sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

PRINCÍPIO DO GOZO UNIVERSAL


Falsos moralistas se escandalizaram com a temática do meu livro "Os Seios de Joana" - Contos Eróticos e Picarescos. Desnecessário justificar, pois meu intento era arremeter contra a repressão sexual, imposta pelos ditames de uma religiosidade obtusa que, desde os primórdios, intenta castrar o homem, afrontando seus naturais instintos de sobrevivência e os mais salutares princípios biológicos que regem o universo. A propósito do livro, em meu abono a sábia assertiva do grande Oscar Wilde, ao sentenciar: "Não existem livros morais ou imorais, mas sim livros bem ou mal escritos". Só para espairecer, escrevo hoje sobre amenidades, tangenciando assuntos de cunho metafísico ou contingencial, calcados em abstratas considerações a respeito de coisa nenhuma. Começo com digressões sobre o fadário regedor da destinação, a direcionar nossas conturbadas vidas. Refiro-me às vicissitudes e mais eventos acidentários, atribuíveis a sortilégios ou coincidências. Forçado a admitir, todavia, a existência de algo mais além do que nossa vã filosofia pode alcançar. A passagem terrena é demarcada por flutuações, ora sob o influxo de ventos favoráveis, ora açoitada por temporais. Schopenhauer professava que o fim imediato da existência seria a dor; já Freud propendeu para o chamado “princípio do prazer”, como salvaguarda da satisfação dos carnais anelos. Tal como a lua, todos temos nossas fases de mutação. Daí porque me socorro de José Hernandes, quando colocou na boca do seu legendário Martin Fierro a sábia advertência: “quantas leciones nos trae el tiempo com suas mudanzas!” Eu, atento a essas variantes, me ponho, persignado, no expectante alento de abundantes mananciais. Aferrado, obviamente, à perseverante busca do prazer, tal como intuiu Freud, cônscio de que a vida é curta e a morte é certa. E, como dizia Bukowski, a vida só vale a pena quando se está gozando...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ENCONTRO MARCADO


Insondáveis segredos marcam nossa existência. Séculos atrás, Erasmo de Rotterdam preconizava ser loucura a busca de sensatez num mundo de loucos. Embora afrontando descrenças, acredito em destinação. Nossos rumos estão adrede traçados. Alea jacta est. Martim Fierro já ponderava: “Más sabe el diablo por viejo que por diablo”. Sábia advertência! A vida me ensinou, em várias lições, o mistério que existe por detrás de estranhos eventos. Foram tão enigmáticos, que terminaram por transviar meus caminhos. Coincidências, retrucará o vulgo, atribuindo ao acaso os desvios de itinerário. Recordo de um sábio conselho: se te atrai uma luzinha, segue-a, talvez seja a tua estrela! Superpõe-se aqui a intuição, a faculdade perceptiva de indivíduos mais argutos no perscrutar rotas para seu ancoradouro. Sobreleva o poder imanente a seres privilegiados, aptos a captarem positivas irradiações oriundas de inextricáveis desígnios. Tudo para não ficarem à deriva, açoitados pelos ventos erradios de tempestuosas desilusões. Mas existe o livre arbítrio, outros haverão de obtemperar. Nesse caso, o fadário ficará ao alvedrio de cada um, frente às encruzilhadas da vida. Sabido que, do influxo dessas superiores emanações, sobrevirão sortilégios ou sublime elevação a paradisíacas culminâncias.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

ENSAIO SOBRE O VAZIO


Às vezes, fico a pensar na falta de personalidade dos viventes. Exceções à parte, por que o arremedo instituído como regra nos hábitos e maneirismos? Seremos produtos de fabricação em série? Subprodutos da mesma linha de montagem? Tudo em contraposição ao conceitual de indivíduo, ser que não admite divisão sem perder suas peculiaridades. Juventude aturdida pela omissão dos que deveriam orientá-la com o exemplo da altivez. Geração desgarrada, à mercê de estereotipados modismos, sob a maléfica influência de escusos interesses mercantilistas. Adultos vitimados também pela avalanche propagandista do consumismo exacerbado, matriz da inveja, do desequilíbrio e das dissensões sociais. Procedimentos discrepantes, contrários a uma vida simples, desapegada das emulações e encarniçadas lutas pelas ilusórias posses materiais. A felicidade, bem inatingível mas sempre buscado, estaria - quem sabe? -no desprendimento, na desambição, no convívio fraternal, amigo e desinteressado com os semelhantes. Verdade incontestável cujo axioma só haverá de ser revelado ao ente humano na fase terminal da existência. É quando haverá de se questionar, in extremis, de que lhe valeram os ouropéis mais belos, as glórias efêmeras, a vã matéria, tudo em vias de reversão ao pó da mais insólita vacuidade?...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

LIÇÃO DE VIDA


“O homem de coração alegre tem um banquete contínuo”. Necessário entender a profundidade dessa proposição. A vida é uma arte, cujas regras a maioria desconhece. Hay que saber vivir, como dizem os castelhanos. Não basta ser amigo, comunicativo e galhofeiro. Filosofia de vida, normas de conduta, inteligência, espiritualidade e requintado gosto, são os pressupostos. Conheci alguém assim, mais velho, de saudosa memória. Escreveu livro, compôs músicas, plantou árvores, teve filhos e ficou viúvo em idade provecta. Não obstante, manteve a flama, o vigor e o viço da juventude até avançada idade. Era boêmio, apreciador da boa mesa, dos capitosos vinhos e das belas mulheres.Diferença de idade impediu nossa estreita convivência. Certa feita, num dos noturnais encontros, indaguei-lhe sobre o segredo da sua eterna mocidade. No bar, ladeado por uma deusa, respondeu-me: olha, Jayme, a fórmula é simples, de fácil aplicação. Basta dormir durante o dia, desligado de todos os instrumentos de pressão que envolvem o quotidiano, os ruídos, o trânsito, as máquinas, as futricas e emulações. Despertar à noite, quando cessa a agitação, um bom repasto e partir para as poéticas madrugadas, sob o acalanto de lindas melodias, no aconchego de sedutoras fêmeas. Assunto para nova crônica...

ENTERRO DA ÚLTIMA QUIMERA


Sou sentimental, dos últimos românticos. Quintana dizia desconfiar de quem não fuma. Fumar, para ele, seria uma forma disfarçada de suspirar... Especiosa metáfora! Faz tempo já larguei do vício, senão estaria morto. Bogart, renomado ator, apregoava que a humanidade estaria duas doses de uísque retardada. Outro, afirmava que beber tornaria os outros interessantes! Parafraseando Augusto dos Anjos, hoje assistimos ao enterro da última quimera, - o romantismo. Em soterramento, estão: a boemia, o lânguido erotismo, as canções inspiradas em lirismos poéticos e plangentes violões. Agora, predominam as bandas, o gritedo, o rocambolesco e a ridicularia dos saracoteios. Próprios de uma população obscurecida pelo atraso, que só beneficia os demagogos e apaniguados concessionários das poderosas cadeias de comunicação. Daí porque lastimo o vazio de corações empedernidos, a massificação da juventude, em cujas mentes, em formação, é inculcada a idolatria a estrangeirismos e caipiradas, de baixa categoria, fomentados por sórdidos interesses mercantis. Bendigo um passado risonho, de noites enluaradas, impregnado de sensibilidade, de romanticismo e encantamento, de par com a sublime deificação da mulher, tal como idealizada em sonhos e quiméricos devaneios...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

BRASIL, PAÍS DO FURO


Chove lá fora. Tarde propícia para escrevinhar alguma coisa. Mas, para quem? Meia dúzia, se tanto, de leitores. Brasil, país do fu..ro (sem o "t" e o "u"), quer dizer, do furo de bala!Povo iletrado, maioria analfabeta, obcecada pela macaquice do "big brother", do futebol, carnaval, drogas e jogatina. Massa inculta, que não lê,dependente das futricas, parvoíces e frivolidades dos tais de twitter e face-book. Gente que poderia preencher esse vazio, esse desperdício de tempo, em horas de estudo, leitura e trabalho. Mas qual! Sua preferência recai sobre a estultícia que lhe é inculcada, diariamente, de forma velada e sub-reptícia, pelas famigeradas Globo, Rbs e mais tentáculos das enormes cadeias concessionárias, todas voltadas para a massificação da plebe. E tome campeonatos disso e daquilo, todos os dias, balípodo, ping-pong, tênis, natação, arremesso de cuspe, sei mais lá o quê... Como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Quem ganhou? quem chegou primeiro? Grande coisa!E as horrorosas e pervertidas novelas? E os sensacionalistas e sangrentos noticiários da Record e Sbt? E o idiotismo, o besteirol dos enlatados filmecos americanófilos da Net e da Sky, plenos de repetecos, comédias sem graça, recheados de calhordice, mortandade, trombadas de carros, vampirismo, assaltos a bancos, gangsterismo e imbecilidades de toda sorte... E o popularesco, o baixo nível, o barbaresco da programação da televisão aberta? E a crise, o achincalhe, o desvio de verbas, a miséria em que se afunda uma nação atolada no lamaçal da corrupção e impunidade dos seus maquiavélicos e demagogos representantes? E a insegurança de uma população desguarnecida, desarmada, à mercê da sanha dos drogados criminosos, enclausurada, trancafiada atrás de grades, muros e cercas eletrificadas,apavorada e com medo de sair à ruas, à falta de policiamento e recursos mínimos de aparelhagem do Estado , com suas finanças sucatadas? Mata-se por qualquer coisa, já virou rotina, ninguém se importa, os assassinos impunes. Ah, mas o Ronalducho pendurou as chuteiras, assunto prioritário, em cadeias de rádio e TV... E a imundície, a fedentina de ruas infestadas de lixo,carentes de saneamento básico, praias com esgotos a céu aberto, mares poluídos e veranistas chafurdando nos seus próprios excrementos, sem noções mínimas das mais primárias normas de higidez e respeito à natureza? Realmente, "nunca dantes na história deste país" houve tamanha pobreza, politicalha, ignorância, incompetência e falta de brasilidade!