quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DA NECESSIDADE DE SE ILUDIR


Vivemos de expectativas, pensando no amanhã, desligados do dia presente. A fantasiar quimeras, jamais satisfeitos com aquilo que temos. Propositada, aqui, a secular advertência dos sábios hindus: nem todo o ouro do mundo nem todas as mulheres são suficientes para um só homem! A vida em sociedade é nascedouro de competições, com seu cortejo de emulações e rivalidades. Disputas por cargos, posições, honrarias... Pecúnia, força atrativa de bajulações e ciumeiras. Por detrás desse grotesco cenário de mesquinharias, coexiste formidando arsenal forjador de estultices: a “imprensa marrom” e a máquina fazedora de sonhos - a televisão. A primeira, genuflexa e comprometida, zelosa em babujar poderosos; a outra, cujos canais abertos são fabriquetas de sonho, diligente na trama de entorpecer legião de incautos, com suas frívolas novelas e baixarias. Forçoso exorcizar esse conjuro! Pés assentes no chão, despertos dessa ardilosa fixação no fausto e na riqueza, para ilusória miragem dos desvalidos. É tempo ainda de reciclagem, olhos fitos na realidade, para retempero de energias e aprimoramento do caráter. Só assim, ao reformular conceitos, espargindo afetos, poderá o ser humano se capacitar de que a felicidade consiste no simples fato de existir e vivenciar amores.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

PALAVRAS AO VENTO


No princípio era o verbo. Mas poucos avaliam o poder da palavra, ao materializar pensamentos. Sua carga energética flexiona alternâncias entre o mal e o bem, modificando vivências e transmudando destinos. Com o avanço da tecnologia, mais se acentua o descaso com a fala, eivada de bestialógicas distorções inspiradas no incentivo governamental. A seu turno, a virtualidade desfavorece o apego à leitura e desestimula os cuidados com o vernáculo. A maioria despreza as potencialidades da internet! Ao ignorar esse precioso cabedal de cultura, opta pelo lixo digital e emprego de expressões chulas, entremeadas de frivolidades. Por relevante o intercâmbio de idéias, impenderia melhor se dedicasse o homem ao aprimoramento do diálogo. A comunicação oral ou escrita tem sido fator determinante na evolução do conhecimento universal. Felizes os que cultivam o pensamento positivo, disciplinando escolhas mentais e exorcizando negativismos. A prática do elogio e reafirmação da auto-estima, como fontes vibracionais do espírito, são bálsamos de cura e energização individual. Palavras minhas agora lançadas ao vento e movidas pelo propósito único de me associar àqueles que clamam pelo retempero da fala e correção do idioma, qualificado este como fundamento basilar da nossa soberania.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

PÃO E CIRCO


Brasil, país favorecido pela natureza, em contraste com os flagelos que atormentam outras nações. Consta que Deus, criticado por essa discriminação, teria retorquido: “É, mas vejam o povinho que eu lá coloquei...” Piada infame, mas com foros de verdade. População alienada, rindo da própria desgraça, a eleger beócios e safardanas. Democracia não é compatível com burrice! Daí o cirandar da politicagem, casta aboletada no poder. A essa camarilha de sotretas não convém educar a plebe. Quanto mais tiriricas, melhor! Pão e circo para a patuléia! Primado da corrupção, da insegurança, da impunidade. Saneamento, saúde pública, um descalabro! Cenário mascarado pela mídia conivente, favorecida pelas sobras do banquete. Governantes e confrades num mar de desvarios, em desperdícios com turismo camuflado e comitivas de camaleões embasbacados. Educação relegada a plano secundário, professores com salário de fome. Estados falidos pela inoperância de politiqueiros que só pensam em reeleição, nepotismo e sinecuras. Alguns haverão de contrapor: por que não falar em flores? Bonito, às vezes faço isso. Mas num país naufragado na miséria, vez em quando falta inspiração. Ganas de vociferar, na esperança de que a indignação refloresça em bênçãos de luz para uma população desguarnecida...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ENFUNANDO VELAS


Metáfora de rara beleza: a vida é uma viagem! Sem retorno. Passagem só de ida, em navio que ruma para um inexorável destino, a morte. Em cada porto, uma sucessão de acasos: passageiros embarcando, outros descendo, alguns lançados ao mar durante a travessia... A bordo, despedidas, novas amizades, conquistas, desenganos... Durante o percurso, escotilhas descortinam céu azul ou maresias, entremeando luzes e temporais. A existência não pode prescindir do conhecimento. As marés da vida aniquilam os fracos, revigorando os fortes. O fadário aponta para uma nova realidade comportamental, ancorada nos fundamentos do carpe diem. Usufruir o aqui e agora, atentos a inefáveis gozos e carnais anelos, posto que a ninguém é dado saber do dia de amanhã. O presente, como o próprio nome indica, deve ser encarado como um regalo, com mesclas de contubérnio e afeto. Curvo-me à assertiva que adverte: “vive cada jornada como se fosse a última, pois um dia você acerta”! Deixando de lado macambúzias divagações, um farol existencial há de orientar os navegantes para uma vida estreme de melindres e ostentações. Bom demais é tocar o remo devagar, barco ondulando ao sopro da brisa leve e calmarias, num verde mar de esperanças, livre dos rochedos e distanciado do ilusório canto das sereias.