quinta-feira, 9 de setembro de 2010

PÉROLAS DE LUZ


PÉROLAS DE LUZ

Recorte de tango arrabalero:”?Quién se robó mi niñez?” Onde ficaram os alegres tempos de outrora ? Recordar é viver,dizem. Poetas acenam: a vida é uma viagem. Mentira risonha insinuando regresso, passagem ida e volta. Consola reviver dias felizes na cidadezinha onde nasci. Manhãs de cigarras cantando, campos verdejantes, banhos de sanga, em pêlo! Meio-dia, a velha estação repleta de gente alvoroçada. Trem resfolegante, silvos agudos prenunciando a chegada - quem sabe? - da mulher amada. Tardezita, casais de mãos dadas. Os cafés, garçons apondo mesinhas no leito da rua. Bebentes à espreita das donzelas. Flertes, românticos idílios. Noite de lua, cravejada de vagalumes. Cinema antigo, som para a rua, tangos de Gardel, serestas com Orlando Silva, sirene convocando cinéfilos. Depois, uma aportada na zona - porque não? - para milonguear com as percantas.E os bailes? Ah! Que saudade! Boleros, casais agarradinhos na penumbra, ao embalo de melodias imortais. Pausa. Tenebroso apito da locomotiva! O trem chega ao seu destino. Escuridão, gare deserta, ninguém à espera... Não existe volta! Absorto em pensamentos encaro a realidade: o redespertar de quimérico sonho, alma sangrando em mim, a cristalizar pérolas de luz moldadas na nostálgica saudade de um passado que ficou eternizado na lembrança!

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