sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

CINQUENTA SONS DE TAPAS





“Cinquenta Tons de Cinza”, primeiro livro da trilogia de autora londrina, traduzido para o vernáculo. Milhões de “brochuras” abarrotam livrarias, vendendo como pastel em cancha de carreira. Leitoras, excitadas, manuseiam grossos “volumes”, em alvoroço, como se genitálias fossem. A história: macho, viril, controlador, abastado, conquista virgem, universitária. A obra se arrasta nos expectantes prelúdios da consumação da cópula. Deflorada a moça, aberrações sexuais se sucedem pós ajuste contratual que a submete ao jugo de práticas sadomasoquísticas, como chicotadas, plugues anais, barras y otras cositas... A moçoila a tudo se sujeita, acabando por se deliciar com tais perversões, num misto de prazer e dor! Sendo mulher, a escritora se esmera na descrição de cenas cruas de delírios orgásticos, lascivos e estimulantes. Perto desse, meu livro “Os Seios de Joana”, tido como obsceno por falsos moralistas, agora pode ser lido em conventos! Que me perdoe o belo sexo, mas o estrondoso sucesso da obra, na seara feminil, coloca a nu a propriedade da frase de Nelson Rodrigues (Nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais), já prenunciada por Noel, filósofo do samba, cantada assim: “O maior castigo que eu te dou é não te bater, pois sei que gostas de apanhar!”...







segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

GRITO DE ALERTA



Brasil, país que não é sério. Analfabetismo, índice superior a 10%, sem considerar os iletrados que só desenham o nome! Incapazes de discernimento político são obrigados a votar! Democracia ilusória, sabido que a plebe, ludibriada, e a cabresto, elege uma camarilha dominante. Daí a razão porque, salvo honrosas exceções, sempre os mesmos são entronizados no poder. Sobrelevam as disparidades. Grandes montadoras são beneficiadas, agricultores no desamparo! Transportes ferroviário e marítimo desprezados, rodovias abarrotadas de veículos. Jogadores de futebol e politiqueiros ganhando fábulas, professores e aposentados auferindo mísera remuneração. Salário mínimo, uma esmola! Bolsa disso e daquilo, eleitoreiras, uma piada, estimulando ócio e desemprego. O “pibezinho” é pífio. Inflação, uma realidade que salta aos olhos nas prateleiras dos supermercados. Greves paralisam o país, enquanto a presidentE, fagueira, bem produzida, desfila pelo mundo, deitando falação. O STF penaliza mensaleiros e condena seus confrades, mas petistas fazem vista grossa, num menosprezo à nossa inteligência! Lula, enquadrado, continua não vendo nada. A continuar esse estado de coisas, é hora de enrolar as bandeiras da nacionalidade, apagarmos as luzes e rezar. E que Deus tenha piedade de nós!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CULTO AO TIO SAM



Recentemente, grupo empresarial promoveu, em Santa Catarina, o Green Walley Festival - gigantescos palcos de música eletrônica, com 20 bandas, 30 Djs, 36 horas de “electro-rock”, no Beto Carrero World, cujo parque abriga um zoológico onde estão confinados mais de 700 animais indefesos. Abstração feita ao simiesco, à macaquice do evento, com público ao redor de 50 mil pessoas, os bichos não tiveram como fugir à berraria e aos horrorosos instrumentais. Ensurdecedoras aparelhagens, em altíssimos decibéis, retumbaram, tonitruantes, no chão, massacrando a sensibilidade auditiva da pobre bicharada, provocando estresse e danos irreparáveis à sua saúde. Em proteção às espécies, o projeto fora, por duas vezes, reprovado pelo IBAMA, que, estranhavelmente, culminou por aprovar a malsinada festa “rave”. Paradoxal e concomitantemente, a mesma rede promotora havia veiculado artigo, na imprensa, condenando a troca de iluminação em duas praças de Florianópolis, sob a alegação de que as novas lâmpadas desorientariam os pássaros, pelo excesso de luz! Duas posições antagônicas, dignas de registro, para perplexidade geral. Dessa contradição emerge o lado desumano do sistema vigente, arraigado ao lucro e à exploração mercantilista, sem levar em conta sentimentos altruísticos de caridade, compaixão, nacionalismo e sagrado respeito à natureza. De tudo, resulta uma certeza inequívoca: ou os animais do parque zoológico Beto Carrero World restaram surdos, ou estarão todos, agora, falando inglês e dançando rock´n roll...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

MADRIGAIS FLORIDOS





Incumbe ao escritor alternar temáticas, para não saturar leitores. Hoje, floreando odes primaveris. Passados os meses outonais, dias sombrios recobertos de plúmbeas nuvens agourentas, saudemos a nova roupagem da natureza, ora revestida de refulgentes brilhos! Jubilosos pela renovação do universo, agora a pincelar, em suaves tonalidades, um enquadre matizado de rutilâncias e resplendores realçados pela tepidez dos clarões de sol. Paisagem enriquecida, à tardinha, pelo estrídulo canto vesperal das cigarras, adornando a mansuetude da hora crepuscular. Num sequencial de noites enluaradas, estelares, com o aureolado encanto da sempiterna cintilação de vagalumes, em andejos pelas verdejantes matas nativas. Raiar do dia, em madrigais, descerrando outro deslumbrante cenário: um alvorecer ornado pelo alegre gorjeio de afinados sabiás, trinos dando alvíssaras aos fulgores da natureza, sob o balouçante sopro da brisa nas rebrotadas ramagens do arvoredo. São homenagens laudatórias à estação do amor, retemperadas em fulgurantes reverberações de vertigens, chamas e emoções inspiradoras de românticos acasalamentos, trocas de afetos, carícias, num reverente culto à perpetuação da espécie, com ressonâncias de febris desejos que resplandecem em hinários de exaltação ao renascer da vida!





segunda-feira, 1 de outubro de 2012

NOVOS RUMOS



Greves paralisam a nação. Mas o governo propala equilíbrio nas finanças, enquanto endividamento familiar e inadimplência são contrastantes realidades. O PIB, índice do desenvolvimento, é novamente reduzido, dando a exata medida da nossa pobreza. Corifeus cogitam manipular cálculos, para mascarar o pífio desempenho da economia. Patrióticos julgamentos do STF condenam mensaleiros, desnudando falcatruas nunca antes praticadas na história deste país. Frente ao fragoroso desgaste, situacionistas esperneiam, insinuando ameaças de golpismo. Desvendada a vergonhosa bandalheira, veem naufragar seu projeto de perpetuação no poder. Dentre os onze ministros da suprema corte, oito foram colocados pelo próprio governo! Escudados em argumentos afrontosos à mediana inteligência, fatos de clareza meridiana são negados pelos partidários. Após a seca, nuvens negras, benfazejas, toldaram os dirceus, digo, os céus, vertendo genuinas torrentes de cachoeiras e dilúvios, lavando a corrupção. Sentindo descambar nas pesquisas seu medíocre candidato à prefeitura paulistana, presidenta, seu mentor e a súplice Marta se lançam na campanha, com maldade. Mercadantaram o Ministério da Cultura, barganhando o cargo em troca do emurchecido apoio de quem recomendou relaxar e gozar diante de imprevistos. Gozemos, pois, em regozijo pelos novos tempos que se descortinam no horizonte!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

SAUDADE DO PASSADO





Lembro fase dourada na minha Santiago antiga. Depois, quadra dos vinte anos, numa Porto Alegre poética, dos rangentes bondes, dos bailes embalados pelo samba-canção, boleros e cuba libre. Rua da Praia efervescente, cravejada de cinemas, deslumbrante passarela onde formosuras perfilavam suas graças! No calçamento da rua, turbas de marmanjos se postavam, atentas ao mágico desfile! Praça da Alfândega, refúgio de notívagos que varavam madrugadas, em prosas intermináveis, livres de achaques ou importunações. Confeitarias, clubes sociais, restaurantes de seleta frequência cortejada por música ao vivo, afinadas orquestras executando tangos arrabaleros. Voluntários da Pátria, constelação feérica de cabarés boêmios, estrelejada pela sensualidade e meneios de enluaradas percantas, revoluteando ao som de compassos milongueiros. Poético cenário valorizado pelo semanal encontro dos conterrâneos santiaguenses, para os abraços, libações etílicas e fanfarronadas. Saudosismo? Inegável a perda da qualidade de vida a contrastar com uma época de calmaria, gente engravatada, elegante, respeitosa, que a inexorável linha do tempo se encarregou de apagar! São nostálgicos resquícios emocionais esmaecidos, soterrados por um cumulativo somatório de pragas envolvendo incompetência do poder público, promiscuidade, insegurança, corrupção, consumismo, ignorância! Culminando por tornar feia e carrancuda uma cidade que já foi sorriso...







quinta-feira, 13 de setembro de 2012

ORAÇÃO AO AMIGO AUSENTE





Chove lá fora. Tarde fria e cinzenta! Pingos escorrem na vidraça, parecendo lágrimas vertidas pela evasão do amigo para ignotas plagas. Vai-se, com ele, uma parte da gente. Ganas de chorar, porque a passagem ocorre sem despedida. Sobrevêm a culpa pelo tempo desperdiçado em tão curta convivência. Alma sangrando, sob o torturante impacto emocional! A parca não avisa quando vem! Por que, pergunto eu, no oportuno tempo não proclamei a importância do nosso vínculo afetivo? Frente ao vazio que se escancara, só então me aturde o remorso pela incúria. E é na solidão, no agônico estertor da penitência, ensombrado pelo lento perpassar das horas, que me dou conta do efêmero da vida. É quando, revoltado, em assomos de indignação, blasfemo: Deus, por que tanto amargor? Por que o castigo da perda, após a dádiva da amizade? Senhor, todo poderoso, que é só luz e bondade... por quê? Oh céus! Por quê?! Aferro-me a triste consolo: lá, nas distantes esferas, há de existir mais vida! O prematuro chamamento de quem iluminou nossa existência, terá sido - quem sabe? - para alento dos que já foram. Trazendo-nos como prêmio, talvez, no futuro, o esperado reencontro em celestiais planuras, nos umbrais de outras paragens, para o eternal abraço e o deslumbrante renascer espiritual nos etéreos páramos do além...

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

PROJETO MACABRO





Governar, em tese, seria abrir estradas, ferrovias, rotas marítimas, com incentivos a um comércio livre dos escorchantes impostos. Sangria nacional, enquanto o escoamento da produção ficar limitado a veículos de rodagem, num país continental, interligado por rodovias esburacadas. A gritaria é “ululante”! Mobilidade urbana, o caos! O governo, atrelado a poderosos grupos financeiros, concede regalias às montadoras para desova de automóveis, temendo o agravamento do desemprego! Ato contínuo, persiste em estimular o consumo, insensível à parcela dos salários já arrochada com juros e amortizações de dívidas impagáveis. Malgrado a quebradeira geral, diretrizes prosseguem voltadas para a venda de carro zero aos pobretões, prorrogando a dilação de prazos. Criminoso desprezo pela inadimplência intercorrente, impulsionada pela sobrecarga de compromissos adrede assumidos pela população. Além de paralisar a vida nos centros urbanos, o diabólico projeto há de imolar os minguados proventos de uma maioria carente, com manifesto prejuízo à saúde, educação e alimentação da prole! Não satisfeitos, os prosélitos governamentais acabam de colocar, outra vez, a mão no bolso do otário poupador, com nova redução da taxa Selic e desumana queda nos parcos rendimentos da poupança, reduzidos à metade dos galopantes índices inflacionários. Criminosa sanha que obriga a depauperada plebe a apertar os cintos frente a uma crise que se alastra, gigantesca, mascarada pela mídia.







terça-feira, 28 de agosto de 2012

SEGURANÇA ZERO





Gente alienada não se revolta com a falência institucional. Noticiosos causam indignação ante a barbárie reinante. Será que dona Dilma só vê a novela das nove, na TV? Assombrosa a pasmaceira geral! Crimes cruentos estampam manchetes. Comerciantes são vítimas de assaltos cotidianos. Larápios invadem os lares, praticando tortura e rapinagem. Morticínio no trânsito, estupros, carnificina por ciumeira, todo esse dantesco quadro de horrores medra sob o véu da impunidade, da frouxidão da lei, da incúria governamental ao desfalcar a polícia de meios para enfrentar os malfeitores. Menores delinquentes inimputáveis! Adolescentes drogados, famintos, violentos, tomam de assalto ruas e avenidas, matando a sangue frio. É um salve-se quem puder! População jogada à própria sorte pela inércia das autoridades. Legisladores omissos, corruptos, obcecados pelas artimanhas da politicagem; julgadores complacentes, pusilânimes, aplicando penas brandas, improfícuas; prisões abarrotadas, vigilância conivente, num entra e sai de fugas e desregramentos. Tolerância zero para a bandidagem, a solução! Não obstante, é de pasmar a cínica recomendação para não reagirmos à ladroagem, em ato de covarde submissão e entrega de bens patrimoniais havidos com parcimônia e sacrifício, ao longo dos anos...







terça-feira, 21 de agosto de 2012

CASTELOS DE AREIA





Tal qual o corpo, a alma tem seus caprichos. Fulano, enamorado, via seu coração disparar toda vez que a moça passava, entornando graça e sensualidade pelas calçadas. Formosa, lindos cabelos ondeando como trigais ao vento. Em louca fantasia, a mente dele vagueava pela sinuosidade daquelas curvas, percorrendo lascivos contornos, em febris anseios. Sofria, contudo, pela indiferença da sua deusa! Nem sequer um furtivo olhar! Passam-se os meses. Ele ainda sonhando com promissor romance. Solitário, aquele homem não vislumbrava nenhum futuro que não fosse ao lado da mulher amada. Certo dia, ela o encarou por primeira vez, esboçando sorriso tênue. Foi como se o mundo desabasse! Trêmulo, sentiu renascerem esperanças já desvanecidas. Sua timidez rendeu noites de vigília, decorando frases para o temerário assédio. Premunido de coragem, gaguejante, ele foi à luta e por fim se declarou. Ela correspondeu! Novos encontros se sucederam. Agora, no auge da paixão, ambos estão enredados no amoroso enlevo de ardentes arroubos pecaminosos. Casaram. Decorridos alguns anos, o apoteótico final do arrebatador enlace: sexo uma vez por mês, obrigacional; dois filhos rebeldes, drogados; ela obesa, fixada em novelas; ele pançudo, fanático por futebol. Divórcio à vista, a tábua de salvação!



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

FONTE DA JUVENTUDE





Alento aos que já dobraram o cabo da boa esperança! Pesquisas com ratos frearam seu envelhecimento, revertendo a fraqueza muscular. Nascidos com prazo de validade, sofremos desgastes orgânicos pela oxidação das células, estilo de vida, atividade física, meio ambiente e dieta alimentar. Japoneses estão na linha de frente, obedientes à máxima de “comer até estar 80% satisfeito”. Sete horas de sono e sexo duradouro seriam fundamentais, em consonância com a lição de Osho, ao preconizar que a natureza só preserva espécimes válidos para reprodução. Observa ele que a saúde de um povo estaria na relação direta com o número de farmácias existentes nas localidades. Então, algo deve estar errado! Basta atentar para o expressivo índice de casas especializadas na venda de remédios. Numa inversão de valores, melhor cuida a medicina da cura do que da prevenção das doenças! Paradoxalmente, a expectativa de vida aumentou, graças ao avanço da ciência. Em contrapartida, patologias de toda ordem continuam minando os frágeis organismos humanos! Ninguém chega à velhice com saúde, o que seria normal. Impera a morbidez hipocondríaca: drogas para tudo, até para dormir ou obter ereção! O homem é aquilo que come (no bom sentido, é claro). Não residiria aí a origem de todos os males?...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

LIBELO CONTRA A BARBÁRIE





Menores de dezoito anos, penalmente incapazes! Critério ungido pelo código de 1940, vigorante apesar da avalanche criminal. Em contradição, para fins eleitorais a lei considera capaz o maior de dezesseis anos! Pregoeiros desse disparate sustentam ser culpa dos governantes o aumento da criminalidade; que as sanções aplicadas aos maiores não são regenerativas; e mais, que a penalização do menor abarrotaria presídios... Bazófias. Realmente, o Estado é responsável pela miséria e insegurança! Caos na saúde pública e na educação, gerando essa malta que entope morros e vielas. Viveiros da corrupção, da politicagem e do desvio de verbas para funambulesco circo - a copa do mundo. Suspeitos os financiamentos para construção de imponentes estádios, enquanto hospitais, escolas e delegacias são tugúrios, infectos pardieiros! Triste cenário, onde medra uma debochada legião de delinquentes juvenis assaltando e matando com frieza e selvageria! Nascidos na penúria, e famintos, eles nada têm a perder! E o tráfico a se alastrar, em descontrole! Drogada, sorrateira e furtiva, a molecagem se desforra na prática de barbáries. Redução da idade penal! É o gemente clamor de uma sociedade ultrajada e à mercê do banditismo, que prolifera, em progressão, impune e marginalizado.



segunda-feira, 23 de julho de 2012

O REI ESTÁ NU



Difícil agradar a todos durante todo tempo. Daí a imperiosidade de variar assuntos, com alternâncias entre lirismos e enfoques polêmicos. A atualidade política me faz, por vezes, perder a paciência e verberar sobre pérfidas colocações. “Si hay gobierno, soy contra!”, frase de conotação anarquista, transmissiva de revolta contra engodos, corrupção, desigualdades e malversação de verbas. Situacionistas relevem a denúncia, mas há tanta coisa errada no trato da coisa pública que é imperdoável calar. Decepcionada com o pífio desempenho do PIB, cujos parâmetros dão a medida exata do desenvolvimento pátrio, a Presidente sofismou, dias atrás, procurando minimizar o retrocesso da economia. Tergiversou, ao afirmar que o importante é a preocupação com as crianças e adolescentes... Ora, tenham paciência, a ninguém é lícito ignorar que os nossos índices de mortalidade infantil se equiparam aos dos povos mais atrasados do mundo! Meninos de rua ao relento, sem escola, drogados, vivendo nas sarjetas! Ensino público, um descalabro! De nada adianta brandir com o ludíbrio, propalando inverdades, quando a realidade salta aos olhos, gritante, escancarada, colocando a nu o nosso doloroso estado de penúria e miséria social. Indago, enfatizando o despropósito da contradição: como compatibilizar o incremento da educação e o necessário amparo assistencial devido à infância, com a absoluta carência de recursos e finanças combalidas?

quarta-feira, 18 de julho de 2012

JUÍZO FINAL



Tarde gris, clima hibernal, pensamento vagando ao embalo das frias ondas do mar. Recessão, folhas levadas pelo ruflar do velho vento vagabundo. O Inexorável ciclo do tempo a transmudar cenários nas deslumbrantes telas da criação. Esmaecer da genialidade artística, sublime obra da geração espontânea do universo, pincelada em matizes de cores, rutilâncias e resplendores então realçados por refulgentes luares e clarões de sol. Lástima que o homem não saiba valorizar os encantos dessa moldura! Os reluzentes coloridos da natureza jazem desbotados e pendem para o cinzento, não só pela invernia, como, também, por efeito da devastação das matas e poluição dos rios. Sintomática imolação das pequenas coisas que alegravam nossa existência em noites cálidas de verão, já não mais iluminadas pelo poético cintilar de vagalumes. Cigarras calaram o estrídulo do seu belo cântico matinal ou crepuscular! Também os sabiás emudeceram os afinados gorjeios musicais que davam alvíssaras ao nosso despertar! São premonitórios de um futuro sombrio, prenunciando tormentosos flagelos e calamidades. Todavia, é tempo ainda de exorcizar esse lúgubre panorama através da premente erradicação da miséria e da obtusidade de uma população entorpecida, que chafurda no lixo e persiste na criminosa sanha de destruição da flora, num flagrante atentado à preservação das espécies que habitam a natureza.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

MACHISMO, ASCENSÃO E QUEDA





Origem patriarcal revela o homem primitivo dedicado à caça e pesca; a mulher voltada para o plantio e cuidados com a prole. A evolução forjou a vida citadina, a industrialização e o sedentarismo. Homem enfraquecido, terno e gravata, automóvel, confinado em paredes. Vitoriosas as mulheres na luta pela igualdade, a ombrear com o macho em todas as atividades. Advento do matriarcado: a Presidente da nação com a sua corte ministerial, mais lideranças do “sexo frágil” também no panorama internacional. Vertiginoso o ritmo ascensional da pujança feminil! Tanto que, décadas atrás, nossa lei civil considerava a mulher relativamente incapaz, equiparada aos silvícolas! Hoje desvestida dos femíneos atributos, agora de cabelos curtos, calças compridas, independente, com músculos de academia! Ao revés, o homem se apresenta menos másculo, fala fina, brincos, bolsa a tiracolo, corpo liso e depilado. Ciência aperfeiçoando a reprodução in vitro, a desbancar o macho da sua primordial função de fecundar a fêmea através do sêmen - fonte e manancial da vida. Resta a nós, recalcitrantes em debandada, melhor apego à decadente virilidade, convictos de que as fêmeas, por demais inteligentes, jamais cogitarão de substituir a injeção fecundante pelo inefável prazer peniano...

terça-feira, 26 de junho de 2012

HOMEM SÁBIO



Hoje estou invocado com a espécie humana. Assunto controverso, gerador de polêmica. Não é esse o meu intento, faço mero desabafo. Ao invés de homo sapiens, estou mais para homo erectus (no bom sentido, é claro). Decorridos cerca de dois mil anos, o homem continua o mesmo troglodita de tempos imemoriais. A evolução só ocorreu no terreno das ciências e das artes. Comprovação disso, o circunstancial dos dias atuais, repontando o bestial modus vivendi desse autócne cognominado animal racional. Dentre todos os espécimes que habitam a natureza, o homem assombra pela irracionalidade! Ressalvadas honrosas exceções, esse hominídeo é maldoso, ferino, perpetra crimes hediondos, estupra até familiares, rouba, vive de guerras, maltrata animais, destrói a fauna e se emporcalha, infernizando a vida terrestre. No cometimento dessas barbáries, o ser humano envilece na prática de selvagerias, bombardeando cidades e assassinando legiões de inocentes, num tropel de covardias que não respeita nem velhos nem mulheres nem crianças. Diante desse macabro cenário, horroroso e dantesco, dá ganas de bater em retirada, em figurativa regressão ao tempo das cavernas, para fugir do avassalador massacre da repulsiva politicagem e do cruel noticiário que atormenta o nosso cotidiano.







segunda-feira, 28 de maio de 2012

MUNDO MODERNO

Avulta a ascensão das mulheres em todos os setores da atividade. Cursando Direito, décadas atrás, quatro ou cinco moças integravam turmas de cem barbados. Hoje, somam elas percentual equivalente a 70% dos aprovados em universidades. Retorno do matriarcado: mulheres ditando as regras; homens, amestrados, obedecendo! Poder absoluto do sexo feminino assumindo as rédeas e dando de relho, seja na órbita doméstica ou profissionalizante. Nada contra, sempre fui a favor das mulheres, devotado admirador que sou das suas decantadas virtudes envolvendo competência e dedicação. Mas tudo tem seu preço: elas agora depressivas, por força da sobrecarga de responsabilidades frente ao desdobre entre atividades do lar e trabalho remunerado; eles relegados a segundo plano, complexados, sexualmente impotentes, saudosos da antiga prevalência e alardeada superioridade. Estatísticas atuais dão conta da carência numérica de homens em relação ao crescente universo existencial das mulheres. Resultado: gravidez reprimida, desestruturação do núcleo familiar e incremento do homossexualismo feminino. Aleluia! Nós outros, viris espécimes remanescentes da masculinidade - outrora impetuosos caçadores femíneos - ora reduzidos, pela reversão dos costumes, à mera e eufemística condição de caça...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

SANHA TOTALITÁRIA

Denunciei, alhures, a maquiavélica ingerência do poder público a se imiscuir na vida privada dos cidadãos. Exorbitâncias através de leis estapafúrdias, cujas excrescências enredam as criaturas, com esgares totalitários! Intromissão absurda em áreas que absolutamente não são da competência estatal, assim quando intervêm na intimidade das relações afetivas, como as uniões livres, a homossexualidade, casamentos gay e mais direitos inalienáveis do indivíduo. Abstração feita ao obscurantismo de outrora, ao dogmático e anacrônico fanatismo religioso, o passado evidencia a proficiência da moderada aplicação das leis nesse campo, observados os limites e sua restritiva abrangência na esfera particular. Eis aí o segredo da atual geração que primou sempre pela compostura no trato e na solução das questões pertinentes à ordem estritamente privativa e que dizem respeito à liberdade individual. A aprovação de legislação esdrúxula, que extrapole desses parâmetros, há de agravar uma conjuntura que configura manifesta inversão de valores.Funestas consequências desses disparates: frustrações na esfera amorosa, conflitos familiares, juventude indisciplinada, rebelde, internética, pais desmoralizados!

terça-feira, 1 de maio de 2012

ELOGIO DA BURRAGEM

Disse Rui, desconfiando que a burrice é uma ciência: de tanto ver triunfar as nulidades e agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem há de sentir vergonha de ser honesto! Verdade translúcida nos dias de hoje. Em flagrante contraste com os avanços tecnológicos das nações mais desenvolvidas, nosso país dorme em berço esplêndido, sob a letárgica e modorrenta sonolência de uma população inculta e apassivada. Terreno fértil para a ascensão da mediocridade imperante! Preço pago por uma geração apática, caracterizada pela frouxidão e indiferença aos desmandos e à corrupção reinantes nos altos escalões da república. Causa desse desmazelo, a displicência de uma minoria talentosa cujo alheamento dá margem à ascensão de grupelhos obcecados pelas vantagens do poder. Caterva de apaniguados composta por apedeutas obstinados pela conquista de cargos, via de regra obtidos à custa de compadrismos e bajulações. Entrincheirada, essa camarilha ergue inexpugnáveis fortalezas para salvaguarda dos proveitos auferidos, frutos do arrivismo e da esperteza de uma casta envilecida. Deplorável conclusão: o poder quase nunca é obra da inteligência! Para subir é imprescindível o jargão da burragem! Poucos os escolhidos, só os que rezam pela mesma cartilha dos pregoeiros do ludíbrio.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Fragmentos da Verdade


Borges disse que sua obra era autobiográfica, desconhecendo uma só linha da literatura universal que não tivesse essa conotação. Para Goethe, os livros são fragmentos de uma confissão. Seriam os livros biografias dos escritores? Verdadeira a tese, vou cuidar melhor daquilo que escrevo! Entrevistado por Luiz Carlos Prates, ante microfones da Rádio CBN e câmeras da RBS TV, ao ensejo do lançamento de “Os Seios de Joana”, deparei-me com sibilina pergunta do comunicador: “algumas peripécias sexuais narradas na obra foram experiências vividas por ti?” Colhido de surpresa respondi serem frutos da imaginação. Díspares os meus livros: um sério, outro fantasioso. A julgar pelo segundo, contos eróticos, minhas narrativas poderiam ser, por equívoco, interpretadas como instigadoras de práticas licenciosas. Quando, na verdade, o propósito foi investir contra a repressão sexual fomentada por preceitos religiosos que apregoam falsos moralismos. O sexo move o mundo! Tanto que dediquei o livro àqueles que vislumbram nos atos amorosos fontes de vida no universo, inspiradoras de todas as artes. A subsistir dúvida sobre o cunho ficcional dos textos, pondero não ser justo levar fama sem proveito. Quem dera tivessem sido verdadeiros os entreveros de alcova descritos na obra!...

sábado, 7 de abril de 2012

CELEBRAÇÕES PASCAIS


É Páscoa! Corações jubilosos realimentam sonhos que se renovam pelas comemorações da festa da cristandade. São esperanças voltadas para a realização de novos projetos e iniciativas. Todo ano é a mesma coisa. Urge aproveitar essa passagem buscando alento nos ensinamentos apregoados pela espiritualidade, cujos superiores lineamentos atravessaram os séculos, iluminando gerações. As caridosas lições de desprendimento, humildade e sabedoria, tais como preconizadas pelo Cristo, são sendas que se entreabrem aos itinerantes, repontando atalhos para um viver harmônico e desapegado da vã matéria, das fruições e frívolas vaidades. Louvados nesses sábios preceitos, ergamos nossos pensamentos para o alto, em reverências evocativas, já agora reenergizadas pelas efervescentes irradiações legadas pela mística da ressurreição. Rogando para que luzes e bênçãos recaiam sobre os homens de boa vontade, louvemos o redespertar da vida, em altissonantes preces e vibrações de alegria, brindando pela contagiante felicidade de existir e cultivar amigos. Feliz Páscoa para todos!

sexta-feira, 30 de março de 2012

ENFUNANDO VELAS


Metáfora de rara beleza: a vida é uma viagem! Sem retorno. Passagem só de ida, em navio que ruma para um inexorável destino, a morte. Em cada porto, uma sucessão de acasos: passageiros embarcando, outros descendo, alguns lançados ao mar durante a travessia... A bordo, despedidas, novas amizades, conquistas, desenganos... Durante o percurso, escotilhas descortinam céu azul ou maresias, entremeando luzes e temporais. A existência não pode prescindir do conhecimento. As marés da vida aniquilam os fracos, revigorando os fortes. O fadário aponta para uma nova realidade comportamental, ancorada nos fundamentos do carpe diem. Usufruir o aqui e agora, atentos a inefáveis gozos e carnais anelos, posto que a ninguém é dado saber do dia de amanhã. O presente, como o próprio nome indica, deve ser encarado como um regalo, com mesclas de contubérnio e afeto. Curvo-me à assertiva que adverte: “vive cada jornada como se fosse a última, pois um dia você acerta”! Deixando de lado macambúzias divagações, um farol existencial há de orientar os navegantes para uma vida estreme de melindres e ostentações. Bom demais é tocar o remo devagar, barco ondulando ao sopro da brisa leve e calmarias, num verde mar de esperanças, livre dos rochedos e distanciado do ilusório canto das sereias.

terça-feira, 13 de março de 2012

AMARGO DESPERTAR


Escrevi, alhures, ter sido a criação de Brasília um tresloucado sonho que enriqueceu alguns e depauperou a nação. Obras faraônicas, desvio de recursos, festival de gastanças! JK, com sua aura de “peixe vivo” e mentor do mirabolante projeto, revelou-se, como Presidente, um elegante dançarino! Sequer elegeu seu sucessor. Culminou derrotado pelo “homem da vassoura”, que prometia varrer a corrupção. Como se não bastara, JK foi artífice de outro desatino: deu primazia ao carro e incrementou as rodovias, soterrando a via férrea, transporte bem mais seguro e econômico. Funestas consequências disso: asfalto mal conservado, transporte restrito a automóveis, ônibus e jamantas, sobrecarregando estradas sem condições de trafegabilidade. Sobreveio o pandemônio, essa parafernália de horrores, com ruas e avenidas esburacadas, abarrotadas de veículos em alta velocidade, por força do criminoso abandono, péssima sinalização e total ausência de policiamento. Vitimada por esse cruento cenário, clama e geme uma população afligida pelos congestionamentos, acidentes e morticínios! Todo esse horripilante quadro ainda vigora, sob o olhar complacente dos atuais governantes, para opróbrio, luto e vergonha do sofrido povo brasileiro.

quinta-feira, 8 de março de 2012

EXALTAÇÃO ÀS MULHERES


Em data tão significativa para o mundo inteiro, associo-me às homenagens que estão sendo prestadas às mulheres, desnudando alma e sentimentos aqui revelados em cálidas exaltações aos angelicais atributos feminis. Mulheres constituem a essência, o requinte e o fundamento das nossas vidas! Sem elas, tudo perde a graça, a razão de ser e de existir! Deusas onipotentes, aureoladas por candura, meiguice, inteligência e bondade, seus múltiplos predicados fazem-nos cativos da sua marcante personalidade. Obras primas da natureza, perfumosas como as flores, iluminam e transfundem colorido em qualquer ambiente, tornando-o fúlgido em resplendores de luzes e arrebatamento! Sexo frágil, não! Os tempos forjaram sua anímica fortaleza sensorial, tornando-as retemperadas de energias e libertas da opressão, sobrepondo-as num ascendente patamar de liderança em todos os setores da atividade humana. Hoje não mais existe feiura. Todas são belas e sedutoras sob o aprumo da tecnologia e da cosmética. Com intuição, delicadeza, carinho, dobram qualquer homem, infundindo-lhe a doce ilusão do mando, subjugando-o sob o fetiche dos seus encantos! Parafraseando frase de Vinícius sobre o ditame da beleza, contraponho: as feias que me perdoem, mas a beleza interior é fundamental!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

MEDO DE AMAR


Para variar, uma história de amor, fantasiosa e imaginativa. Semelhanças com pessoas ou circunstâncias, mera coincidência, tal como narrada: “Solitário e amargurado, ele sofre com as recordações de um passado remoto, o pensamento voltado para uma bela mulher que um dia cativou. Como num sonho, ensimesmado, revê aquelas curvilíneas formas envoltas numa aura de resplendente formosura. Relembra, nostálgico, da vez primeira em que a possuiu, ela toda feita de carinho, encarnação do pecado, do recato e da luxúria! Enfeixava ela, no seu universo corpóreo e espiritual, excelsas virtudes que realçavam sua fulgurante personalidade. Especialmente, quando, na intimidade das carícias, pálida e ofegante, ela se entregava, estremunhada, à sofreguidão e ao enlevo das primícias amorosas. Estigmatizado pelo remorso, ele hoje deplora a covardia de então, ao refugar comprometimentos. Sestroso e cheio de vaidades, passara a guardar distâncias dela, aconchegado em outros braços, depreciando a dádiva da conquista. Para concluir, tardiamente, agora: só a inclemência do tempo, com suas mudanças, ensina a valorizar pessoas e fatos marcantes da existência, enraizados no inconsciente, fazendo com que a alma se dessangre em culpas e contrições, na agônica tortura de cruciais padecimentos...”

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

INSTITUIÇÃO FALIDA


Escrevo sobre o casamento, em tese. Recente entrevista dá conta do ínfimo percentual de uniões felizes. Evidência maior da derrocada, as dificuldades inerentes à chamada sociedade conjugal, em franca decadência. Segundo preconizam os doutos, as sociedades, in genere, constituem fontes de atrito e pressupõem a existência de liderança. Onde, pergunto, a pretensa igualdade entre os cônjuges? Iniludível o raciocínio de que o matrimônio é matriz de discórdias. As criaturas sofrem mutações no decorrer do tempo, evoluindo umas, ficando outras estagnadas. É quando sobressaem os diferenciais, explodem as ciumeiras e as malquerenças, próprias de uma convivência rotineira e acomodatícia, quase sempre possessiva. A igreja e o Estado, ardilosamente, vislumbraram nessa aberratio, que é a sociedade nupcial, o ferrete para amestrar pessoas, manietando-as com os torniquetes da lei e dos “sacrossantos” dogmas religiosos. Foi assim que a cristandade passou a fazer parte do imenso rebanho pastoreado por religião e politicalha. Não bastasse a absurda indissolubilidade do vínculo esponsalício, pela crença religiosa, o Estado passou a estender seus tentáculos, imiscuindo-se até nas relações de ordem familiar e também nos direitos inalienáveis do indivíduo, privando-o do supremo bem que é a liberdade.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

DIGRESSÕES ERRADIAS


Por injunções circunstanciais sou propenso a suavizar a temática, optando por textos leves e descompromissados com a realidade político-econômica brasileira. Receoso de que assuntos de maior relevância sobre a atual conjuntura não encontrem ressonância nem receptividade junto ao foro citadino. Assim, ainda que pesarosamente, sou forçado a admitir que vivemos num país que não é serio, sabido que para uma maioria apassivada sobrelevam interesses voltados para o consumismo, a balada, o futebol , a jogatina e o carnaval. Nesse particular, o cenário pátrio se apresenta contristador! Fazendo coro a essas desafinadas orquestrações, a mídia se restringe ao enfoque de politicagens, em descompasso, contribuindo para que outros temas de ordem prioritária sejam relegados a plano secundário. Influentes órgãos da imprensa nacional estão atrelados aos governantes. Num deprimente espetáculo de vassalagem, se esmeram em babujar os poderosos, com mãos estendidas e pegajosas, a rogarem, súplices, as sobras do banquete. Mas a nossa Santiago - sobranceira “Terra dos Poetas” - a tudo isso se sobrepõe, num grandiloquente exemplo de altivez e soberania, orgulhosa do seu jornal e do invejável descortino dos seus representantes.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

REBUSQUES GAUDÉRIOS


Abrandar a escrita, aconselham-me alguns. Utilização de fraseado simples, consonante com o baixo nível de instrução pátrio. Pesquisas revelam: metade da população brasileira é semi-analfabeta! Nivelar por baixo seria, então, compactuar com a aberração do “lulês”, apregoado pelos corifeus do poder, onde despontam apedeutas com arreganhos de saber. Acomodar a escrita ao perfil da maioria em nada haveria de contribuir para o aprimoramento do nosso padrão cultural. Seria como negar acesso popular à música erudita. Certa feita, muito elogiei minha querida Santiago do Boqueirão pela existência do Clube Amigos de Beethoven. Pois houve quem me contestasse, sustentando que a comunidade deveria cultuar somente os ritmos galponeiros e popularescos! Sem demérito algum para os nativistas, a difusão da música clássica só dignifica nossa designada "Terra dos Poetas", fazendo jus à decantada intelectualidade dos seus expoentes. Escrever é fácil, mesmo com parco vocabulário reduzido a meia dúzia de palavras! No entanto, a beleza da escrita subsume a lapidação da frase, o garimpo da palavra certa, a musicalidade da prosa, pinçando verbos e colorindo sentenças. Em contraposição ao lixo vocabular do “internetês”, repositório de expressões chulas e crassos erros idiomáticos. Tudo num flagrante atentado à correção do vernáculo e perniciosa afronta à última flor do Lácio, numa feroz arremetida contra a erudição.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CONFLITOS EXISTENCIAIS


Nestes conturbados dias, recurso à terapia se afigura solução para problemas psicológicos. Responsabilidade para desajustes seria atribuível aos circunstantes. Sempre haverá um bode expiatório... Modismo talvez, revelador de status, sintomático é recorrerem ao tratamento só pessoas abastadas! Pobres não possuem tempo nem recursos para tais extravagâncias! Castas privilegiadas são suscetíveis ao vertiginoso ritmo da vida moderna, vaidades aciduladas pelas aparências, emulações, querelas, ambições por cargos, posições e honrarias. O terapeuta, também fragilizado e vítima dos mesmos entraves, é todavia encarado como iluminador das trevas, com capacidade para readaptar o paciente ao meio social onde convive. Empreitada difícil e de resultado incerto! É que, por vezes, o profissional se revela conservador, de formação influenciada por conceitos anacrônicos, sob a pressão de uma sociedade hipócrita e decadente. Diretrizes convencionais inadequadas incorrem no risco de reorientar por descaminhos, gerando frustrações de expectativas terapêuticas. Nesse particular, Freud foi um desbravador. Mas Reich – genialidade fronteiriça com a loucura – foi além, dando relevância aos males da repressão sexual como determinantes das neuroses e desequilíbrios de ordem emocional.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A CIDADE E AS SERRAS


Eça de Queirós, renomado autor lusitano, escreveu, décadas atrás, notável obra intitulada “A Cidade e as Serras”. Nela, debatia o conflito do viver citadino, em antítese à vida campestre, distante do luxo e das frivolidades urbanísticas. Malgrado o tempo decorrido, o tema continua atualizado. Evidencia o contraste entre uma vida natural e saudável, em confronto com os ruídos da cidade, o luxo, a ganância e as emulações próprias do viver em sociedade. Guardadas as proporções, tenho bem presente esse dilema: mocidade vivida na minha querida Santiago, dos áureos tempos de calmaria; após, na quadra dos vinte anos, na Capital do Estado, populosa e febricitante; hoje, já numa praia tranqüila de Floripa, envolto no silente rumor das ondas do mar e trinar dos pássaros no arvoredo. Onde o melhor lugar? Opto pelo Santiago antigo, de par com meu atual rancho praieiro. Corolários de um viver desapegado das coisas materiais. O ideal ressuma na simplicidade, na reformulação de errôneos preceitos legados por antecessores enredados nos descaminhos da vida. Acertados, quem sabe,estariam índios e povos nômades, porque libertos dos confinamentos e do ilusório conceito de propriedade, tolhedores do anseio de um voejar mais alto, olhos fitos nos páramos da beatitude universal.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

GIGANTISMO E DESGOVERNO



Floripa alternando dias ensolarados com chuvaradas, temperatura amena, praias cheias, gente aproveitando as delícias do mar. Em frontal oposição à estiagem no Sul e alagamentos em outros Estados, morros desabando, casas destroçadas pela intempérie. De um lado, as queimadas, plantações torrificadas, abrasando o verdor do pago; de outro, gente chafurdando no lodaçal, vidas destruídas, o fragor da miséria! Contrastes de um país de dimensões geográficas descomunais! Dever de todos acompanhar a problemática ambiental e suas sequelas no meio social. Nesse cenário contristador, causa revolta a incúria, o desleixo e a imprevidência dos governantes no enfrentamento desses flagelos que atormentam o solo pátrio. Maioria só pensando na eleição, alienada desses prioritários encargos. Estadistas deveriam possuir formação especializada para o bom desempenho do mandato. A política é uma ciência da qual poucos entendem, muito menos alguns politicóides! Vivemos num País continental. O cone Sul, com suas peculiaridades, clima, raízes, tradições... O restante da nação apresenta discrepâncias e peculiaridades próprias: outros costumes, distinto linguajar, características inconfundíveis. Só para ilustrar, o Uruguai, já designado “Suíça sul-americana“, possui área geográfica equivalente ao nosso Rio Grande, facilitando, sobremaneira, o controle das finanças e da corrupção. Separatismo? Tresloucado sonho, utópica fantasia! Vedado pela constituição, que poderia, em tese, ser reformada. E o nosso gigante adormecido, com esse diferencial étnico e consuetudinário, como gerir e administrá-lo, concentrando os caprichos do mando numa só criatura, deslumbrada pelo poder e soberana de todas as vontades?!