quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ESSES MOÇOS


Inicío por enaltecer a música,que emoldura os nossos dias e cujos acordes , mais rútilas fulgurâncias, entornam de poesia o quotidiano. Melodias despidas de letras são quadros sem moldura. Admiro o fraseado perspicaz, adornado de encantos e sentido filosófico, sinalizando rotas e prevenindo descaminhos. Valho-me do velho Lupi, ao insculpir sábio preceito no seu enluarado samba-canção “Esses Moços”, assim recortado: “...Saibam que deixam o céu por ser escuro /E vão ao inferno à procura de luz...” A meu juízo, a frase mais bonita da música popular brasileira. Atentem bem para a sua profundidade: céu escuro, o celibato; inferno com luz, o casamento! Pouca gente sabe, Túlio Piva me contou: um amigo de Lupiscínio (cujo nome prefiro omitir) estava prestes a casar. Lupi, cultor das madrugadas e notívago por excelência, desaprovava o enlace, por razões de foro íntimo. Desconfiava que a noiva não seria a mulher ideal para o companheiro. De outra parte, estava convicto de que o enlace implicaria na perda do velho parceiro de tantas noitadas. Então, a título de advertência, compôs esse esplêndido hino laudatório da boemia e candente libelo contra os grilhões matrimoniais. Consta que, apesar disso, o casamento foi celebrado e a cônjuge mulher teria cortado relações com o compositor, esfriando a amizade preexistente. Histórias que a vida se encarregou de tecer, servindo de mote e inspiração para mais uma obra prima do nosso cancioneiro.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

FALÊNCIA NUPCIAL


Escrevo sobre o casamento, dissertando em tese, nada pessoal. Recente entrevista nos dá conta do ínfimo percentual de uniões felizes. Evidência maior da derrocada casamenteira, decorrente das dificuldades de harmonioso convívio envolvendo personalidades incompatíveis, maioria das vezes sem qualquer afinidade. Segundo preconiza o nosso direito positivo, as sociedades, in genere, constituem perenes fontes de atrito e pressupõem a existência de um líder, que as gerencie e detenha o poder de mando, a supervisão dos interesses comuns. Em contrapartida, sociedade que é, na conjugal se afigura impraticável a apregoada igualdade entre os consortes. Um ou outro deverá, necessariamente, empunhar as rédeas da comunhão societária. Daí os conflituosos atritos, as implicantes farpas, as desconfianças e reciprocidade de provocações, tornando tempestuosas as relações entre casais. Iniludível o raciocínio de que o matrimônio é fonte e matriz de discórdias! Até porque as criaturas sofrem mutações no decorrer do tempo, evoluindo umas, outras ficando estagnadas. É quando sobressai o diferencial, explodem as ciumeiras e malquerenças, próprias de uma convivência rotineira e acomodatícia, quase sempre possessiva e castradora da privacidade e do livre arbítrio das criaturas. Sexo? Só na efêmera lua de mel. Com o tempo, a atração vai esmaecendo, até o apagar da chama. Não obstante, a igreja e o Estado, espertamente, vislumbraram nessa aberratio, nos grilhões que aferroam a sociedade nupcial, a fórmula ideal para amestrar pessoas, manietando-as com os torniquetes da lei e dos “sacrossantos” dogmas religiosos. Foi assim que a cristandade passou a fazer parte do imenso rebanho pastoreado por religião e politicalha. Não bastasse a absurda indissolubilidade do vínculo esponsalício, imposto pelas catequeses e crendices religiosas, o Estado passou a estender seus poderosos tentáculos, inclusive se imiscuindo nas relações de ordem estritamente familiar e também nos direitos inalienáveis do indivíduo, privando-o do supremo bem que é a liberdade.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

FESTIVAL DA MISÉRIA


Oportuna a recente denúncia alusiva ao abarrotamento de carros nas vias públicas, corolário das benesses do governo às montadoras. Verberava-se a dilatação de prazos e juros escorchantes, prenunciando inadimplência e alta da inflação. Lamentava-se a ingenuidade do pobre, induzido por solerte demagogia, agora a desfilar em carro zero, mas habitando pardieiros. Frente às advertências, a mídia se ouriçou, histérica e encanzinada: “então, o pobre não pode ter automóvel?” Os corifeus, essa elite que se apascenta de privilégios e mordomias, assomada por faniquitos e síndromes neurológicas, esganiçou-se, em alvoroço. Ardilosos e com falsos melindres, os apaniguados se arvoraram em defensores dos desvalidos, refutando as patrióticas denúncias contra o servilismo e a corrupção. Ora, em nosso país reina a miséria e o analfabetismo; o caos na saúde pública; a insegurança e a impunidade, de par com a ostentação e os pruridos de uma casta que se aboletou no poder com ganância e anseios de perpetuidade. As prioridades foram relegadas a um segundo plano. A verdade salta aos olhos, de forma cristalina: constitui despautério incentivar o desenfreado consumismo num país atrasado como o nosso! Criminoso o despropósito de estimular o assalariado, de minguados recursos, a assumir dívidas impagáveis, em detrimento do sustento familiar, da moradia, da alimentação e da escolaridade. A destempo, o governo recua, num tácito reconhecimento do erro. A inflação acelera e a quebradeira é iminente. Lástima que as anunciadas restrições aos novos financiamentos, envolvendo prazos e condições, sejam paliativas e de curta duração. Trata-se de panacéia que não implica em correção de rumo. Pobre nação a nossa, que sobrepõe posses, vaidades, consumismo, futebol e carnaval, acima dos primaciais fatores que dignificam o ente humano, na sublime elevação do ser existencial.

domingo, 24 de outubro de 2010

ACORDA BRASIL


Brasil, país do futebol, do carnaval, da favela e do tráfico de drogas! Os desvalidos morros tomando de assalto as cidades, gerando violência e neurose coletiva. Os jornais não contam, mas a realidade revela: estamos em plena guerra civil! Cresce o pavor de uma plebe desassistida, cujo temor se avoluma a cada instante, assomado por incontida revolta. Tudo sob a complacência e a pasmaceira de incompetentes autoridades. A politicagem reina, absoluta! Abre-se um jornal e a gente se defronta com aquela mesmice, aquela repetitiva cantilena, nauseabunda e repugnante, a babujar políticos, num tropel de vassalagens. É a imprensa comprometida, atrelada a poderosos grupos, aquinhoada pelos governantes, mãos pegajosas e estendidas, a suplicarem, de cócoras, as migalhas do banquete. A imprensa é como a igreja: fica em cima do muro, à espreita, pendendo sempre para o lado mais forte. Registro aqui, com indignação, meu libelo contra esse cambalacho. Chega de politicalha! Rádios e jornais não abordam outro assunto senão politicagem, exceção feita às diuturnas maratonas futebolísticas, entorpecedoras do populacho, que assim se queda, tanso e embasbacado.E indiferente aos prioritários questionamentos sociais, como seria seu dever de contribuinte, escorchado e espezinhado. Em países de primeiro mundo isso não ocorre , fato que explica seus invejáveis progressos na seara econômica e cultural. Vivemos sob o manto do analfabetismo e - pasmem - a alta côrte planaltina se ufana do seu desapego à leitura, num enquadre de crime lesa-pátria. Por isso,enfatizo, temos de dessacralizar os políticos, recolocá-los no seu lugar, fora do pedestal em que se encontram. São meros mandatários da soberana vontade popular, por isso temos de rebaixá-los do Olimpo, onde julgam habitar,envaidecidos pelo ilusório endeusamento que lhes confere uma midia venal e interesseira. São eles nossos mandaletes, cujos primaciais deveres seriam: primeiro, propugnar pela imediata reversão desse desprimoroso cenário de ignorância que assola nossa pobre nação; segundo, colocar cobro à impunidade, num combate pertinaz e ferrenho à vilania e à corrupção, aos amigos do alheio, seja aprovando penalidades mais drásticas, seja melhor aparelhando o poder de polícia, com remuneração condigna e ampliação dos seus contingentes humanos e materiais. É um descalabro, não existe policiamento nas ruas, em qualquer hora, para dar ostensiva segurança a uma população desamparada. Sucatearam a polícia! E ninguém reclama, ninguém denuncia esse desmazelo! Mas, enquanto isso,os politicóides forram suas burras de dinheiro, engordando à custa dos desvios de verbas, mamando nas combalidas tetas públicas, escarnecendo de nós outros - trouxas aqui de baixo - que, rindo e contando piadinhas, imbecilmente nos deixamos enredar por esses espertalhões, cujo voto, ingenuamente, sufragamos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PAÍS EMERGENTE?


Filosoficamente,Mário Quintana enfatizou: viajar é mudar o cenário da solidão. Pensamento tão profundo quanto verdadeiro.Quem viaja carrega consigo as suas inquietudes, neuroses e conflitos emocionais. Abstração feita ao fato de abeberar-se de novos conhecimentos, o paisano há de retornar sobrecarregado nas paletas com as frustrações advindas do contraste da nossa miséria em confronto com a riqueza dos países desenvolvidos. Não sou viajor, mas das poucas vezes em que me aventurei por outras plagas, retornei com esse sentimento negativo. A observação, o estudo e o enfoque sobre a situação dos países de primeiro mundo há de colocar em relevo o nosso vergonhoso atraso. Não obstante o suspeito e comprometido alarido feito pela mídia, a arrogância e os falsos pruridos dos politiqueiros, verdade é que habitamos um país subdesenvolvido, de terceiro mundo, atrelado à miséria e enredado num cipoal de ignorância. A saída? A educação do populacho! Missão impossível frente ao macabro cenário que nos envolve e entorpece.Pelo menos enquanto prevalecerem o voto obrigatório e do analfabeto. Forçoso seria renovar o quadro dos nossos representantes. Colocar fim à corrupção, à malbaratação de verbas, às sinecuras e nepotismo, à reeleição e à demagógica e criminosa propaganda eleitoreira, tudo sob a servil complacência dos tribunais, coniventes com esses escancarados crimes lesa-pátria. É um circulo vicioso, uma eterna ciranda, considerando que é a plebe ignara e semi-analfabeta - maioria maciça da nação - que elege essa canalha. Democracia de fachada essa nossa! Ao profissional politiqueiro, safardana e espertalhão, não interessa educar o povo, seria o fim do voto a cabresto, do curral eleitoreiro, do engodo e do ludíbrio de que se vale para engorde e perpetuação no poder.Restam-nos duas alternativas: o recurso à prece ou a mudança de ares, para regiões ignotas e mais respiráveis, livres, enfim, dessa debacle, da extorsão, dos desvarios e dos assaltos aos cofres públicos perpetrados por essa camarilha que achincalha e empobrece nossa desvalida nação.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

RIDENDO CASTIGAT MORES


Rindo castigam-se os costumes. Retomo a célebre máxima latina para anatematizar certos hábitos hodiernos. Mateando por la matina, vez em quando me ponho a matutar na absurda ausência de personalidade da maioria das criatura. Ressalvadas honrosas exceções , questiono: por que o espírito imitativo constitui costumeira prática nos maneirismos atuais? Seremos todos produtos de fabricação em série? Subprodutos da mesma linha de montagem? Tudo em contraposição ao conceitual de indivíduo, tido como o ser que não admite divisão sem perder suas peculiaridades. Juventude aturdida pela omissão dos que deveriam orientá-la com os exemplos da altivez e do orgulho, próprios de quem se valoriza. Em contraposição,convivemos com uma mocidade desgarrada, à mercê do vicioso modernismo e da incultura. Uniformizada na vestimenta, papagueando chavões através de esdrúxulo linguajar entremeado de gírias funambulescas. Bermudões semoventes, rebeldes por natureza, acocorados frente ao desenfreado consumismo , bonés revirados, tênis e camisetas com aberrantes dísticos americanófilos, cujo significado ignoram; moçoilas, quase todas igualzitas, frívolas, destrambelhadas, desvestidas com provocante roupagem, barriguinhas à mostra,pintas, argolas e tatuagens, malabaristas no cimo de tamancões desmesurados. E os adultos? Madames emperiquitadas nos atavios da vaidade, desequilibradas no alto de pernas de pau em formato de botas ou saltões descomunais, vestidões encortinados, idêntica estamparia, bocas rebocadas de batom. E os varões, travestidos em mesmíssimos trajes de três botões, corte serial e igualitário, enforcados em gravatas de mau gosto e idêntica padronagem. Todos indiferentes ao processo de derrocada da nação,corolário da repulsiva politicagem que se esbalda na sórdida trama de perpetuar no poder os mesmos que se enlamearam num mar de corrupção e safadezas. Triste e alienada geração! Total predominância do simiesco, de par com absoluta ausência de critério e da soberba que haveria de distinguir uns e outros pelo caráter indiviso, altaneiro e personalístico da indivídualidade.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

PÉROLAS DE LUZ


PÉROLAS DE LUZ

Recorte de tango arrabalero:”?Quién se robó mi niñez?” Onde ficaram os alegres tempos de outrora ? Recordar é viver,dizem. Poetas acenam: a vida é uma viagem. Mentira risonha insinuando regresso, passagem ida e volta. Consola reviver dias felizes na cidadezinha onde nasci. Manhãs de cigarras cantando, campos verdejantes, banhos de sanga, em pêlo! Meio-dia, a velha estação repleta de gente alvoroçada. Trem resfolegante, silvos agudos prenunciando a chegada - quem sabe? - da mulher amada. Tardezita, casais de mãos dadas. Os cafés, garçons apondo mesinhas no leito da rua. Bebentes à espreita das donzelas. Flertes, românticos idílios. Noite de lua, cravejada de vagalumes. Cinema antigo, som para a rua, tangos de Gardel, serestas com Orlando Silva, sirene convocando cinéfilos. Depois, uma aportada na zona - porque não? - para milonguear com as percantas.E os bailes? Ah! Que saudade! Boleros, casais agarradinhos na penumbra, ao embalo de melodias imortais. Pausa. Tenebroso apito da locomotiva! O trem chega ao seu destino. Escuridão, gare deserta, ninguém à espera... Não existe volta! Absorto em pensamentos encaro a realidade: o redespertar de quimérico sonho, alma sangrando em mim, a cristalizar pérolas de luz moldadas na nostálgica saudade de um passado que ficou eternizado na lembrança!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

LANÇAMENTO DE "OS SEIOS DE JOANA"


Na quinta-feira passada, dia 19 de agôsto, foi realizado o lançamento do meu segundo livro, designado "Os Seios de Joana"- Contos Eróticos e Picarescos, com leitura recomendada somente para adultos. Conforme sugere seu sub-título, versa temática de cunho erótico, não pornográfica, envolvendo luxúria e sensualidade. O título foi extraído de um dos dezesseis contos, narrados todos com fraseado elegante e mesclas de refinado humor e picardia. Conforme fiz constar no preâmbulo, a obra é dedicada: "às mulheres que eu não tive e a todos aqueles que, como eu, vislumbram no amor e no sexo fundamentais fatores da vida no universo e fontes inspiradoras de todas as artes". Ao escrevê-la, filiei-me, reverenciosamente, ao pensamento de Oscar Wilde, que asseverava: "Não existem livros morais ou imorais. Os livros são bem ou mal escritos". Tais contos vieram a lume sob os auspícios da prestigiosa Editora Insular, capitaneada pelo seu dinâmico artífice, Nelson Rolim, emérito divulgador do livro. Dito lançamento ocorreu no Megastore da Livraria Saraiva, no Shopping Iguatemi de Floripa. Lá, no horário compreendido entre 19 e 22:00 hs, tive a satisfação de alinhavar autógrafos aos comparecentes, ao som de excelente pocket show a cargo de Rodrigo e Rogério Piva, mais Jorge Lacerda. Tudo regado a uísque, vinho e champanhe, como requeria o contubernal evento confraternizatório.Ao ensejo da tertúlia, fui agraciado com a prestimosa presença de uma legião de amigos, que, pressurosos, acorreram ao ágape, para redobrado orgulho do envaidecido autor.Registro aqui, neste blog, a expressão do meu efusivo agradecimento a todos os que me honraram com a sua presença, augurando-lhes uma boa e prazerosa leitura.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

FRÍO EN EL ALMA


Relevem o portunhol. Cria das planuras fronteiriças de Santiago, gosto de tangos, de boleros e do idioma castelhano. Com remissão ao título, além do frio em nossas almas, acresce, na estação, igual frieza também em nossas combalidas carcaças. Sou desertor das plagas sulinas, por causa da gelidez que ronda as coxilhas gaúchas . Mas qual! Em agosto, sopra aqui em Floripa o tal de vento Sul, enregelando a cristandade. E o velho mar, enfurecido e bravio, se ouriça aqui na praia, encrespando-se em ondas espumantes, a escorraçar nossas pálidas sereias. Sobrevém o marasmo e a solitude das noites hibernais, com o desesperado refúgio ao fogo da lareira, ao vinho, e, para os sortudos, ao decantado cobertor de orelhas. Claro, existe o lado bom: hibernar feito ursídeos, estocando alimentos e dormitando para o engorde, à espreita do verão. Costumo provocar amigos, adeptos da frialdade, argumentando que não gosta de mulher quem prefere a invernia. Por quê? respondo-lhes: no inverno, aqueles seres divinais se ocultam debaixo de peles, saiotes, meias, botas, gorros e casacões, sonegando a nós outros - pobres mortais - suas curvilíneas formas e tudo o mais que de belo e resplendente lhes foi aquinhoado pela sábia natureza. Brincadeiras à parte e respeitando opiniões em contrário, saudemos o porvir das cálidas noites de verão, a placidez dos dias azuis e ensolarados, na luminosa moldura flórea dos campos e matas verdejantes. Tudo isso, com arremates e tilintar de copos, aos brindes e libações de não congeladas loiras, em cânticos e louvores à ressurreição da vida.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

REVIVENDO O PASSADO


Certa feita, familiar amigo retornando de visita à nossa cidade natal, indaguei-lhe sobre como estava a querência. Lindaça como sempre , respondeu, porém acrescentando ter achado todos os amigos muito envelhecidos. Adverti-o de que o mesmo estariam a pensar dele, também, sem que disso se desse conta. Foi quando lembrei de Aníbal Machado, in “Viagem aos Seios de Duília”, melhor dos contos brasileiros, a meu juízo. Nele, a narrativa versa sobre a volta à sua cidadezinha natal, de um funcionário público recém aposentado, no Rio de Janeiro, solteirão e solitário, carcomido pela saudade. Percorrendo os descaminhos do regresso, viaja obcecado pela erótica visão dos seios virginais da sua antiga namoradinha, então lhe exibidos, em primícias, na ocasião da sua despedida. Ao reencontrá-la, por fim, a desilusão: velha e desgrenhada, as mamas da sua amada já pendiam sobre a cintura. Pegando o mote,acentuo agora: quantos de nós, à distância, não gostaríamos de rever as nossas Duílias de outrora, belas e tentadoras como dantes! Triste sina. Pobres de nós outros, grisalhos e vergados sob o peso dos anos, a realimentar o tresloucado sonho de vislumbrá-las com o mesmo encanto, seios rijos, róseos e alabastrinos, em formato de maçãs. Mas qual! Tempus fugit. O tempo é inclemente e a mocidade uma benção. Começamos a envelhecer quando nascemos, e uma mulher nunca é tão bonita quanto já foi...

sábado, 31 de julho de 2010

DIA MUNDIAL DO ORGASMO


Comemora-se, hoje, quando escrevo, o dia mundial do orgasmo. Tal efeméride não pode passar em brancas nuvens e reputo deva ser condignamente comemorada, como de direito, com pompa e circunstância. Ideal seria todo mundo nu! Mas a tanto se nos opõem a censura e os morigerados costumes ditados pelo doentio obscurantismo de falsos moralistas. Essa criminosa repressão sexual remonta a séculos de abusiva castração física e mental, imposta pelo fanatismo religioso, afrontante dos mais sagrados princípios biológicos que regem o universo. Ilustra esse deletério enquadre, a pertinaz pregação doutrinária papal, calcada na fóssil e obsessiva pretensão de restringir o sexo a mera reprodução da espécie.Tenho, sempre que posso, preconizado o desate dessas amarras, das presilhas, a quebra das algemas e dos grilhões que nos aferroam, - fatores causais determinantes dos desequilíbrios, das neuroses, dos conflitos,das desavenças familiares e de toda sorte de problemas de natureza neuropsicológica.Tudo a culminar com o alastramento e disseminação de doenças das mais variadas espécies, cuja etiologia só é explicável pelos profundos reflexos ocorrentes no universo corpóreo. Quer dizer,o preconceito advindo de tabus, o exacerbado puritanismo, a inventiva e fantasiosa puerilidade que revela a obtusa historieta do pecado original, tudo isso, enfim, reveste foros de crime lesa-humanidade, pelos danos ocasionados, devendo ser com veemência anatematizado.Em sinal de protesto e revolta contra esse despautério, é hora de erguermos as nossas taças, aos pares, e preferencialmente desnudos, num solene brinde alusivo ao despontar de soluções libertárias.Dessa forma, mesmo sonhando acordados, comemoremos esse marco entreabrindo e entrecruzando braços (e pernas), embalados em inefáveis gozos e prazeres carnais , no fulgoroso entreato que precede a consumação plena das mais ardentes síndromes orgásticas.

sábado, 24 de julho de 2010

COLUNA DO EXPRESSO ILUSTRADO


Sabemos todos, a propaganda é a alma do negócio. A comprovar isso, o estridente cacarejar das penosas e a renitência do padre a badalar os sinos da igreja, anunciativos das missas. Daí porque me animo a fazer trombeteio e alarde a respeito de auspicioso fato que me trouxe enorme satisfação.Estou a escrever crônicas semanais no jornal Expresso Ilustrado, de Santiago. Trata-se de valoroso órgão de imprensa, lá da minha terra natal, de grande tiragem e abrangente circulação regional que se estende também aos principais municípios do Rio Grande do Sul. O convite, prontamente aceito, e que me desvaneceu, foi formulado pelo competente Diretor-Editor do semanário, João Lemes, consagrado jornalista e emérito escritor, aureolado por merecido renome junto ao meio social santiaguense. Desnecessário salientar, a invitação me deixou sumamente honrado e possuido de justo orgulho.É curial, o chamamento propicia a mim a valiosa oportunidade de manter permanente contato com os meus conterrâneos, aplacando a nostálgica saudade da gente amiga do meu pago. A par disso, meu sentimento é fortalecido pela convicção de que se trata de um órgão de imprensa que ostenta consolidado prestígio, mercê do seu valoroso quadro de colaboradores, emoldurado por seletos artigos, reportagens e notícias da atualidade. E não é de agora que afirmo essas verdades, basta que se atente para o que escrevi à citada direção do jornal, em meados do ano 2oo8, tal como transcrito no livro "20 Anos de Jornalismo", de João Lemes, grande sucesso de vendas, verbis: "Nosso Expresso Ilustrado está dando de relho em quase todos os seus concorrentes, na esfera estadual.Devo acrescentar que sou, por igual forma, assinante do Diário Catarinense, da Revista Saúde e leitor contumaz da Zero Hora, de Porto Alegre. Nenhuma dessas ilustrações encosta no teu jornal, no concernente à cobertura de eventos, colunistas, cronistas, comentaristas, humoristas, reportagens e isenção no trato de questões primaciais da cidadania. Quer dizer,não é por acaso que cito as poderosas RBS e Editora Abril, como parâmetros para confronto. Tanto em informes sobre a saúde pública e/ou notíciário político ou esportivo, vale sobremaneira enaltecer o Expresso pelo seu elenco de assinantes, sua grandiosidade e abrangência informativa, fatos que dignificam a intelectualidade santiaguense e melhor projetam a nossa terra no cenário cultural rio-grandense".À vista disso tudo, concito meus prezados leitores a comprovarem tais assertivas, acessando o referido jornal e bem assim as crônicas deste escriba, nele publicadas. O acesso poderá ser feito via internet/Google, com simples menção a Jornal Expresso Ilustrado Santiago

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ANÁTEMA CONTRA A HIPOCRISIA


Prossigo na perseverante senda explicativa das razões que me levaram a optar pelo erotismo, como tema predominante do meu segundo livro e mais textos escrevinhados.Já no prólogo de "Os Seios de Joana" achei de bom alvitre ressaltar os seguintes lineamentos,agora novamente enfatizados: Não se pode perder de vista que a sexualidade e as suas variantes constituem, hoje, assunto dominante em todas as rodas, haja vista que a nudez e a excitação carnal são objetos de manchetes e chamariscos largamente estampados nas capas de todas as revistas modernas. De modo especial, naqueles magazines endereçados às mulheres, cujas diretrizes são voltadas para a recomendação de dietas e exercícios físicos tendentes à modelagem de corpos voluptuosos, com tônica direcionada para o culto exacerbado das práticas carnais. Cenas ardentes de sexo explícito são, por igual forma,diuturnamente exibidas, às escâncaras, em quase todos os filmes projetados nas telas de cinema ou canais de televisão. Ainda que puritanos e falsos moralistas deblaterem contra isso, furibundos, anatematizando esse estado de coisas,forçoso é admitir que tais liberalidades são decorrências do afrouxamento dos costumes, seja pelo advento da pilula, da consagração do Viagra e vertiginosa falência e derrocada do casamento como instituição. Corolário insofismável,também, de uma nova realidade fática que salta aos olhos, por demais evidente: o surgimento de uma nova e desentocada mulher, que saiu da casca e ganhou as ruas, muito mais liberada e assim desprendida das fainas domésticas, a competir, disputar e concorrer com o homem em todos os setores das multivárias atividades profissionalizantes.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

PERMISSA VENIA


No alvorecer do livro "Os Seios de Joana" intentei fazer um exórdio explicativo da temática escolhida, logo deixado para trás. Todavia, é tempo ainda de esmiuçar pequenas ressalvas. Considerando o erótico tema ficcional da obra, entendia pertinentes considerações outras, de ordem paralela, repontando assuntos de maior seriedade. Dizia ser consabido que o país, como, de resto, a humanidade inteira, estavam mergulhados numa crise financeira sem precedentes, gerando miséria e desemprego. Reputava não ser lícito nem moral fechar os olhos para esse tenebroso quadro. Entendia, diante dessa conjuntura,devesse qualquer matéria impressa consubstanciar, também, invectivas e denúncias relativamente a esse descalabro,em forma de libelo contra os chefes de Estado e mais politiqueiros responsáveis. Mas o que tem a ver o cós com as calças, haverão de perguntar. Será que o cara endoidou? Pois se o título e a tematologia da obra tinham cunho erotômano, por que viria ele agora se travestir de peripatético filósofo de arrabalde? Pois em verdade vos digo: é para que, incorrendo num falso e precipitado juízo, eventuais leitores não me tomem por devasso ou libertino, com a mente voltada só para histórias e divagações que alguns incautos possam julgar como despudoradas, porque entremeadas de fantasiosas escaramuças sexuais.Cansei de pregar no deserto! Cônscio de que a maior parte da nossa população não é afeita a leituras, a começar pelo supremo magistrado da nação. Daí porque a mim só restou a alternativa de bater em retirada, restringindo-me a textos de maior abrangência, assentes na melhor coisa do mundo, que é o sexo amoroso.Tudo na esperança de abarcar contingente maior de leitores, alguns já monitorados pelas lascivas novelas da Globo e cenas sexuais explícitas dos enlatados norte-americanos.Tangenciando ilações mais afoitas, restou-me o consolo de emoldurar meus contos com o esmero, o capricho e o empenho por mim devotados a um fraseado mais elegante no alinhavo das excitantes narrativas sequenciais.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

FILOSOFIA DE ARRABALDE


Hoje estou mais para assuntos de cunho metafísico ou esotérico, fundamentados em empíricas considerações abstratas.Dentro desse propósito, intento dar ênfase e questionamento, sobretudo ao fadário que rege as nossas conturbadas vidas, às alternâncias de situações contingenciais, aos sortilégios, às coincidências, às vicissitudes, e bem assim aos percalços incidentes ou acidentários. Volta e meia nos vemos compelidos a admitir que existe algo mais além do que a nossa vã filosofia pode alcançar. Daí a minha profissão de fé, ora proclamada, reafirmando-me agnóstico/espiritualista, e, por isso mesmo, absolutamente consciente de que a nós - pobres mortais - não nos foi dada suficiente percepção, inteligência e discernimento, para desvendar o absoluto. Vislumbre e tirocínio já evidenciava, a respeito, o grande José Hernandez, na sua apoteótica obra Martin Fierro, ao colocar na boca de sua lendária personagem a sábia e conclusiva assertiva: "Quantas leciones nos trae el tiempo, con sus mudanzas!" Em contrapartida, professa a sabedoria popular existirem pessoas que nascem com o traseiro virado pra lua. Mas, contraponho eu, também a lua tem as suas fases de mudança, assim como nós outros,sujeitos então à fatalidade das mutações oriundas de forças estranhas, magnéticas e incognoscíveis.A seu turno,a bíblia nos fala sobre a prevalência dos sete anos de vacas magras, seguidos de outros tantos anos de tais espécimes gordos.Partindo dessa premissa, eu próprio tenho feito regressiva contabilização sazonal da minha vivência, atento às particularidades dessas variantes. Ora,segundo a minha insuspeita contagem temporal, para mim já são decorridos mais de sete anos das tais de vacas magras, daí porque me ponho, persignado, no expectante alento de futurosos e abundantes mananciais, acoplados de fartas colheitas femíneas. Que venham as vacas gordas! Embora arredío e não muito chegado a adiposidades, por questões estéticas e salutares, eu por elas aguardo com mal contida ansiedade. Nem que seja para traçá-las ao espeto, mas desde que bem acompanhadas por loiras não estupidamente geladas...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

OS SEIOS DE JOANA


Conforme proposta alinhavada no texto anterior, aqui estou de volta para nova abordagem, agora cravada em tema bem mais ameno e reputável como sendo do agrado geral, porque enfocado na melhor coisa do mundo. Qual? Chocolate, não! Refiro-me à sexualidade amorosa, isenta de pornografia e descrita com fraseado elegante, floreado com pinceladas de luxúria e desvestida de intenções pecaminosas ou disseminadoras de práticas promíscuas. Para comprovação desse desiderato e com propósito elevado, valho-me da oportunidade para divulgar trechos ou lineamentos do meu próximo livro "Os Seios de Joana" - Contos Eróticos e Picarescos, com lançamento previsto para julho p.vindouro, cuja leitura é recomendada somente para adultos. Aqui vai, transcrito, ipsis literis, tópico figurativo integrante da contra-capa da obra, verbis:
"Dito isso, e para espanto dele, ali no sofá,
de pronto Dulce se colocou de pé, à sua frente,
e lentamente iniciou a desabotoar e entreabrir
as lindas vestes que trajava, expondo-se para
ele inteiramente nua, sem calcinha e sem sutiã.
Esse inesperado ritual de fetichismo culminou
por escancarar a esplendente beleza de um corpo
escultural. Palavra de honra: Hildebrando nunca
havia contemplado formas tão perfeitas, contornos
tão belos e curvilineos, ante a fantástica visão
daquela genitália, daqueles balouçantes seios ,
ornados por auréolas de rosácea coloração!
Diante da fulgurância daquelas libidinosas formas,
daquela pele resplandecente, daqueles alvos peitos
empinados para ele, da maciez daquelas ancas, das
pernas e coxas bem bronzeadas, daquela voluptuosa
fenda,Hildebrando hesitou, titubeante. Todo aquele
esplendor à sua frente,a um palmo das suas garras,
da sua boca e dos seus dentes...
"Valha-me Deus!"(gemeu).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O CANECO DO MUNDO


Véspera de copa do mundo, bestialização do povo! Não se fala em outra coisa, como se o evento esportivo se revestisse do maior acontecimento terráqueo. Não se pode mais ler jornal, assistir televisão ou escutar rádio. A cantilena é sempre a mesma e repetitiva, batendo na mesma tecla, com variações em torno do mesmo tom. É a mesmice, o monocórdio, o rotineiro elevado aos píncaros da estultice. É o circo multiplicado à quintessência do absurdo.Meros chutadores de um balão de couro, cuja maioria é constituída de criaturas pensantes só com os pés, ao invés da cabeça, guindada à categoria de heróis nacionais! Enriquecidos e já distantes e olvidados da pátria, à custa de contratações milionárias, mas endeusados com mesuras e tratamento só dispensáveis a soberanas majestades. Apedeutas, na verdadeira acepção do termo, cujas enfadonhas estrevistas soam como elogio à mediocridade. Em contrapartida, à falta de assuntos de maior relevo, somos obrigados a acompanhar, no dia-a-dia, a "preocupante" diarréia do fulano, a indisposição estomacal do beltrano ou a distensão muscular do sicrano, seguidas do dilema atroz: será que poderão atuar nas contendas aprazadas? É o reinado da insensatez a batalha campeira a ser travada. No destemperado e alienante entrechoque de empurrões, chutes e canelaços - verdadeira guerra campal - são atiçados países, cujos representantes haverão de se digladiar e se esbater, com fúria canibalesca. Enquanto a turba, enlouquecida, aos bandos acorre sôfrega aos estádios, em balbúrdia descomunal . Guardadas as proporções, o espetáculo mais se assemelha aos combates da antiga Roma, quando os gladiadores, em lutas encarniçadas, travavam duelos mortais, para gáudio de uma platéia sedenta de sangue e barbárie. É quando as agressões e injúrias se sucedem, a multidão se agride trocando ofensas e impropérios, em tumulto, assomada de frenéticos espasmos e tremulações orgásticas , como se em jogo estivessem a honra e dignidade dos povos beligerantes. O grande Nelson Rodrigues, frasista de escol, mas fanático pelas práticas futebolísticas, ironicamente definira a nossa seleção como sendo "a pátria de chuteiras". Abstração feita à sonoridade da frase e ao impacto metafórico, somos forçados a convir que tal assertiva mal disfarçava sonoro escárnio e depreciativa ridicularia. Longe de desmerecer o grande dramaturgo e genial escritor,e descontado o exagero formal da assertiva, uma análise mais criteriosa da conceituação vai evidenciar que a referência nivelou fundamento e soberania nacional a mero e circunstancial evento desportivo. Releva sublinhar agora, num parêntesis, a devida ressalva: O esporte é belo e saudável, devendo seu exercício ser estimulado, em termos. Particularmente, gosto do futebol e o assisto, em casa, como arte e espetáculo, tanto que sempre o pratiquei ao longo da vida.Mas voltemos à temática em debate. Entrementes, para seu desproporcional incremento, na surdina e na calada da noite a mídia trabalha, incansavelmente. Com pertinácia e reiteração, maquiavelicamente, traça planos para fazer a cabeça e entorpecer e anestesiar a plebe ignara. É uma descomunal e gigantesca máquina publicitária, entronizando e propagandeando a espetaculosidade do evento! Formidável cadeia de jornais, rádios e televisões adrede montadas e aparelhadas para promover e faturar em cima do acontecimento, enchendo as burras dos meios de comunicação, dos cartolas, patrocinadores, espertalhões, apaniguados et caterva. Tudo em estridentes e estridulantes berrarias, sacrificando nossos pobres apêndices auditivos. É bem de ver que em países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos,o noticiário a respeito é liberto desse histerismo coletivo, cingindo-se a notas curtas e parcimoniosas. Corolário desse nosso modo de ser e de agir, a seqüela de romarias turísticas realizadas por ricaços, mais apadrinhados, bajuladores e até alguns pelados, rumo a um país-sede mais empobrecido do que o nosso, também envolto em corrupção, insegurança e alucinados e frívolos malbaratamentos.Si et in quantum, o imbecilóide local se deixa enredar, ingenuamente, pondo-se dançar travestido por amarelantes fantasias e enrolado em bandeirolas,cantarolando a mediocridade dos refrões que lhe são impingidos pelos corifeus da praça. Estupidamente fanatizado e enfocado no histriônico espetáculo, o povaréu entoa cânticos, em estribilho, tecendo loas aos "defensores da soberania nacional". Em estupor, a nação paraliza! Ninguém mais trabalha! Como se não bastassem a eterna ilusão do carnaval, a copa do Brasil e o Brasileirão de todos os dias, o ano inteiro... A culminar com o nosso pobre e explorado povo - desdentado, desassistido, espezinhado e afundado na mais triste penúria e degradante miséria -, a estufar o peito, em ufania, a gritar, "ululante": O caneco é nosso! A pátria está salva!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

OS DEUSES MODERNOS - ÍDOLOS DE BARRO



Decorrido algum tempo, aqui me têm de regresso, novamente. Após as digressões alinhavadas no texto anterior, retorno à minha praia. Ressabiado, talvez, por ter me transmudado de pato a ganso, como anatematiza a sabedoria popular. Sabia, de antemão, que estava a semear no deserto. Daí porque enfoco, hoje, temática mais amena e atualíssima. Conforme sugere o título, o assunto diz respeito à deificação, ao endeusamento de criaturas cujo mérito consistia ou consiste no ótimo desempenho das atividades que elegeram, mas cuja prática nada acrescenta nem traz qualquer benefício para nós, pobres mortais. Claro está que eles sobrelevam aos demais cristãos, na seara escolhida, fato que sobremaneira os dignifica e enaltece. Exemplos: Ronaldinhos, Madonas,Adrianos, Robertos Carlos, Byoncés, Xuxas e tantos outros...É bem de ver que as profissões onde sobressaem e despontam tais "divindades" são essencialmente popularescas. Quer dizer, justamente onde a massa de manobra - que é a plebe ignara - pode ser conduzida, embretada qual rebanho, rumo ao curral do sacrifício.Enquanto isso - e paradoxalmente - figuras relevantes, tais como sábios, benfeitores da humanidade, cientistas que se desdobraram no estudo e na solução dos cruciantes problemas que afligem a humanidade, trazendo luz à escuridão, esses são perfidamente relegados às sombras do anonimato! Atente-se bem para o circunstancial de que, por detrás dessas artimanhas, da prefabricada popularidade desses apedeutas, existe a mídia, uma monstruosa máquina montada para o incensamento desses falsos ídolos, propagandeando eventos e faturando $ifrões em cima disso. Assim, através de fantasiosos epitetos ultra criativos, são exalçados ditos medalhões: é o "fenômeno" aqui, o "rei" ali, a "diva" acolá, o "imperador" sei lá de onde... Exageros à parte, evidencia-se, aqui, o fato de que são todos, in genere, ídolos forjados por verdadeira máfia, subprodutos do meio, com profundas raízes e naturais reflexos no social, constituindo pernicioso exemplo para as novas gerações. As grandes cadeias de rádio, jornal e televisão,entoam cânticos e hinos de louvor a essas pseudos majestades, enchendo as burras e se locupletando com a gananciosa venda de caríssimos ingressos para a turba, legião de fanatizados, através do reiterado e extemporâneo trombeteio de tais espetáculos.Existe uma poderosa emissora que transmite vinte e quatro horas por dia, sendo que, dessas, vinte duas são berrarias alusivas a noticiosos de futebol e eventos popularescos. Agora, então, ante-véspera da copa do mundo, só se fala em futebol, como se fosse assunto de natureza primordial. Entorpecem o populacho e atravancam o País. Ninguém mais trabalha! Enquanto isso, assuntos prioritários tais como segurança pública, saúde, saneamento básico, educação, impostos escorchantes, corrupção e politicagem eleitoreira são relegados a um segundo plano... Então, a patuléia, sôfrega, aplaude e acorre em bandos, em gritedos histéricos e beberagens desenfreadas, causando acidentes, balbúrdia e incríveis congestionamentos de trânsito, tumultuando a vida citadina. Os estádios futebolísticos ficam abarrotados de gente. Os palcos e seus planetóides, com água pela barba, a plebe urrando e pululando em trejeitos simiescos, em rocambolescos requebros, ao som de música americanizada e sob o estribilho de letras analfabéticas, num inglês que poucos entendem. A ingênua juventude, essa, então, com a mente ainda mal formada, acode em massa a tais chamariscos, influenciada pelo espírito imitativo, vulgar modernismo e, sobretudo, vitimada pela sobrecarga do alarido feito pelos venais agentes publicitários. É um salve-se quem puder! Entrementes, os falsos deuses - ídolos de barro - aterrissando em suas aeronaves espaciais, recobertos de plata e rindo à toa, estufam o peito, envaidecidos, engalanados e ciosos da sua ilusória nobreza e divindade, a exigir mundos e fundos para seu deleite e aprazimento. Adornados e acobertados por excêntricos e frívolos caprichos,são entronizados em suntuosas acomodações, banhados em aquosas essências espumantes, sorvendo leite de cabra e abocanhando pitéus estapafúrdios. Travestidos pelos ouropéis mais belos e do alto do seu majestoso trono, se esbaldam em risos histriônicos e escárnios zombeteiros, com pena dos boquiabertos e embasbacados súditos aqui debaixo, babando na planície.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

DIGRESSÕES MAL DIGERIDAS


Dando seguimento à temática a que me propus, em texto anterior, incursiono agora no infértil terreno de temerárias elucubrações sobre a alimentação nossa de cada dia. Inicío pela assertiva de que o homem é aquilo que come; e, por minha conta, acrescento mais: também é aquilo que bebe. A começar pelo leite, o chamado "suco de vaca". Veneno puro. Ocorre que as vacas "modernas" são todas criadas, hoje, em ambientes distintos das pastagens naturais, como antigamente. Para que produzam maior quantidade de leite, sua alimentação é incrementada com ração industrializada, antibióticos e hormônios. Como se não bastasse, os tecidos gordurosos do bicho são contaminados por substâncias cancerígenas, pesticidas, dioxina e resíduos diversos. Tudo isso é transferido para o leite e a carne, com seqüela de inflamações, mastites e infecções no úbere das vacas, advindo daí necessidade de aumento da carga antibiótica.Ora, dirão, mas o leite é pasteurizado! Ocorre que, com esse processo,enzimas importantes são destruídas, tornando-o difícil de ser digerido. O leite magro e aquoso é outro engodo, porque menos saudável ainda. Sem a gordura, o nosso organismo não pode assimilar as vitaminas e sais minerais porventura existentes. Assim como o famigerado leite em pó, que lhe é adicionado,cujo colesterol desnatado sofre oxidação , tornando-o rançoso e fator determinante de doenças cardiovasculares. A totalidade dessas colocações são válidas para todos os derivados do leite, abrangendo queijos e lactiníos em geral! Para não falar, ainda, nas famigeradas embalagens de tais produtos, armazenados em caixas, plásticos, alumínios e mais recipientes, via de regra tranportados em condições insalubres, sem refrigeração adequada, propiciando a reprodução de germes, bacilos, coliformes e toxinas de natureza vária. Colocadas essas premissas, vale ressaltar que não somos bezerros! O estomômago de tais quadrúpedes, segundo os estudiosos, é muito diferenciado do nosso, especialmente levando em conta sua conformação e estrutura, que só são adequadas para a nutrição e crescimento de um animal bovino daquele porte e envergadura. Atente-se para o fato de que homem é o único ser existente na fauna terrestre que continua a se alimentar com leite, após superada a fase de amamentação. E mais, a maioria dos povos de outros continentes não consome leite! Pergunto agora: Será que somos mamíferos? E o cálcio? Ora, o cálcio existe em outras tantas variedades alimentícias, e com maior propriedade. E por que não sorvemos leite de outras alimárias, das cadelas ou macacas, por exemplo? Atentem para o fato de que, por detrás da torrencial avalanche divulgadora dos benefícios(?) do malsinado produto e seus deriváveis, existe um império, uma poderosa rêde indústrial de multinacionais americanas,auferindo lucros fabulosos com a propaganda e mercantilização de tais derivados das glândulas mamárias das fêmeas bovídeas. Dando sequência aos meus questionamentos expendidos no texto anterior, indago: por que tantas doenças e mazelas que cada vez mais afligem os humanóides? Por que o homem continua, hipocondríaco, a se entupir de remédios? Por que é quase inatingível uma velhice saudável? Não será por causa desses venenos? Não será porque foi desprezada a alimentação natural e passamos a nos empanzinar com industrizalizados, sabidamente compostos de nitritos, gorduras trans, corantes, edulcorantes, sal refinado e outras porcarias cancerígenas? E as frutas e verduras, todas impregnadas de pesticidas? E os açúcares e farináceos refinados, subtraídos de qualquer valor alimentício? E os frangos? As pobres penosas são, agora, criadas longe dos terreiros onde ciscavam, hoje confinadas em barracões e sob luz artificial, também carcomidas por hormônios e antibióticos,para acelerar seu desmesurado desenvolvimento, a curto prazo, visando o imediatismo do lucro. Será por isso que o homem hodierno está se tornando impotente, afinando a voz e se afeminando? E as carnes, via de regra mal conservadas, a começar com a hedionda matança das pobres alimárias, com seqüelas advindas do seu envenenamento sangüíneo, complementado por hormônios, antibióticos e mais produtos tóxicos, administrados para sua criação e engorde? E o consabido processo de putrefação intestinal sofrido pelo homem durante o seu lento processo digestivo? E a água que consumimos no dia-a-dia, contendo elevados índices de flúor, cloro, alumínio e coliformes fecais? Para não falar no seu acondicionamento em condenáveis garrafas plásticas, que lhe passam toxinas que proliferam durante o transporte, sob o calor do sol... Chega! Peçamos clemência. Vade retro Satanaz! É preciso uma varredura nos arraigados habitos alimentares que a ganância mercantil nos impingiu. Mens sana in corpores sano, é o princípio que deve nortear nossa conduta, com os olhos fitos nas benesses a serem proporcionadas por uma vida sadia, livre da virulência dessas porcarias que intoxicam as nossas combalidas carcaças. Como arremate, exsurge, por relevante, um questionamento final: como sobreviver livre de tais excrementos? onde adquirir alimentos sadios, se os supermercados citadinos estão abarrotados de produtos industrializados, de livre comércio e fiscalização duvidosa? como evitar a morte por inanição? Valha-nos Deus! Pausa para meditação...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A SAÚDE NOSSA DE CADA DIA


Para não me tornar repetitivo e enfadonho, abordando temas só alusivos à nauseabunda politicalha reinante, faço hoje sucinto enfoque relativo a matéria que reputo de de suma relevância: a saúde nossa de cada dia. Diz a sabedoria popular que de médico e louco todos nós temos um pouco. Não me tenho na conta nem de um nem de outro. Mas, temerária e afoitamente, peço vênia para fazer breve incursão nessa
área, argüindo tese polêmica (como é do meu agrado) e, quiçá, estapafúrdia.Ao longo da vida dediquei-me à advocacia, até o saturamento. Batendo em retirada dessa desgastante profissão,e qual verdadeiro rato de biblioteca, mergulhei em leituras, pesquisas, sondagens, o diabo a quatro, sobre a preservação da saúde física e mental das nossas combalidas carcaças. Matutando sobre afirmativa do iluminado Osho (preclaro mestre indiano), dei-lhe inteira razão. Afirmava ele que o indicativo do grau de saúde de uma população estaria na razão direta e proporcional ao número de farmácias existentes nas comunidades. Dado e elemento esse que, desde já, se afiguram pouco lisongeiros para nós, brasileiros, levando em conta o expressivo índice de casas especializadas na comercialização de remédios, de molde a forrar as burras e os alforjes das poderosas multinacionais fabricantes dessas drogas (com perdão da má palavra). De outra parte, é sabido que a medicina também está por demais mercantilizada e cada vez mais distante do juramento de Hipócrates, que equiparava sua prática ao sacerdócio. É notório,melhor cuida e se direciona a ciência médica para a cura das doenças, e não para a sua prevenção - princípio etiológico desconsiderado - tanto que se atém ela, primordialmente, aos efeitos, menosprezando os fatores causais e determinantes das patogenias. A par disso, nossos desvalidos hospitais parecem melhor contribuir para a disseminação das moléstias infecto-contagiosas e enfermidades diversas, por absoluta carência de recursos de ordem material e humana. Criminosa, nesse particular, a indiferença e o desmazelo das autoridades.Safardanas, ditos responsáveis não elegem prioridades, desviando verbas para medidas demagógicas, popularescas e eleitoreiras, com descaso absoluto para a saúde e a segurança dos concidadãos.É o caos! Alguma coisa deve estar errada, então. Paradoxalmente, em contrapartida, a média de vida humana aumentou, de modo considerável, girando hoje ao redor dos setenta anos. Corolário do progressivo avanço da ciência e da tecnologia. A contrario sensu, patologias de toda ordem continuam minando o organismo da cristandade. Quando a morte não ceifa indivíduos ainda jovens, ressalta e se evidencia o circunstancial de que quase ninguém chega à velhice em estado saudável, como seria de esperar.Poucos são os bem-aventurados que conseguem se livrar de cardiopatias, carcinomas, alzheimers, diabetes, hipertensões,derrames, obesidades e outras mazelas que culminam por infernizar a vida da maioria das criaturas, sobreviventes à custa de sofrimentos e angústias inenarráveis. As pessoas, de um modo geral,estão se tornando hipocondríacas: é remédio para dormir, para emagrecer, para livrar dores de cabeça, para intestino preso, para depressão, para labirintites, para síndromes de pânico, para obter ereção e sei mais lá o quê...O homem é aquilo que come (no bom sentido, é claro!). Não residirá aí o problema, a fonte de todos os males? Deixo em aberto a questão, si et in quantum, para livre meditação. Num próximo texto, darei seguimento ao assunto, quando farei denúncias acopladas de análise mais objetiva e controversa da matéria. Entrementes, salud y plata a todos.

sábado, 9 de janeiro de 2010

ELOGIO DA BURRICE


Aqui me tens de regresso. A voragem consumista, neurotizante e configuratória do apagar das luzes do ano velho, me induziu ao voluntário recolhimento. Nesse entreato, até cogitei alinhavar alguma mensagem otimista alusiva à efeméride, ao novo marco que se delineava no horizonte, com ilusórios prenúncios de uma era mais otimista e edificante. Mas logo desisti, desencantado com a miséria atual, com a corrupção, a impunidade, o descalabro, a balbúrdia, os flagelos, a criminosa insegurança e a pasmaceira dos responsáveis. Tudo sob o olhar apassivado, basbaque e indiferente do populacho, no atropelo das compras natalinas! Enquanto os politicóides - eternamente em férias remuneradas - voejavam pelo mundo afora, batendo sua rica plumagem, cercados por nababescas comitivas de camaleões e realizando turismo à custa do aparvalhado povaréu. Essa a razão que me fez calar, ensimesmado, matutando sobre a extensão da burrice humana. Pitigrilli tinha razão quando afirmou só ser possível avaliar a imensidão da estupidez do homem tendo como parâmetro as distâncias interplanetárias! Dizer o quê, quando um imbecil humanóide até se diverte e se entretém ao ouvir o pum de um foguete, que até pode ensurdecer seus auriculares e destroçar seus membros? Ninguém se iluda, iremos de mal a pior. Já disse antes e enfatizo agora, a plebe ignara, analfabeta, entorpecida e anestesiada, é quem escolhe seus governantes. Se isso é democracia, então somos forçados a concluir: é a pior forma de governo! Consequentemente, ficaremos ad infinitum confinados num círculo vicioso. Espertamente,sabem todos, os politiqueiros não têm o menor interêsse em propiciar educação à massa. É curial, o poder econômico elege e reelege essa mesma camarilha, através de trambiques, conchavos, corrupção, sinecuras, tráfico de influência, distorções e toda sorte de medidas enganosas, demagógicas, popularescas e eleitoreiras, tais como bolsa-família e outras maquiavélicas artimanhas, estimulantes do ócio e do atraso. Escrevo e assino em baixo: as próximas eleições constituirão palco de novas traquinagens. Os mesmos safados, patifes, canalhas e energúmenos, serão reconduzidos e entronados nos cargos públicos, para vergonha de toda a nação. Dentre todo espécime que habita a natureza o homem é que assombra pela sua irracionalidade. Ele é maldoso,ferino, insensível, comete crimes hediondos, rouba, maltrata animais e o seu semelhante, e se emporcalha, destruindo a fauna, estupra até familiares e menores indefesos, vive de guerras e aquartelamentos, infernizando a vida terrestre. Entrementes, a soldadesca - servil e apassivada -, e sem mesmo saber por quê, se submete a tresloucados líderes,impotentes e sexualmente frustrados; cega e fanatizada por esses comandos insanos, se abastarda e comete atrocidades, massacrando e torturando pessoas, bombardeando cidades e assassinando legiões de inocentes, num tropel de covardia que não respeita velhos, mulheres e crianças. Diante desse quadro, desse macabro e repulsivo cenário, horroroso e dantesco, dá vontade da gente virar eremita e se recolher às cavernas; para nunca mais ler nem ouvir a torrencial imundície diariamente propalada pelos atrelados corifeus, mentores dos tendenciosos noticiários que atormentam o nosso quotidiano; e culminando por ignorar o nauseabundo e desprezível lodaçal da politicalha reinante. É um salve-se quem puder! Dominus vobiscum...