sexta-feira, 19 de setembro de 2014

VANITAS VANITATEM



Levar vantagem em tudo, a regra. Desapego, hoje, figura de retórica! Criaturas voltadas para si, ególatras por ambição. Venerado como um deus, o vil metal rege o conturbado viver de uma maioria fixada em poses e aparências. Pobres de espírito, ensimesmados, a se enlamear no lodaçal das suas vaidades. A vaguear, obcecados pela imagem refletida nos olhos dos outros. Caprichoso, o destino cedo ou tarde irá despertá-los do torpor dessa miragem. A empáfia e a arrogância próprias desse frívolo proceder trazem à baila o escárnio de Fernando Pessoa: “”nunca conheci quem tivesse levado porrada...””  Ou a ferina ironia de Schopenhauer ao relatar os atos de execução de um condenado à morte  que havia solicitado, como último desejo, lhe fosse permitido tomar banho e fazer a barba. Indagava o filósofo: que importância teria, para um imbecil in extremis, o que dele poderiam pensar os assistentes, - um bando de paspalhos?  Coloco em realce tais enfoques para evidenciar os males que infernizam o existencial, advindos da soberba, ganância e emulações, abundantes nas relações interpessoais. Na vã esperança de que este libelo contra essas aberrações há de contribuir para um ideal fortalecimento dos sagrados laços de afetividade e fraternal convívio no âmbito familiar e societário. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A CARNE É FRACA

Oportuna abordagem na semana farroupilha.  Pesquisas científicas advertem: a carne vermelha é cancerígena e prejudicial ao coração! Seu consumo reduziria em 20% o tempo de vida, segundo testes realizados em 120 mil pessoas, desde 1980. Pobres de nós, míseros mortais cultores da churrasqueada domingueira, gordas costelas e suculentas picanhas dourando na brasa, enquanto a caipira corre solta e geladas loiras molham a prosa, ao compasso de milongas, risos e celebrações que acompanham o sagrado cerimonial  gauchesco. Desconheço algo mais aromático e provocativo do que o churrasco do vizinho! É quando se inflam as nossas narinas, olfateando  assados ao espeto, nossas bocas salivantes em agônicas frustrações da gula ensandecida. Nenhuma festança se iguala a esse sacrossanto ritual do pago. Mas qual!  Agora querem nos tirar até esse prazer?  Sei bem do cruento sacrifício dos pobres animais abatidos em holocausto aos nossos famélicos instintos. Nem ignoro os malefícios da cruel matança, do veneno dos antibióticos e das toxinas!  Mas a carne é fraca! Consolemo-nos, então, em última instância, com os carnais folguedos de alcova, regados a loiras em temperatura ambiente!  Esses sim, tidos como salutares, consagrados  à quintessência do supremo gozo universal.