sexta-feira, 22 de agosto de 2014

ELOGIO DA BURRAGEM



Disse Rui, desconfiando que a burrice é uma ciência: de tanto ver triunfar as nulidades e agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem há de sentir vergonha de ser honesto! Verdade translúcida nos dias de hoje. Em flagrante contraste com os avanços tecnológicos das nações mais desenvolvidas, nosso país dorme em berço esplêndido, sob a letárgica e modorrenta sonolência de uma população inculta e apassivada. Terreno fértil para a ascensão da mediocridade imperante! Preço pago por uma geração apática, caracterizada pela frouxidão e indiferença aos desmandos e à corrupção reinantes nos altos escalões da república. Causa desse desmazelo, a displicência de uma minoria talentosa cujo alheamento dá margem à ascensão de grupelhos obcecados pelas vantagens do poder. Caterva de apaniguados composta por apedeutas obstinados pela conquista de cargos, via de regra obtidos à custa de compadrismos e bajulações. Entrincheirada, essa camarilha ergue inexpugnáveis fortalezas para salvaguarda dos proveitos auferidos, frutos do arrivismo e da esperteza de uma casta envilecida. Deplorável conclusão: o poder quase nunca é obra da inteligência! Para subir é imprescindível o jargão da burragem! Poucos os escolhidos, só os que rezam pela mesma cartilha dos pregoeiros do ludíbrio.