Em contrapartida temos o ócio, a quem os gregos consagravam como a mais pura atividade espiritual. Empregavam o contraponto “nec-ocio” (negócio) para atividades lucrativas, tidas por desprezíveis. Os nobres de antanho consideravam indigno o trabalho, que então só era exercido pela plebe e pelos escravos. A civilização perverteu o sentido e inverteu conceitos. Aristóteles chegou a afirmar que “a felicidade parece residir no ócio”. Assim equiparado a uma existência livre, solidão por companheira, subproduto da criatividade. Fazendo remissão ao mandamus divino, bom mesmo é comer sem fazer força nem transpirar. Prova cabal dessa assertiva o exemplo do planalto brasiliense, a colocar por terra a ilusória assertiva de que o trabalho dignifica e enobrece. Lá predomina o ócio. É onde viceja o mais fidedigno representante de uma privilegiada casta deitada em berço esplêndido, a fazer turismo e a mamar nas combalidas tetas públicas.