quinta-feira, 13 de setembro de 2012

ORAÇÃO AO AMIGO AUSENTE





Chove lá fora. Tarde fria e cinzenta! Pingos escorrem na vidraça, parecendo lágrimas vertidas pela evasão do amigo para ignotas plagas. Vai-se, com ele, uma parte da gente. Ganas de chorar, porque a passagem ocorre sem despedida. Sobrevêm a culpa pelo tempo desperdiçado em tão curta convivência. Alma sangrando, sob o torturante impacto emocional! A parca não avisa quando vem! Por que, pergunto eu, no oportuno tempo não proclamei a importância do nosso vínculo afetivo? Frente ao vazio que se escancara, só então me aturde o remorso pela incúria. E é na solidão, no agônico estertor da penitência, ensombrado pelo lento perpassar das horas, que me dou conta do efêmero da vida. É quando, revoltado, em assomos de indignação, blasfemo: Deus, por que tanto amargor? Por que o castigo da perda, após a dádiva da amizade? Senhor, todo poderoso, que é só luz e bondade... por quê? Oh céus! Por quê?! Aferro-me a triste consolo: lá, nas distantes esferas, há de existir mais vida! O prematuro chamamento de quem iluminou nossa existência, terá sido - quem sabe? - para alento dos que já foram. Trazendo-nos como prêmio, talvez, no futuro, o esperado reencontro em celestiais planuras, nos umbrais de outras paragens, para o eternal abraço e o deslumbrante renascer espiritual nos etéreos páramos do além...

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