quinta-feira, 20 de outubro de 2011

TIEMPOS VIEJOS


Lembro do Santiago antigo, terra dos meus amores! Verão, tempos de cadeiras nas calçadas, portas e janelas escancaradas, noites de enlevo e feitiçaria, sob o céu mais estrelejado que alguém já viu. Lua cheia clareando o pago, bandos de vagalumes cintilando ao derredor, prosas intermináveis, brincadeiras de roda, alarido de crianças. Invernias também, com o Minuano soprando nas frinchas, cinema à noite, cafés apinhados de gente, o conhaque rolando para aquecer macetas. E os idílicos romances de então? A saída da missa das dez, flertes, passeios na avenida, casais de mãos dadas; a música romântica, os bailes, a poesia do bolero antigo, pares revoluteando, agarradinhos, a segredar ternuras, murmurando afetos... Pausa! Cai o pano. Outro cenário agora: era um tempo de serenatas, paixões abrasadoras, tresloucados sonhos! Fins de afogar as mágoas, fugidias incursões à zona, para milonguear com as percantas. Ah! o fetiche daquelas noites de antanho! As ruelas lamacentas, a chuva miúda caindo, caindo de mansinho, a molhar fartas melenas. O compasso arrabalero do tango excitando carnes e acerbando anelos; e o trago, o velho trago de sempre, ao aconchego da china, beijo cheirando a cerveja e a dulçura, o recuerdo de um mundo encantado, que, talvez, nunca mais, ninguém veja...

Nenhum comentário: