sexta-feira, 23 de outubro de 2009

PÃO E CIRCO PARA A PATULÉIA


Além fronteiras, o Brasil só é conhecido como o País do futebol e do carnaval. Triste sina! Carnaval o ano inteiro, especialmente nos Estados mais depauperados, a plebe anestesiada e a rebolar, em ritmos alucinantes, afogueada pelo trago, em febrís assomos de sensualidade, esquecendo e mascarando a penúria e a barbárie do ano inteiro.E tome carradas de futebol todos os dias. Rádios, jornais, televisões, enfim todos os órgãos de difusão, atrelados ao poder dominante, a fazer coro, alardear, tonitroar, veicular e enfatizar a prioridade dos embates futebolísticos, como se tais disputas fossem a coisa mais importante do mundo.Nesse particular, são páginas inteiras de notícias, transmissões,narrativas e intermináveis comentários, em doses maciças e cavalares, durante todas as horas do dia, em altíssimos decibéis, atordoando os nossos pobres ouvidos. Locutores esportivos a berrarem, em uníssono, quais porcos agonizantes, fanatizando a ignara plebe e endeusando ídolos de barro, cujas entrevistas desnudam, em maioria, o seu despreparo, mercantilismo e ignorância.Será que eles pensam que somos surdos? Entorpecida a massa e consumada essa deplorável catequese, pela torrente de emulações clubísticas forjadas, não têm pejo, esses mesmos arcanjos da incultura, de a posteriori criticarem as criminosas torcidas organizadas, as depredações, as brigas, os morticínios e os crimes provocados pela cegueira das paixões, que eles próprios ardorosamente cacarejam e fomentam. Entrementes, o povaréu, semi-analfabeto, se queda embuçalado, alienado e indiferente aos relevantes assuntos de ordem social e político-administrativos que afligem a nação. Valendo-me de propositada metáfora,imaginemos o circo montado com o populacho embasbacado nas arquibancadas, assistindo aos conhecidos vendilhões e eternos titulares de escol - fina flôr da molecagem - entrarem no campo e a se esparramar nos gramados, entre acrobáticos dribles, negaceios e filigranas, nos figurativos palcos dos estádios, sempre travestidos com os multivários uniformes da barganha e das imorais associações, cambalachos e arreglos partidários. Mas, sic et in quantum, a pátria está salva, salve, salve: afinal, vamos sediar a copa do mundo e as olimpíadas! E o Presidente chorou com a conquista desses galardões! Mas nunca antes na história deste governo, nenhuma lágrima dele rolou à vista dos moribundos desassistidos nos corredores dos hospitais, pelo infortúnio reinante, pela criminalidade, pelas doenças infecto-contagiosas, pela falta de leito nos nosocômios, pelos alarmantes índices de mortalidade infantil, pela falta de verbas e carência dos mais elementares recursos de ordem material e humana! De outra parte, vultosas verbas governamentais já são comprometidas, envolvendo bilhões sob confisco do dinheiro público, a serem carreadas para a montagem desse novo circo de burlantims. Enquanto a saúde, a educação, a segurança, a droga, o crime, o tráfico e o contrabando de armas - todas essas mazelas nacionais - continuarão a fazer tremular bem alto a bandeira brasileira, ostentando o nosso magnífico título internacional de campeões da miséria, do opróbrio e da falta de vergonha...

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