terça-feira, 29 de março de 2011

A CIÊNCIA DE VIVER


“O inferno são os outros”, advertia Sartre. Assertiva profunda, de longo alcance. Imprevisível o ser humano nas suas reações comportamentais. O homem já não morre de infecções, mas de ira e desgostos. As neuroses são influenciadas pelas emoções. Difícil o ponto de equilíbrio: seremos felizes na medida em que soubermos esquecer. É preciso deixar de lado melindres e suscetibilidades, agindo com tolerância, habilidade e diplomacia no trato das incompreensões. Cada um tem seus projetos, os conflitos surgem quando eles se sobrepõem. A convivência é necessária até como referencial da essência do ser, da percepção daquilo que se é representado, tal com refletido nos olhos dos outros. Disparo do alarme e sinal de alerta para os incautos: vita brevis! Tendo isso presente, de nada servem as desavenças, os conflitos e malquerenças por motivos fúteis, ferindo o emocional dos semelhantes. É preciso cautela para não magoar e consciência para que prospere a concórdia. Livres dos caprichos e veleidades que só danos acarretam ao mundo espiritual e corpóreo, entravando o salutar convívio, fonte benfazeja da fraternidade universal. Sem esquecer, jamais, que a ninguém é dado ser feliz sozinho ou guardando ressentimentos. E que alegrias compartilhadas serão sempre venturas redobradas!

quarta-feira, 16 de março de 2011

DE PROFUNDIS


Do Ramayama, poema épico hindu, extrai-se assertiva merecedora de difusão: “nem todo ouro do mundo, nem todo o trigo, nem todas as mulheres são bastantes para um só homem; lembra-te e resigna-te”.Quanta profundidade nessa advertência! O tema daria para elucubrações meditativas sobre as causas das inquietudes e frustrações. Felicidade não se coaduna com a aquisição de bens ou conquistas. A contrario sensu, o caminho estaria em sermos livres, sem desejar, desapegados das coisas efêmeras. Filosofia de arrabalde, dirão céticos obcecados em posses e ascensão social. Liberdade é o supremo bem, embora inatingível. Consiste na capacidade de escolhas, que são entravadas pelas leis, pelo próximo ou pelos amores. É incompatível com paixões, politicagem e fanatismos, que escravizam. Nietzsche, com sabedoria, sentenciou: onde começa o Estado, aí termina o indivíduo. Verdade incontestável. É o poder público a atropelar a vida privada dos cidadãos, com seus tentáculos, através de excrescências em forma de tributos, normas, medidas provisórias e decretos, imiscuindo-se até na esfera da sexualidade e no relacionamento familiar. Estranhável ainda exista quem compactue com a corrupção, a impunidade e a censura velada, acobertadas pelo o diáfano manto da demagogia...

quarta-feira, 9 de março de 2011

A CIÊNCIA DA BURRICE


Borges dizia não se importar com política, despegado de motivação; Vargas Llosa defende o engajamento do escritor nas questões sociais. A maioria nada entende disso, menos ainda alguns políticóides. O escritor não deve ficar adstrito a assuntos do quotidiano, mas sim livre para levantar âncora e mergulhar em profundidades, na busca persecutória de temas abrangentes, mesclando elegância no fraseado e apuro na temática. Entre vôos e rasantes, há de se abeberar em filosofias, com eventuais incursões em temas da atualidade. A beleza da escrita está na lapidação da frase, no garimpo da palavra certa, na musicalidade da prosa, pinçando verbos e colorindo sentenças. Para isso, é preciso ler, consultar dicionários, trazendo nos ombros algum pó das bibliotecas. Em sintonia com o pensamento de Rui Barbosa, ao sentenciar que o valor de um homem mede-se das sobrancelhas para cima. Mas Rui também disse que há tantos burros mandando em homens inteligentes, que ele receava ser a burrice uma ciência. E eu, perdido na vastidão oceânica dessa burragem, desconfio que a luz de certos olhos verdes seja um farol a iluminar minha vida, reacendendo em mim a esperança pela erradicação da deletéria ignorância

sexta-feira, 4 de março de 2011

CASTRAÇÃO MENTAL




Pobre nação, em cujo solo prepondera o interesse de uma casta, em contraponto à maioria dos seus habitantes. Pregar no deserto é falar em controle da natalidade, num País onde viceja a multiplicação de gente paupérrima, a se reproduzir feito ratazanas. Tudo porque anacrônicas e obtusas crenças religiosas a tanto se opõem. Assim como governantes e legisladores, conluiados numa conivente omissão, sabido que o enquadre do problema há de lhes trazer desprestígio político e nenhum dividendo eleitoral. Enquanto isso, o crime se alastra! Num hediondo cortejo de fome e miséria, acoplado a uma amálgama de doenças e mazelas a recair sobre uma população empobrecida, que sucumbe à míngua de recursos mínimos para sua sobrevivência. O índice de mortalidade infantil se equipara ao dos povos mais atrasados do mundo! É uma hecatombe nacional, para nosso opróbrio e vergonha, a falta de segurança, de educação, de assistência médico-hospitalar e saneamento básico, com os subprodutos do flagelo e destruição da fauna. Os responsáveis por tais descalabros se esmeram em pastorear seu amestrado rebanho, que é o povo, fazendo-o marchar, em melífluos balidos, rumo à sua final tosquia e castração. Inconseqüentes, não passam eles de reles espertalhões, a se apascentar da desgraça alheia, cevando-se nessa ignominiosa torpeza.