sexta-feira, 13 de agosto de 2010

FRÍO EN EL ALMA


Relevem o portunhol. Cria das planuras fronteiriças de Santiago, gosto de tangos, de boleros e do idioma castelhano. Com remissão ao título, além do frio em nossas almas, acresce, na estação, igual frieza também em nossas combalidas carcaças. Sou desertor das plagas sulinas, por causa da gelidez que ronda as coxilhas gaúchas . Mas qual! Em agosto, sopra aqui em Floripa o tal de vento Sul, enregelando a cristandade. E o velho mar, enfurecido e bravio, se ouriça aqui na praia, encrespando-se em ondas espumantes, a escorraçar nossas pálidas sereias. Sobrevém o marasmo e a solitude das noites hibernais, com o desesperado refúgio ao fogo da lareira, ao vinho, e, para os sortudos, ao decantado cobertor de orelhas. Claro, existe o lado bom: hibernar feito ursídeos, estocando alimentos e dormitando para o engorde, à espreita do verão. Costumo provocar amigos, adeptos da frialdade, argumentando que não gosta de mulher quem prefere a invernia. Por quê? respondo-lhes: no inverno, aqueles seres divinais se ocultam debaixo de peles, saiotes, meias, botas, gorros e casacões, sonegando a nós outros - pobres mortais - suas curvilíneas formas e tudo o mais que de belo e resplendente lhes foi aquinhoado pela sábia natureza. Brincadeiras à parte e respeitando opiniões em contrário, saudemos o porvir das cálidas noites de verão, a placidez dos dias azuis e ensolarados, na luminosa moldura flórea dos campos e matas verdejantes. Tudo isso, com arremates e tilintar de copos, aos brindes e libações de não congeladas loiras, em cânticos e louvores à ressurreição da vida.

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