sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CONFLITOS EXISTENCIAIS


Nestes conturbados dias, recurso à terapia se afigura solução para problemas psicológicos. Responsabilidade para desajustes seria atribuível aos circunstantes. Sempre haverá um bode expiatório... Modismo talvez, revelador de status, sintomático é recorrerem ao tratamento só pessoas abastadas! Pobres não possuem tempo nem recursos para tais extravagâncias! Castas privilegiadas são suscetíveis ao vertiginoso ritmo da vida moderna, vaidades aciduladas pelas aparências, emulações, querelas, ambições por cargos, posições e honrarias. O terapeuta, também fragilizado e vítima dos mesmos entraves, é todavia encarado como iluminador das trevas, com capacidade para readaptar o paciente ao meio social onde convive. Empreitada difícil e de resultado incerto! É que, por vezes, o profissional se revela conservador, de formação influenciada por conceitos anacrônicos, sob a pressão de uma sociedade hipócrita e decadente. Diretrizes convencionais inadequadas incorrem no risco de reorientar por descaminhos, gerando frustrações de expectativas terapêuticas. Nesse particular, Freud foi um desbravador. Mas Reich – genialidade fronteiriça com a loucura – foi além, dando relevância aos males da repressão sexual como determinantes das neuroses e desequilíbrios de ordem emocional.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A CIDADE E AS SERRAS


Eça de Queirós, renomado autor lusitano, escreveu, décadas atrás, notável obra intitulada “A Cidade e as Serras”. Nela, debatia o conflito do viver citadino, em antítese à vida campestre, distante do luxo e das frivolidades urbanísticas. Malgrado o tempo decorrido, o tema continua atualizado. Evidencia o contraste entre uma vida natural e saudável, em confronto com os ruídos da cidade, o luxo, a ganância e as emulações próprias do viver em sociedade. Guardadas as proporções, tenho bem presente esse dilema: mocidade vivida na minha querida Santiago, dos áureos tempos de calmaria; após, na quadra dos vinte anos, na Capital do Estado, populosa e febricitante; hoje, já numa praia tranqüila de Floripa, envolto no silente rumor das ondas do mar e trinar dos pássaros no arvoredo. Onde o melhor lugar? Opto pelo Santiago antigo, de par com meu atual rancho praieiro. Corolários de um viver desapegado das coisas materiais. O ideal ressuma na simplicidade, na reformulação de errôneos preceitos legados por antecessores enredados nos descaminhos da vida. Acertados, quem sabe,estariam índios e povos nômades, porque libertos dos confinamentos e do ilusório conceito de propriedade, tolhedores do anseio de um voejar mais alto, olhos fitos nos páramos da beatitude universal.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

GIGANTISMO E DESGOVERNO



Floripa alternando dias ensolarados com chuvaradas, temperatura amena, praias cheias, gente aproveitando as delícias do mar. Em frontal oposição à estiagem no Sul e alagamentos em outros Estados, morros desabando, casas destroçadas pela intempérie. De um lado, as queimadas, plantações torrificadas, abrasando o verdor do pago; de outro, gente chafurdando no lodaçal, vidas destruídas, o fragor da miséria! Contrastes de um país de dimensões geográficas descomunais! Dever de todos acompanhar a problemática ambiental e suas sequelas no meio social. Nesse cenário contristador, causa revolta a incúria, o desleixo e a imprevidência dos governantes no enfrentamento desses flagelos que atormentam o solo pátrio. Maioria só pensando na eleição, alienada desses prioritários encargos. Estadistas deveriam possuir formação especializada para o bom desempenho do mandato. A política é uma ciência da qual poucos entendem, muito menos alguns politicóides! Vivemos num País continental. O cone Sul, com suas peculiaridades, clima, raízes, tradições... O restante da nação apresenta discrepâncias e peculiaridades próprias: outros costumes, distinto linguajar, características inconfundíveis. Só para ilustrar, o Uruguai, já designado “Suíça sul-americana“, possui área geográfica equivalente ao nosso Rio Grande, facilitando, sobremaneira, o controle das finanças e da corrupção. Separatismo? Tresloucado sonho, utópica fantasia! Vedado pela constituição, que poderia, em tese, ser reformada. E o nosso gigante adormecido, com esse diferencial étnico e consuetudinário, como gerir e administrá-lo, concentrando os caprichos do mando numa só criatura, deslumbrada pelo poder e soberana de todas as vontades?!