sábado, 1 de março de 2014

TUDO É CARNAVAL


Povo nas ruas, nos salões, em meneios e estridências de cornetas e tambores. Festival da carne, reinado da folia, do prazer, das beberagens, da luxúria, da exacerbação dos sentidos, da libertinagem, do nudismo, da exposição de seios alabastrinos, siliconados, balouçantes. Traseiros requebrando na cadência de lúbricos anseios. E a plebe, anestesiada pelo álcool, pelas drogas, esquece as mazelas, a pobreza de uma nação em decadência. Olvida o infortúnio da copa perdulária, as agruras da politicalha eleitoreira. É carnaval! Descasos com o luxo, as gastanças, fantasias mirabolantes, o mercantil desfile das escolas - vitrine das vaidades. Frívolas criaturas, entronadas em andores plastificados, com refulgências de luzes, tintas e papelório. Artistas empavonados, recobertos de pelames, plumas e paetês. Irrelevantes os acidentes, os crimes, a sexualidade promíscua, o contágio, a ressaca, o desemprego, as faltas ao trabalho.  Exaltação da libido em oceanos de cerveja! Clamores do sexo sem amor. Ilusão fugaz que precede a quarta-feira. A canseira. Cinzas carregadas pela brisa. Agoniza a alegria, a turba já não berra! As garrafas estão vazias. Calaram os tamborins e a tristeza, nos camarins, assiste ao enterro da quimera. O silêncio é sepulcral: adormece, no homem, o animal.