quinta-feira, 27 de outubro de 2011
TANGENCIANDO VERDADES
Folga para críticas à politicagem, corrupção e desgovernos. Embora reine o caos no País da impunidade! Ineficazes os libelos, a revolta e a indignação. A ovelha perde o pêlo mas não perde o vício. Volto-me para amenidades, saudando o despertar da natureza e o reflorescer primaveril. Revivo o bucolismo das cidades interioranas, seus costumes provincianos, a vida transcorrendo tranquila, a despacito no más! Casais enamorados, beijos roubados ao entardecer. Sexo com as donzelas nem pensar! Quando muito, mãos trêmulas acariciando seios alabastrinos. Temor do “casamento na polícia”, o cristão, estremunhado, levado ao sacrifício, em holocausto pelo abuso praticado. Resquícios da repressão sexual, verdadeiro agravo aos sadios princípios biológicos, fator determinante das neuroses e mais enfermidades da alma e do corpo. Daí porque julgo oportuno trazer à baila pertinentes considerações feitas pelo prefaciador do meu livro “Os Seios de Joana”, a propósito dos preconceitos sexuais e da falsa moralidade ainda predominantes: azar, dizia ele, dos que são lerdos ou não gostam de sexo, pois a dinâmica da vida não perdoa os que dormem (sozinhos). Ao socorrer-se de Oscar Wilde, admoestava, por fim, que não se deve resistir às tentações, pois pode ser que elas não voltem...
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
TIEMPOS VIEJOS
Lembro do Santiago antigo, terra dos meus amores! Verão, tempos de cadeiras nas calçadas, portas e janelas escancaradas, noites de enlevo e feitiçaria, sob o céu mais estrelejado que alguém já viu. Lua cheia clareando o pago, bandos de vagalumes cintilando ao derredor, prosas intermináveis, brincadeiras de roda, alarido de crianças. Invernias também, com o Minuano soprando nas frinchas, cinema à noite, cafés apinhados de gente, o conhaque rolando para aquecer macetas. E os idílicos romances de então? A saída da missa das dez, flertes, passeios na avenida, casais de mãos dadas; a música romântica, os bailes, a poesia do bolero antigo, pares revoluteando, agarradinhos, a segredar ternuras, murmurando afetos... Pausa! Cai o pano. Outro cenário agora: era um tempo de serenatas, paixões abrasadoras, tresloucados sonhos! Fins de afogar as mágoas, fugidias incursões à zona, para milonguear com as percantas. Ah! o fetiche daquelas noites de antanho! As ruelas lamacentas, a chuva miúda caindo, caindo de mansinho, a molhar fartas melenas. O compasso arrabalero do tango excitando carnes e acerbando anelos; e o trago, o velho trago de sempre, ao aconchego da china, beijo cheirando a cerveja e a dulçura, o recuerdo de um mundo encantado, que, talvez, nunca mais, ninguém veja...
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
NOS ESCANINHOS DA MENTE
Sabido que o passado condena, expiando culpas! No tribunal das consciências, acontecimentos passados não se furtam de sofrer julgamentos. De maneira intermitente, assomam à memória fatos que turvam o quotidiano, sentenciados por decisões irrecorríveis. Negativas lembranças obscurecem a serenidade do espírito, dando lugar a remorsos e contrições, acinzentando dias que deveriam ser ensolarados. Daí porque, volta e meia, nos penitenciamos através de questionamentos e indagações: por que não convivemos melhor com afetos que nos deixaram? Por que não nos dedicamos mais a amigos necessitados, que ficaram na saudade? Por que, desagradecidos, mal retribuímos o zelo das atenções e benesses recebidas? Por que, finalmente, não desviamos de rotas que nos levaram a tortuosos descaminhos? São tardias perguntas que se nos afligem, desnudando os despropósitos de então, nossa imaturidade e o vazio existencial. Dessas reflexões, deflui uma inarredável conclusão: somos, inexoravelmente, vítimas de pesarosos recuerdos que se avolumam em torvelinho, toldando nossa felicidade com a amargura do intempestivo retrospecto vivencial. Recordar, então, não seria viver; mas sim debater-se em tormentosos pesadelos, naufragados todos em oceânicas agonias, arrependimentos, desilusões...
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
NO PICADEIRO DA VIDA
Geração desnorteada. Pais deveriam educar pela força do exemplo. Tempos houve em que faziam sacrifício pelos filhos! Hoje, com recursos da cosmética, cirurgias plásticas e maior longevidade, mudaram os hábitos. Mães, outrora havidas como decrépitas vovós, hoje pavoneiam nos shoppings e baladas, na ilusão de preservar uma juventude esmaecida. E os maridos, coniventes com a prática de enganar a marcha do tempo, são coadjuvantes nessa peça encenada nos palcos da vida. Invocável o “ridendo castigat mores”, frase de Molière, para glosa desse tragicômico cenário. Só pelo riso poderiam ser castigados os costumes do borboleteio feminil! Atualíssima a velha recomendação: nunca assobie para a mulher que está saindo do salão de beleza, pode ser a sua avó! Para o bem da harmonia do lar, válido romper as maneias que apresilham os vitimados pelo voejar das madames. “De repente, livre dos grilhões ferinos/e assim liberto dos sociais enleios, /pode o homem, entoando hinos, refocilar-se à toa, em devaneios...”, antigos versos meus, trazidos à colação. Mesmo pagando alto preço pela liberdade, incumbiria ao varão, qual Quixote hodierno, de lança em riste, arremeter contra os femíneos descaminhos, fazendo prevalecer a voz da razão, para resguardo dos sagrados liames familiares.
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