quinta-feira, 25 de agosto de 2011

TARDE GRIS


Abomino a invernia! Debandei do pago, como retirante em fuga, banido pela inclemência do clima, dos dias invernosos, sombrios e acinzentados. Belíssimo tango emoldura esse cenário, num lacrimoso e nostálgico recorte: “Qué ganas de llorar en esta tarde gris...” Maior o frio, mais se encolhem as criaturas, fungando, encorujadas nos seus tugúrios, em depressivo recolhimento. Ruas desertas, bares e restaurantes vazios, a natureza silente e apassivada, em recesso! Tempos de hibernação, a dormitar feito ursos, à espreita do verão. Só gostam dessa gelidez os que desapreciam os belos contornos feminis: na frialdade, as mulheres sonegam ao visual sua maciez de pele e curvilíneas formas, ocultas debaixo de lãs e casacões! Quando resplandece o sol, na tepidez dos trópicos, tudo é festa, estuante é o amor, ao despertar de ardências e febris desejos, em exaltações ao renascer da vida. Cariocas e nordestinos são admirados pelo bom humor. E nós, aqui do Sul, pela introspecção e belicosidade. Mas nem tudo está perdido: resta-nos o consolo da gastronomia farta, da opulência das massas, dos saborosos queijos e capitosos vinhos. Tudo ao calor de crepitantes chamas nas lareiras, cujas labaredas nos mantêm reflexivos, a filosofar sobre as lições que nos traz o tempo com suas mudanças.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois eu gosto de dias frios, do barulho do vento, dos pingos da chuva descendo pelo vidro da janela,quando os pensamentos voam...
Do silêncio e aconchego da noite, quando as pessoas curtem sua casa, o edredon quentinho, o filme na TV e o vinho!
Gosto de sentir o cheiro do ar, depois que a chuva passa e tudo brilha, como se a cidade tivesse tomado banho e deixado o céu muito azul. Gosto de ver meus cães e gatos enrolados embaixo do cobertor, escondendo seus focinhos gelados.
É bom vestir um blusão de lã macio, botas elegantes, comer pipoca na Redenção e "lagartear" ao sol.
Toda a estação tem seus encantos!
Mas, quando chegar a euforia do verão, momento em que parece que todos estão no cio,vou sentir saudade destas calmas madrugadas do inverno ... Abraço. Vanilda

jaymecpiva disse...

Obrigado, Vanilda, pelo belo comentário, que muito me honra.

Louvo teus dotes de escritora, as colocações inspiradas e poéticas, que fazem jus à tua inteligência. Não obstante, recebidos aqui tais escritos em tempo de frialdade, chuvaradas e ventarrões que enfeiam as decantadas paisagens desta ilha da magia, convidando à solidão e recolhimento. Oportuno lembrar que tais flagelos são originários aí do nosso Rio Grande, chegando - ainda bem - já atenuados aqui no Estado catarinense. Não é preciso dizer que esse depressivo e cinzento cenário hibernal se contrapõe, de per si, aos fundamentos do texto e razões argutamente delineadas por ti. Daí porque me atrevo a reafirmar a magnitude do sol, do calor e do brilho que resplandece nos olhos do belo sexo , cuja sensualidade se acentua nas vestes transparentes e libertas das lãs, casacões, botas e mais apetrechos que ocultam suas curvilíneas formas..Sem esquecer, também, que é graças ao cio e atrações de pelos e peles, estuantes na primavera e calidez dos trópicos, que aqui estamos nós, nascidos por obra e graça dos naturais estímulos e chamamentos da mãe natureza. Sustento que calor é vida e frio é morte. Noites de verão, luares, luz e claridade solar são benéficas fontes de alegria, conducentes ao riso, festas, passeios e comemorações. Encolhidos debaixo do frio hibernal, somos
sobreviventes, reaquecidos pelo vinho, lareira e, acima de tudo, pelo cobertor de orelha...

Volta sempre. Afetuoso abraço.

Jayme