terça-feira, 21 de agosto de 2012

CASTELOS DE AREIA





Tal qual o corpo, a alma tem seus caprichos. Fulano, enamorado, via seu coração disparar toda vez que a moça passava, entornando graça e sensualidade pelas calçadas. Formosa, lindos cabelos ondeando como trigais ao vento. Em louca fantasia, a mente dele vagueava pela sinuosidade daquelas curvas, percorrendo lascivos contornos, em febris anseios. Sofria, contudo, pela indiferença da sua deusa! Nem sequer um furtivo olhar! Passam-se os meses. Ele ainda sonhando com promissor romance. Solitário, aquele homem não vislumbrava nenhum futuro que não fosse ao lado da mulher amada. Certo dia, ela o encarou por primeira vez, esboçando sorriso tênue. Foi como se o mundo desabasse! Trêmulo, sentiu renascerem esperanças já desvanecidas. Sua timidez rendeu noites de vigília, decorando frases para o temerário assédio. Premunido de coragem, gaguejante, ele foi à luta e por fim se declarou. Ela correspondeu! Novos encontros se sucederam. Agora, no auge da paixão, ambos estão enredados no amoroso enlevo de ardentes arroubos pecaminosos. Casaram. Decorridos alguns anos, o apoteótico final do arrebatador enlace: sexo uma vez por mês, obrigacional; dois filhos rebeldes, drogados; ela obesa, fixada em novelas; ele pançudo, fanático por futebol. Divórcio à vista, a tábua de salvação!



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