domingo, 26 de fevereiro de 2012

MEDO DE AMAR


Para variar, uma história de amor, fantasiosa e imaginativa. Semelhanças com pessoas ou circunstâncias, mera coincidência, tal como narrada: “Solitário e amargurado, ele sofre com as recordações de um passado remoto, o pensamento voltado para uma bela mulher que um dia cativou. Como num sonho, ensimesmado, revê aquelas curvilíneas formas envoltas numa aura de resplendente formosura. Relembra, nostálgico, da vez primeira em que a possuiu, ela toda feita de carinho, encarnação do pecado, do recato e da luxúria! Enfeixava ela, no seu universo corpóreo e espiritual, excelsas virtudes que realçavam sua fulgurante personalidade. Especialmente, quando, na intimidade das carícias, pálida e ofegante, ela se entregava, estremunhada, à sofreguidão e ao enlevo das primícias amorosas. Estigmatizado pelo remorso, ele hoje deplora a covardia de então, ao refugar comprometimentos. Sestroso e cheio de vaidades, passara a guardar distâncias dela, aconchegado em outros braços, depreciando a dádiva da conquista. Para concluir, tardiamente, agora: só a inclemência do tempo, com suas mudanças, ensina a valorizar pessoas e fatos marcantes da existência, enraizados no inconsciente, fazendo com que a alma se dessangre em culpas e contrições, na agônica tortura de cruciais padecimentos...”

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

INSTITUIÇÃO FALIDA


Escrevo sobre o casamento, em tese. Recente entrevista dá conta do ínfimo percentual de uniões felizes. Evidência maior da derrocada, as dificuldades inerentes à chamada sociedade conjugal, em franca decadência. Segundo preconizam os doutos, as sociedades, in genere, constituem fontes de atrito e pressupõem a existência de liderança. Onde, pergunto, a pretensa igualdade entre os cônjuges? Iniludível o raciocínio de que o matrimônio é matriz de discórdias. As criaturas sofrem mutações no decorrer do tempo, evoluindo umas, ficando outras estagnadas. É quando sobressaem os diferenciais, explodem as ciumeiras e as malquerenças, próprias de uma convivência rotineira e acomodatícia, quase sempre possessiva. A igreja e o Estado, ardilosamente, vislumbraram nessa aberratio, que é a sociedade nupcial, o ferrete para amestrar pessoas, manietando-as com os torniquetes da lei e dos “sacrossantos” dogmas religiosos. Foi assim que a cristandade passou a fazer parte do imenso rebanho pastoreado por religião e politicalha. Não bastasse a absurda indissolubilidade do vínculo esponsalício, pela crença religiosa, o Estado passou a estender seus tentáculos, imiscuindo-se até nas relações de ordem familiar e também nos direitos inalienáveis do indivíduo, privando-o do supremo bem que é a liberdade.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

DIGRESSÕES ERRADIAS


Por injunções circunstanciais sou propenso a suavizar a temática, optando por textos leves e descompromissados com a realidade político-econômica brasileira. Receoso de que assuntos de maior relevância sobre a atual conjuntura não encontrem ressonância nem receptividade junto ao foro citadino. Assim, ainda que pesarosamente, sou forçado a admitir que vivemos num país que não é serio, sabido que para uma maioria apassivada sobrelevam interesses voltados para o consumismo, a balada, o futebol , a jogatina e o carnaval. Nesse particular, o cenário pátrio se apresenta contristador! Fazendo coro a essas desafinadas orquestrações, a mídia se restringe ao enfoque de politicagens, em descompasso, contribuindo para que outros temas de ordem prioritária sejam relegados a plano secundário. Influentes órgãos da imprensa nacional estão atrelados aos governantes. Num deprimente espetáculo de vassalagem, se esmeram em babujar os poderosos, com mãos estendidas e pegajosas, a rogarem, súplices, as sobras do banquete. Mas a nossa Santiago - sobranceira “Terra dos Poetas” - a tudo isso se sobrepõe, num grandiloquente exemplo de altivez e soberania, orgulhosa do seu jornal e do invejável descortino dos seus representantes.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

REBUSQUES GAUDÉRIOS


Abrandar a escrita, aconselham-me alguns. Utilização de fraseado simples, consonante com o baixo nível de instrução pátrio. Pesquisas revelam: metade da população brasileira é semi-analfabeta! Nivelar por baixo seria, então, compactuar com a aberração do “lulês”, apregoado pelos corifeus do poder, onde despontam apedeutas com arreganhos de saber. Acomodar a escrita ao perfil da maioria em nada haveria de contribuir para o aprimoramento do nosso padrão cultural. Seria como negar acesso popular à música erudita. Certa feita, muito elogiei minha querida Santiago do Boqueirão pela existência do Clube Amigos de Beethoven. Pois houve quem me contestasse, sustentando que a comunidade deveria cultuar somente os ritmos galponeiros e popularescos! Sem demérito algum para os nativistas, a difusão da música clássica só dignifica nossa designada "Terra dos Poetas", fazendo jus à decantada intelectualidade dos seus expoentes. Escrever é fácil, mesmo com parco vocabulário reduzido a meia dúzia de palavras! No entanto, a beleza da escrita subsume a lapidação da frase, o garimpo da palavra certa, a musicalidade da prosa, pinçando verbos e colorindo sentenças. Em contraposição ao lixo vocabular do “internetês”, repositório de expressões chulas e crassos erros idiomáticos. Tudo num flagrante atentado à correção do vernáculo e perniciosa afronta à última flor do Lácio, numa feroz arremetida contra a erudição.