segunda-feira, 2 de maio de 2011

NO TEATRO DA VIDA


Abre-se a cortina, novo cenário. Palco iluminado, personagens controvertidas, encenando peças que a vida prega. Valho-me da verve e da genialidade de Nelson Rodrigues. Numa das suas notáveis crônicas sobre os costumes, narrava o prosaico viver de um chefe de família, devotado trabalhador. Tão apegado ao trabalho que levantava às 4:00 hs da matina, todos os dias, tomava banho e se engravatava, seguindo, impávido, para o emprego. Às amigas, a esposa não se cansava de elogiar a dedicação do marido. Porém, segundo o relato rodrigueano, aquele diligente trabalhador não rumava para o emprego, mas sim para famigerado cabaré da zona, onde as percantas bailavam até o amanhecer. Lá chegando, fim de noite, perfumoso, bem barbeado e vestido com aprumo, era requestado pelas mais belas mulheres, sobrepujando os demais varões, babujantes, alcoolizados e cheirando a cigarro. Lição de vida como ela é! Caso típico de dupla personalidade e de falsas aparências, textualizado em nova montagem. Versejando, já sustentei: livre dos grilhões ferinos, liberto dos sociais enleios, o homem anseia por se desvencilhar do massacre da rotina e do dever nefando. Acertado - quem sabe? - estaria Oscar Wilde, ao afiançar que não se deve resistir às tentações, pois pode ser que elas não voltem...

4 comentários:

Anônimo disse...

Dr.Piva: O Teatro da Vida encena peças onde muitas vezes se olha só o lado de um ator. Esse "cidadão acima de qualquer suspeita", vivia feliz com sua dupla personalidade! E a massacrante rotina de casa da sua esposa? Como ela faria para "resistir às tentações que, com certeza, nunca iria experimentar? Já comentei isso em 2010 no texto "Esses Moços". Por que o homem quando fala ou escreve só vê o lado masculino do fato ? Será machismo?
P.S. Não gostei da foto! Animais são seres iluminados que nos dão muitas lições de vida como lealdade e amor incondicional. Merecem respeito, não podem ser usados como divertimento, vestidos de gente, insinuando que participariam dos vícios dos ditos "humanos". Eles são selvagens por natureza, apesar da constante necessidade de poder que o homem demonstra ao sempre querer domesticá-los. Nunca se deixariam iludir pelas mazelas da vida como uma garrafa de cerveja.
Desculpe, mas amo animais ! Abraço. Vanilda

jaymepiva.blogspot.com disse...

Vanilda:Teatro é teatro e a vida prega peças inusitadas, que fogem do trivial e do rotineiro. O questionado texto do blog é a transcrição de uma da crônicas que escrevo, semanalmente, no jornal Expresso Ilustrado, da minha cidade natal. Entendo que o cronista não deve se ater só à realidade do quotidiano. Deve, também, realizar uma miscelânea de dramaturgia, entremeada com pitadas de glosa e bom humor, alternando enfoques, para não saturar leitores. Por isso, não deves levar muito a sério o que escrevo. Machismo? Trago dele alguns resquícios, arraigados em mim, oriundos lá do meu berço fronteiriço. Válidos, ainda, frente ao atual predomínio do matriarcado, as mulheres tomando as rédeas (inclusiva da nação), soberanas de todas as vontades, maridos submissos, via de regra desmoralizados. Quanto à foto, reputo ilustrativa e engraçada, sem esquecer a temática do teatro, afiigurando-se oportuno fantasiar a respeito. Ressalvo que tenho o maior respeito pelos animais, até considero muitos deles melhores do que gente. Tenho uma cachorrinha, chamada Lili, com quem converso diariamente, que é minha amiga e companheira. E acho muito bom que cachorros não bebam cerveja, pois assim mais sobra para mim o precioso líquido...
Afetuoso abraço. Jayme

Anônimo disse...

Jayme:Se consideras a foto "engraçada" não tenho mais argumentos sobre o tema "respeito aos animais". Mas, concordo contigo, muitíssimos são bem melhores que gente.
Não tive a pretensão de questionar tuas palavras, mesmo porque não tenho capacidade pra isso, só penso que se o "teatro imita a vida", seria interessante, de vez em quando, mudar o enfoque e mostrar o lado da mulher até para, como dissestes, "não saturar leitores".
Ainda, quando leio uma crônica, poesia,livro, textos ... costumo levar a sério, pois nas entrelinhas sempre aparece um pouco do sentimento e emoção de quem escreve, principalmente se for de um amigo.
Abraço e, com todo o respeito, lambidas das minhas duas cachorrinhas e das três gatas. Vanilda

jaymepiva.blogspot.com disse...

Vanilda, grato pelo novo comentário. Tens razão, nas entrelinhas de quem escreve há sempre algo de autobiográfico. Esse era o pensamento de Borges, maior literato argentino. Agradeço e retribuo as lambidas das duas cachorrinhas e das três gatas. Só um reparo: melhor seria das quatro gatas... (releva a brincadeira).
Jayme